domingo, 18 de dezembro de 2016

AMIGOS DE CALÇAS CURTAS

       

Benedito Buzar

Concluído o curso primário no Grupo Escolar Gomes de Souza, em Itapeecuru, vim estudar em São Luis, no Colégio dos Irmãos Maristas, que começava a funcionar em novas instalações, na Rua Oswaldo Cruz.

Naquele elitizado estabelecimento de ensino, cheguei em 1950, onde conheci João Castelo Ribeiro Gonçalves, à época, eu e ele, de calças curtas. Lembro-me que era um garoto gordinho e bem aplicado, mas sem figurar entre os mais estudiosos da classe. Eu, também, fazia parte desse time.

Nos três anos de estudo nos Maristas, eu e Castelo sempre fomos da mesma turma. A partir de 1953, troquei os Maristas pelo Liceu Maranhense, ano em que perdi Castelo de vista. Só voltei a revê-lo no final dos anos 1960, ele em atividade profissional no Banco da Amazônia, cujo corpo funcional era constituído da fina flor da juventude maranhense. Como bancário, teve trajetória fulgurante. Ocupou o cargo de gerente do BASA em Coroatá, Codó e São Luis e chega a presidi-lo.

Na agência da capital maranhense, Castelo multiplica o seu capital profissional e diversifica o círculo de amizade, especialmente com  empresários e políticos. Da convivência com políticos, aproxima-se do senador José Sarney, com o qual formaliza uma estreita relação de amizade, a ponto de se tornarem compadres.

Pelas mãos de Sarney, Castelo ingressa na atividade política, concorrendo às eleições de 1970 ao cargo de deputado federal, pela Arena, elegendo-se com expressiva votação. Reelege-se em 1974, mandato no qual é convocado para ocupar o cargo mais importante de sua trajetória política.

CASTELO NO GOVERNO DO ESTADO

Por imposição do regime militar, as eleições aos governos estaduais, a partir de 1970, passaram a ser indiretas. O primeiro governador eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa foi Pedro Neiva, cuja sucessão é tumultuada face ao rompimento do governador com o senador José Sarney e da volta à cena política do ex-senador Vitorino Freire, que cria embaraços na indicação de nomes para governar o Estado. Resultado: o poder acaba no colo do deputado Nunes Freire, que, também, termina o mandato rompido com Sarney, este, o mais cotado para substituí-lo, mas fica fora do páreo pela forte influência de Vitorino no Palácio do Planalto. Mesmo alijado do governo, Sarney tem cacife para indicar o sucessor de Nunes Freire, o fiel escudeiro, deputado João Castelo Ribeiro Gonçalves.

A GESTÃO CASTELISTA

À frente da administração estadual, Castelo não esconde o desejo de fazer um governo como o de Sarney, isto é, voltado para o planejamento e o desenvolvimento do Estado. Não à toa, adota o slogan de  “Um grande Maranhão para todos” a sombra do qual  forma um bom secretariado, com técnicos do Banco da Amazônia e de instituições governamentais. Na Agricultura, Luis Varela, Administração,  Antônio Fernando Carvalho, Planejamento, João Rebelo, Educação, Antônio Carlos Beckman, Fazenda, Antônio José Brito, Indústria e Comércio, Roberto Macieira, Trabalho, Fernando Castro, Saúde, José Rodrigues Lopes, Justiça, Roque Macatrão, Segurança, Raimundo Marques, Meio Ambiente, Darson  Duarte, Transportes, João Rodolfo, Interior, Wilson Neiva, Cultura, Arlete Machado, Desportos e Lazer, Elir Gomes, tendo o capacitado José Burnett, como Chefe da Casa Civil.

Com esse time de boa qualidade técnica e política, Castelo realiza bom trabalho e faz obras de significativa relevância, a exemplo do Italuis, Hospital Carlos Macieira, Universidade Estadual do Maranhão, Casa do Trabalhador, Ponte Bandeira Tribuzi, Cidade Operária, Programa Bom Preço e o Estádio Castelão.

