sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

TERRA DE AMOR, ITAPECURU



                                       ARTIGO DE OPINIÃO:

Assenção Pessoa

Todos os aspectos de nossas vidas estão ancorados numa cultura onde compartilhamos manifestações e singularidades com o meio social no qual nos desenvolvemos. Essa cultura do existir, interferir e assimilar imagens, conceitos, modos, manifesta-se em nossa aparência, no vestir, no calçar, na alimentação, na diversão, na fé, em fim em tudo que adotamos no nosso dia a dia. Mas esse aspecto tão amplo de nossas vidas não é estático ou imutável, muito pelo contrário. Nossa cultura está em constante processo de modelagem. É fato que, ao adotarmos costumes, valores ou mesmo símbolos diferentes, modificamos, por exemplo, hábitos culturalmente construídos, de modo que, os parâmetros culturais que absorvemos de nossas famílias se alteram tanto no decorrer de nossa convivência social que dificilmente serão exatamente os mesmos que transmitiremos aos nossos filhos. 

A nossa Itapecuru Mirim, como toda sociedade, tão grandiosa por sua miscigenação brasileira, das festas de São Gonçalo, do Tambor de Crioula, do Terecô, do Divino Espírito Santo, dos carnavais antigos, hoje vem dando cadência a novas culturas, vem sofrendo ao longo dos anos esse processo de aculturação a partir da convivência do seu povo com a construção cultural de outros povos. 

Esse processo de aculturação pode ser visto por muitos como responsável pela destruição ou o desgaste de culturas vistas como “originais”. Franz Boas (1858-1942), um dos mais importantes autores na área de estudos culturais, pautava o fenômeno da aculturação pelo processo de mudança da cultura original. Já, o antropólogo brasileiro Gilberto Freyre, trabalhava com a ideia de que o processo de aculturação não é unilateral, de forma que, as estruturas culturais envolvidas nesse processo estão sujeitas a absorver um ou outro aspecto da cultura diferente de forma mútua, mesmo não sendo um processo simétrico. 

No entanto, para a nossa cultura, o que está ocorrendo é justamente a extinção da nossa tradicional cultura e que ainda resiste em certa medida, nos povoados como Santa Rosa, Outeiro e Felipa. O processo de aculturação, que de várias formas culmina na mudança cultural e na assimilação de novas culturas, em certos aspectos pode ser destacada atualmente na forma como os jovens se expressam, nas novas obras arquitetônicas, ou no gradual abandono de suas línguas, danças e costumes. Apesar da nossa sociedade urbanizada, ainda manter tradições indígenas e negras, os conhecimentos populares, ainda assim estamos dando cedendo lugar à incorporação de novos costumes, como o reggae original da Jamaica e os carnaval de praça com bandas baianas ou similares. 

Hoje a Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes têm um papel singular nesse resgate da nossa literatura, da nossa língua e da nossa cultura popular. A fim de evitar um maior estrangulamento de nossa cultura, a AICLA, lança mão para a divulgação e apropriação do resgate cultural da nossa Itapecuru Mirim. Assim, o primeiro lançamento de livro com o selo da Academia, Inspirações Poéticas, uma antologia de autores Itapecuruenses, produzido e organizado por Assenção Pessoa e Jucey Santana, virão outros belíssimos trabalhos nesse sentido de dá visibilidade ao processo cultural como um todo, e não vendo apenas o Carnaval como cultura de nossa cidade. E mesmo com a aculturação de nossas raízes, que não se percam de vez o nosso modo de sentir, ver, ouvir e falar, assim como o nosso modo de pensar sobre nossa própria coexistência com todas as demais culturas importadas e introduzidas na nossa sociedade. 

E assim se poder traduzir um verso do Hino de Itapecuru Mirim: “Terra de Amor, Itapecuru!”, como terra de amor à sua cultura tradicional e nativa e mesmo que haja novos valores, mas que os nossos não se percam ao logo do tempo. 

E a AICLA está presente para contar e recontar essa majestosa história: A história cultural, científica e literária de Itapecuru Mirim.
                    

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