Benedito
Buzar
Demograficamente o Maranhão, há 100 anos, não tinha
um milhão de habitantes. Sua população girava em torno de 800 mil pessoas,
irregularmente distribuída nos 63 municípios. São Luis, com 52.920 habitantes,
seguido de Caxias, Cururupu, Codó e Viana, respectivamente, com 52.316, 28.
190, 24.896, 23.931, eram as cidades mais populosas.
Em 1917, do ponto de vista econômico, o Maranhão
não era o mesmo dos séculos XVIII e XIX, em que a sua elite social ostentava um
padrão de vida semelhante a dos europeus, status perdido pela escassez de mão
de obra resultante simultaneamente da abolição da escravatura e do declínio da
lavoura do algodão.
Segundo o professor Jerônimo de Viveiros, “a
liberdade dos escravos e o advento da República, uma desorganizando o trabalho
agrícola e outro criando novas obrigações para o Estado, determinaram no
Maranhão uma tremenda crise econômica, que se prolongou por um quarto de século”.
Essa terrível situação altera-se com a deflagração
da I Guerra Mundial (1914-1918), com os produtos primários, principalmente o
algodão, que voltam a ter boa cotação no mercado internacional.
Em 1917, o Maranhão beneficia-se dessa
circunstância bélica, ganha alma nova e a economia incrementa-se. Esse ciclo de
revitalização, afirma Tribuzi, foi suficiente para reequilibrar as finanças
empresariais e públicas, fazendo o Estado viver alguns anos de otimismo, com
a instalação de um parque industrial têxtil bem significativo.
Sob o aspecto político, indiscutivelmente, o
Maranhão em 1917 não podia se envergonhar de sua representação no Executivo e
no Legislativo, que tinham em seus quadros políticos intelectualizados e
moralmente burilados. Como representantes do povo, participavam das lutas pelo
poder com ardor e determinação, mas evitavam cair na vala comum da corrupção.
Comparar Godofredo Viana, Luiz Domingues, Herculano Parga, Urbano Santos,
Manoel Inácio Dias Vieira, Afonso Geffining de Matos, Clodomir Cardoso, Artur
Colares Moreira, José Eusébio de Carvalho, José Barreto Costa Rodrigues e
outros com os néscios que atualmente nos representam, é um exercício nada
prazeroso.
OS NOSSOS GOVERNANTES
A figura humana e política que ocupava o cargo de
governador do Estado do Maranhão em 1917 era o brilhante advogado Herculano
Nina Parga. De acordo com o professor Mário Meireles, realizou um bom governo
porque “soube tirar proveito das circunstâncias que no campo econômico
sobrevieram da Primeira Guerra Mundial, sendo zelosamente honesto na aplicação
dos dinheiros públicos, com vistas ao reequilíbrio das finanças estaduais.”
Renunciou ao cargo em 3 de novembro, para concorrer às eleições de
deputado federal, sendo substituído pelo vice-governador, Antônio Brício de Araújo.
Na sua gestão, fatos importantes vieram à tona. A
15 de março, a instalação na Rua do Trapiche, da primeira agência do Banco do
Brasil em São Luis; a 1º de abril, a fundação da Liga Maranhense de Futebol,
com a participação das agremiações Fabril Atlético Clube, Onze
Maranhense, Esporte Clube Luso-Brasileiro, Bragança Esporte Clube e Santiago
Futebol Clube. Sancionou leis de alta relevância, como a que criava o município
de Axixá; isentou de impostos os interessados na instalação de fábricas de sal
e na industrialização de peixes, mariscos e óleos em frigoríficos; autorizou a
construção da estrada de ferro São Luis a São José de Ribamar. A propósito: o
prefeito Luis Fernando Silva, bem que poderia agarrar essa proposta e
reativá-la na sua gestão.
Um evento assaz relevante para São Luis: a 4 de
outubro de 1917, a empresa Cinematográfica Maranhense inicia a construção do
Cine-Teatro Eden, na Rua Oswaldo Cruz, onde funcionava o Cine São Luis,
destruído pelo fogo. O engenheiro italiano, Gaspare Connazoni construiu a obra
e inaugurada com a exibição do filme Chispa de Fogo.
A NOSSA REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR
O ano de 1917 não foi só de conquistas e sucessos.