Mas um deslize o conduziu ao pelourinho: em setembro de 1979, os estudantes foram às ruas reivindicar o cumprimento de antiga lei municipal, que garantia o direito da meia-passagem à juventude. O movimento, repelido violentamente pela Polícia, fato que impede Castelo de abrir as negociações com os estudantes e abafar o movimento no nascedouro, pelo diálogo. Quando isso acontece, o desgaste do governador já estava nas alturas.

CASTELO EMPAREDA SARNEY

 Antes de findar o mandato de governador, Castelo surpreende o Maranhão com uma jogada política que deixa o senador José Sarney em complicada situação. Com a morte do vice-governador Artur Carvalho, o substituto hierárquico de Castelo era o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Albérico Ferreira, tio de Sarney.

Nas eleições majoritárias de 1982, o projeto de Castelo era deixar o Governo e se candidatar ao Senado. Mas não deseja transferir o poder estadual a Albérico por entender que este no Governo criaria embaraços à sua eleição de senador. A Sarney diz que só deixará o Palácio dos Leões se Albérico renunciar à presidência da Assembleia Legislativa, ensejando a ascensão ao cargo do 1º vice-presidente, Ivar Saldanha, deputado de sua confiança.

Sarney fica numa saia justa, pois o tio repele a proposta de Castelo com ferocidade. Só depois de muita conversa, Albérico atende aos apelos do sobrinho, renunciando a presidência do Legislativo e ao mandato de deputado estadual. Só assim, Castelo se desincompatibiliza do cargo  e permite  Ivar Saldanha assumir à presidência da Assembleia e, como tal, ser o novo comandante do Poder Executivo.

DESENTENDIMENTO DE CASTELO COM LUIZ ROCHA

Outra artimanha política de Castelo teve por alvo o deputado Luiz Rocha. Com o retorno das eleições diretas, o deputado Luiz Rocha se lança candidato a governador, sem o apoio de Castelo, que faz de tudo para Sarney não endossar aquela candidatura.

Luiz Rocha, duro na queda, impõe-se candidato e vence as eleições, mesmo enfrentando a ira do governador. Ao assumir o cargo, vai às forras e desencadeia contra o antecessor represálias de todos os tipos. Era o que faltava para desabrochar uma luta ferrenha entre o atual e o ex- governador, que se não fosse imediatamente estancada poderia implodir o PDS.

Para intimidar Luiz Rocha, Castelo dar o troco merecido. Com a maioria dos deputados sob seu comando, usa-os para torpedear as mensagens, projetos e propostas emanadas do Palácio dos Leões, especialmente a Lei Delegada, pois com ela Luiz Rocha desejava fazer alterações na burocracia estadual.

Durante semanas, o Maranhão assiste estupefato à gigantesca luta entre duas figuras políticas do mesmo grupo, cada qual esgrimindo as armas disponíveis para ver quem ficava com o troféu da insensatez.

Com estava escrito nas estrelas, a contenda só acaba com a presença de Sarney, que vem de Brasília e coloca, com a sua competência política, água num caldeirão cheio de brasa, para desativá-lo e não comprometer a sua liderança. O armistício é declarado, mas a inimizade entre Castelo e Rocha não cessa, ao contrário, incrementa-se e com novos desdobramentos.

CASTELO E AML

Se há um governador com prestígio na Academia Maranhense de Letras, chama-se João Castelo, a quem é devido o envio de mensagem à Assembleia Legislativa, da qual resultou na Lei 4.350, por ele sancionada em 31 de outubro de 1985, autorizando o Poder Executivo a pagar mensalmente à AML subvenção especial correspondente a 10 salários-mínimos.

Por conta disso, Castelo sempre recebeu da Casa de Antônio Lobo as merecidas homenagens e reconhecido como um dos grandes beneméritos da Instituição.

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