ARTIGO DE OPINIÃO:
Assenção Pessoa
Todos os aspectos
de nossas vidas estão ancorados numa cultura onde compartilhamos manifestações
e singularidades com o meio social no qual nos desenvolvemos. Essa cultura do
existir, interferir e assimilar imagens, conceitos, modos, manifesta-se em
nossa aparência, no vestir, no calçar, na alimentação, na diversão, na fé, em
fim em tudo que adotamos no nosso dia a dia. Mas esse aspecto tão amplo de
nossas vidas não é estático ou imutável, muito pelo contrário. Nossa cultura
está em constante processo de modelagem. É fato que, ao adotarmos costumes,
valores ou mesmo símbolos diferentes, modificamos, por exemplo, hábitos
culturalmente construídos, de modo que, os parâmetros culturais que absorvemos
de nossas famílias se alteram tanto no decorrer de nossa convivência social que
dificilmente serão exatamente os mesmos que transmitiremos aos nossos filhos.
A nossa Itapecuru
Mirim, como toda sociedade, tão grandiosa por sua miscigenação brasileira, das
festas de São Gonçalo, do Tambor de Crioula, do Terecô, do Divino Espírito
Santo, dos carnavais antigos, hoje vem dando cadência a novas culturas, vem
sofrendo ao longo dos anos esse processo de aculturação a partir da convivência
do seu povo com a construção cultural de outros povos.
Esse processo de
aculturação pode ser visto por muitos como responsável pela destruição ou o
desgaste de culturas vistas como “originais”. Franz Boas (1858-1942), um dos
mais importantes autores na área de estudos culturais, pautava o fenômeno da
aculturação pelo processo de mudança da cultura original. Já, o antropólogo
brasileiro Gilberto Freyre, trabalhava com a ideia de que o processo de
aculturação não é unilateral, de forma que, as estruturas culturais envolvidas
nesse processo estão sujeitas a absorver um ou outro aspecto da cultura
diferente de forma mútua, mesmo não sendo um processo simétrico.
No entanto, para a
nossa cultura, o que está ocorrendo é justamente a extinção da nossa
tradicional cultura e que ainda resiste em certa medida, nos povoados como
Santa Rosa, Outeiro e Felipa. O processo de aculturação, que de várias formas
culmina na mudança cultural e na assimilação de novas culturas, em certos
aspectos pode ser destacada atualmente na forma como os jovens se expressam,
nas novas obras arquitetônicas, ou no gradual abandono de suas línguas, danças
e costumes. Apesar da nossa sociedade urbanizada, ainda manter tradições
indígenas e negras, os conhecimentos populares, ainda assim estamos dando
cedendo lugar à incorporação de novos costumes, como o reggae original da
Jamaica e os carnaval de praça com bandas baianas ou similares.
Hoje a Academia
Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes têm um papel singular nesse resgate
da nossa literatura, da nossa língua e da nossa cultura popular. A fim de
evitar um maior estrangulamento de nossa cultura, a AICLA, lança mão para a
divulgação e apropriação do resgate cultural da nossa Itapecuru Mirim. Assim, o
primeiro lançamento de livro com o selo da Academia, Inspirações Poéticas, uma
antologia de autores Itapecuruenses, produzido e organizado por Assenção Pessoa
e Jucey Santana, virão outros belíssimos trabalhos nesse sentido de dá
visibilidade ao processo cultural como um todo, e não vendo apenas o Carnaval
como cultura de nossa cidade. E mesmo com a aculturação de nossas raízes, que
não se percam de vez o nosso modo de sentir, ver, ouvir e falar, assim como o
nosso modo de pensar sobre nossa própria coexistência com todas as demais
culturas importadas e introduzidas na nossa sociedade.
E assim se poder
traduzir um verso do Hino de Itapecuru Mirim: “Terra de Amor, Itapecuru!”, como
terra de amor à sua cultura tradicional e nativa e mesmo que haja novos
valores, mas que os nossos não se percam ao logo do tempo.
E a AICLA está
presente para contar e recontar essa majestosa história: A história cultural, científica
e literária de Itapecuru Mirim.
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