Flagelos também afloraram como as inclementes enchentes que transformaram
nossos rios em mares de água doce, a devastar plantações, vilas e povoados. Os
prejuízos causados pela cheia foram incalculáveis, preocupando as autoridades
estaduais, que se juntaram para minorar o sofrimento das populações
ribeirinhas. Nesse particular, o Governo solicitou ao Congresso Estadual
(assim era chamada a Assembleia) autorização para contratar recursos,
destinados às vítimas das enchentes dos rios Itapecuru e Mearim.
Um assunto muito debatido nas sessões legislativas
de 1917: a concessão sem ônus às empresas estrangeiras de terras devolutas para
fomentar a cultura de produtos agrícolas e criação de gado.
Deputados estaduais que atuaram na Assembleia
Legislativa em 1917: Adolfo Medeiros, Afonso Geffining de Matos, Albérico
Dias da Silva, Alcebíades Silva, Antônio de Azevedo Goulart, Antônio Pereira
Rego, Antônio Soares da Silva, Aristides Rios, Artur Leão e Silva, Euclides
Maranhão, Francisco Lisboa Filho, Georgiano Gonçalves, Heráclito Nina, Inácio
do Lago Parga, Jorge Amorim, José Barreto da Costa Rodrigues, José Carneiro de
Freitas, José do Rego Medeiros, Jorge Ferreira Pinto, José Joaquim Marques,
Libânio Lobo, Luis do Lago Junior, Máximo Martins Ferreira, Nelson Serejo de
Carvalho, Pedro Leão Viana, Saul Nina Rodrigues, Tarquínio Lopes Filho e
Tucídides Barbosa.
O cargo de presidente do Congresso Legislativo,
naquele ano, foi exercido pelo deputado Joaquim José Marques.
Na Câmara Federal, desempenhavam o mandato em 1917
os seguintes deputados: Henrique Maximiano Coelho Neto, Artur Quadros Colares
Moreira, Francisco da Cunha Machado, João Dunshee de Abranches Moura, Luiz
Antônio Domingues da Silva, Agripino Azevedo e Marcelino Rodrigues Machado.
Uma representação parlamentar para ninguém botar defeito.
O PODER JUDICIÁRIO EM 1917
As turbulências políticas, pipocadas com o advento
da República, repercutiram sobremodo nas Constituições Federal e
Estadual, que sofreram alterações de monta, com reflexos diretos no
funcionamento do Poder Judiciário. No Maranhão, os magistrados começaram a
vislumbrar melhores condições de trabalho e dispor de maior estabilidade
funcional a partir de 1917, quando uma reforma judiciária modificou tudo quanto
fora feito anteriormente. Quem contribuiu muito para isso foi o desembargador
Lourenço Valente de Figueiredo, que, graças à sua competência e firmeza nas
ações, manteve-se no cargo de presidente do Tribunal de 1913 a 1917.
A CIDADE DE SÃO LUIS EM 1917
Naquele tempo, não existia em São Luis a figura do
prefeito. Quem a administrava era o intendente, que chegava ao posto não pelas
mãos de governadores, mas pela vontade do povo que o elegeu para cumprir um
mandato de três anos, começado a 1º de janeiro de 1916 e acabado a 31 de
dezembro de 1918.
O intendente de São Luis era o brilhante advogado,
Clodomir Cardoso, que promoveu mudanças significativas na estrutura urbanística
da cidade. Por lei, obrigou os moradores ao uso de cimento na construção de
calçadas. O ponto alto de sua administração: a inauguração da luz elétrica.
Naquele ano, a capital do Maranhão se diferenciava
das demais brasileiras por uma singularidade: a marcante presença da cultura na
sociedade, que se orgulhava de ser Atenas Brasileira, título conquistado a
partir do século XVIII, pela excelente qualidade de seus poetas e prosadores.
Fervilhava na cidade um elenco de instituições
culturais, capitaneada pela Academia Maranhense de Letras, que articulavam
movimentos literários e eventos artísticos e culturais, ações essas que
resultaram no despontar de intelectuais da estirpe de Antônio Lobo, Maranhão
Sobrinho, Domingos Barbosa, Nascimento Moraes, Viriato Corrêa, Vespasiano
Ramos, Corrêa de Araújo e Humberto de Campos, nomes de valor, que se projetaram
no cenário nacional.
Em meio a essa formidável onda cultural, o Maranhão
ganha em 1917 dois nomes que anos depois se transformam em ícones da
intelectualidade brasileira. A 21 de agosto, nasce em São Luis, Josué Montello;
a 10 de outubro, nasce em Nova York, Neiva Moreira
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