Benedito Buzar
Concluído o curso primário no Grupo Escolar Gomes
de Souza, em Itapeecuru, vim estudar em São Luis, no Colégio dos Irmãos
Maristas, que começava a funcionar em novas instalações, na Rua Oswaldo Cruz.
Naquele elitizado estabelecimento de ensino,
cheguei em 1950, onde conheci João Castelo Ribeiro Gonçalves, à época, eu e
ele, de calças curtas. Lembro-me que era um garoto gordinho e bem aplicado, mas
sem figurar entre os mais estudiosos da classe. Eu, também, fazia parte desse
time.
Nos três anos de estudo nos Maristas, eu e Castelo
sempre fomos da mesma turma. A partir de 1953, troquei os Maristas pelo Liceu
Maranhense, ano em que perdi Castelo de vista. Só voltei a revê-lo no final dos
anos 1960, ele em atividade profissional no Banco da Amazônia, cujo corpo
funcional era constituído da fina flor da juventude maranhense. Como bancário,
teve trajetória fulgurante. Ocupou o cargo de gerente do BASA em Coroatá, Codó
e São Luis e chega a presidi-lo.
Na agência da capital maranhense, Castelo
multiplica o seu capital profissional e diversifica o círculo de amizade,
especialmente com empresários e políticos. Da convivência com políticos,
aproxima-se do senador José Sarney, com o qual formaliza uma estreita relação
de amizade, a ponto de se tornarem compadres.
Pelas mãos de Sarney, Castelo ingressa na atividade
política, concorrendo às eleições de 1970 ao cargo de deputado federal, pela
Arena, elegendo-se com expressiva votação. Reelege-se em 1974, mandato no qual
é convocado para ocupar o cargo mais importante de sua trajetória política.
CASTELO NO GOVERNO DO ESTADO
Por imposição do regime militar, as eleições aos
governos estaduais, a partir de 1970, passaram a ser indiretas. O primeiro
governador eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa foi Pedro Neiva,
cuja sucessão é tumultuada face ao rompimento do governador com o senador José
Sarney e da volta à cena política do ex-senador Vitorino Freire, que cria
embaraços na indicação de nomes para governar o Estado. Resultado: o poder
acaba no colo do deputado Nunes Freire, que, também, termina o mandato rompido
com Sarney, este, o mais cotado para substituí-lo, mas fica fora do páreo pela
forte influência de Vitorino no Palácio do Planalto. Mesmo alijado do governo,
Sarney tem cacife para indicar o sucessor de Nunes Freire, o fiel escudeiro,
deputado João Castelo Ribeiro Gonçalves.
A GESTÃO CASTELISTA
À frente da administração estadual, Castelo não
esconde o desejo de fazer um governo como o de Sarney, isto é, voltado para o
planejamento e o desenvolvimento do Estado. Não à toa, adota o slogan de
“Um grande Maranhão para todos” a sombra do qual forma um bom
secretariado, com técnicos do Banco da Amazônia e de instituições
governamentais. Na Agricultura, Luis Varela, Administração, Antônio
Fernando Carvalho, Planejamento, João Rebelo, Educação, Antônio Carlos Beckman,
Fazenda, Antônio José Brito, Indústria e Comércio, Roberto Macieira, Trabalho,
Fernando Castro, Saúde, José Rodrigues Lopes, Justiça, Roque Macatrão,
Segurança, Raimundo Marques, Meio Ambiente, Darson Duarte, Transportes,
João Rodolfo, Interior, Wilson Neiva, Cultura, Arlete Machado, Desportos e
Lazer, Elir Gomes, tendo o capacitado José Burnett, como Chefe da Casa Civil.
Com esse time de boa qualidade técnica e política,
Castelo realiza bom trabalho e faz obras de significativa relevância, a exemplo
do Italuis, Hospital Carlos Macieira, Universidade Estadual do Maranhão, Casa
do Trabalhador, Ponte Bandeira Tribuzi, Cidade Operária, Programa Bom Preço e o
Estádio Castelão.
Mas um deslize o conduziu ao pelourinho: em
setembro de 1979, os estudantes foram às ruas reivindicar o cumprimento de
antiga lei municipal, que garantia o direito da meia-passagem à juventude. O
movimento, repelido violentamente pela Polícia, fato que impede Castelo de
abrir as negociações com os estudantes e abafar o movimento no nascedouro, pelo
diálogo. Quando isso acontece, o desgaste do governador já estava nas alturas.
CASTELO EMPAREDA SARNEY
Antes de findar o mandato de
governador, Castelo surpreende o Maranhão com uma jogada política que deixa o
senador José Sarney em complicada situação. Com a morte do vice-governador
Artur Carvalho, o substituto hierárquico de Castelo era o presidente da
Assembleia Legislativa, deputado Albérico Ferreira, tio de Sarney.
Nas eleições majoritárias de 1982, o projeto de
Castelo era deixar o Governo e se candidatar ao Senado. Mas não deseja
transferir o poder estadual a Albérico por entender que este no Governo criaria
embaraços à sua eleição de senador. A Sarney diz que só deixará o Palácio dos
Leões se Albérico renunciar à presidência da Assembleia Legislativa, ensejando
a ascensão ao cargo do 1º vice-presidente, Ivar Saldanha, deputado de sua
confiança.
Sarney fica numa saia justa, pois o tio repele a
proposta de Castelo com ferocidade. Só depois de muita conversa, Albérico
atende aos apelos do sobrinho, renunciando a presidência do Legislativo e ao
mandato de deputado estadual. Só assim, Castelo se desincompatibiliza do cargo e
permite Ivar Saldanha assumir à presidência da Assembleia e, como tal,
ser o novo comandante do Poder Executivo.
DESENTENDIMENTO DE CASTELO COM
LUIZ ROCHA
Outra artimanha política de Castelo teve por alvo o
deputado Luiz Rocha. Com o retorno das eleições diretas, o deputado Luiz Rocha
se lança candidato a governador, sem o apoio de Castelo, que faz de tudo para
Sarney não endossar aquela candidatura.
Luiz Rocha, duro na queda, impõe-se candidato e
vence as eleições, mesmo enfrentando a ira do governador. Ao assumir o cargo,
vai às forras e desencadeia contra o antecessor represálias de todos os tipos.
Era o que faltava para desabrochar uma luta ferrenha entre o atual e o ex-
governador, que se não fosse imediatamente estancada poderia implodir o PDS.
Para intimidar Luiz Rocha, Castelo dar o troco
merecido. Com a maioria dos deputados sob seu comando, usa-os para torpedear as
mensagens, projetos e propostas emanadas do Palácio dos Leões, especialmente a
Lei Delegada, pois com ela Luiz Rocha desejava fazer alterações na burocracia
estadual.
Durante semanas, o Maranhão assiste estupefato à
gigantesca luta entre duas figuras políticas do mesmo grupo, cada qual
esgrimindo as armas disponíveis para ver quem ficava com o troféu da
insensatez.
Com estava escrito nas estrelas, a contenda só
acaba com a presença de Sarney, que vem de Brasília e coloca, com a sua
competência política, água num caldeirão cheio de brasa, para desativá-lo e não
comprometer a sua liderança. O armistício é declarado, mas a inimizade entre
Castelo e Rocha não cessa, ao contrário, incrementa-se e com novos
desdobramentos.
CASTELO E AML
Se há um governador com prestígio na Academia
Maranhense de Letras, chama-se João Castelo, a quem é devido o envio de
mensagem à Assembleia Legislativa, da qual resultou na Lei 4.350, por ele
sancionada em 31 de outubro de 1985, autorizando o Poder Executivo a pagar
mensalmente à AML subvenção especial correspondente a 10 salários-mínimos.
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