Josemar Lima Série
Crônicas – Ano IV/nº 41/2017
O Arquipélago dos Açores, formado por
nove ilhas, é uma Região Autônoma da República Portuguesa e integra a União Europeia.
Tem uma área territorial de 2.333 quilômetros quadrados e uma população de um
pouco mais de 240 mil habitantes. É uma região com IDH muito elevado, atingindo
0,903, com um PIB per capita aproximando-se de R$ 60.000,00, uma região rica,
consequentemente, se comparada ao município de Itapecuru Mirim, que tem um IDH
de apenas 0,599 e um PIB per capita de um pouco mais de R$ 7.000,00.
Os Açores, chamado assim pelo conjunto
de suas de ilhas, têm quase seis séculos de presença humana continuada e
granjearam um lugar importante na história de Portugal e na história da
conquista do Oceano Atlântico. Constituíram-se em escala para as expedições dos
Descobrimentos e para as naus da chamada Carreira das Índias, das frotas da
Prata e do Brasil; contribuíram para conquista e manutenção das praças
portuguesas do norte da África; quando da crise de sucessão de 1580 e das
Guerras Liberais (1828/1834). Constituíram-se em baluartes da resistência
durante as duas Guerras Mundiais, em apoio estratégico para às forças aliadas,
mantendo-se até os nossos dias, como um centro de comunicação e apoio à aviação
militar e comercial.
Mas nem sempre foi assim!
No início do século XVII, entretanto, a
população do arquipélago enfrentava múltiplos problemas e sempre que o açoriano
se viu ameaçado por uma quebra de colheitas, estiagem, vulcões, abalos sísmicos,
tsunamis, ataques de piratas, pressões políticas ou religiosas ele olhava para
mar a sua porta e lançava-se a migração, carregando junto suas tradições
católicas, sua culinária, o trabalho no cultivo da terra e, ainda, todas as
suas manifestações culturais como a Festa do Divino Espírito Santo, a Dança de
Quadrilhas, o culto a São Gonçalo, o Artesanato de rendas e adereços e uma
forte identidade regional de organização familiar.
Nessa época Portugal estava anexado à
Espanha, formando a União Ibérica e via seus concorrentes diretos à conquista
do Atlântico, os franceses, holandeses e ingleses avançarem sobre suas
colônias. A França, descumprindo o Tratado de Tordesilhas, implantou em 1612
uma pequena colônia no Maranhão, com a fundação de São Luís, fazendo com que o
governo espanhol mobilizasse uma força militar portuguesa, composta de 400
homens, em 1615, para expulsá-los.
A partir desse fato, a ocupação da
região sofre outros rumos e a preocupação em garantir as fronteiras e povoar as
terras reconquistadas ganha prioridade. Vários fatores contribuíram para que os
açorianos fossem escolhidos para iniciar o processo de povoamento do Maranhão,
destacando-se os seus conhecimentos com a agricultura e pecuária e as
características de formação de sólidos laços familiares. O processo de seleção
dava prioridade aos “casais”, ou seja, “marido e mulher”, preferencialmente com
grandes proles.
Assim, o alistamento dos casais imigrantes
consistia em anotar, além do nome, a naturalidade, a residência, a idade, a
profissão, a estatura, a cor dos cabelos, da pele e dos olhos, o formato do
rosto, a forma do nariz, da boca e da barba, o estado civil e, se casado, o
nome da mulher, a filiação desta, a sua naturalidade e idade, e, caso tivessem
filhos, o nome e as respectivas idades. Mas, para além destes, a Coroa
Portuguesa enviou também muitos degredados do Reino, assim como uma grande
quantidade de homens de pequenos ofícios tais como pedreiros, oleiros,
serralheiros, mercadores, mecânicos e ferreiros para a fixação definitiva dos
casais.
Na pesquisa Imigração Açoriana no
Maranhão, a professora Ester de Sá Marques/UFMA, relata que os primeiros imigrantes açorianos
que aportaram no Maranhão em 11 de abril de 1619 vieram às custas do
contratador Jorge de Lemos de Bettencourt que conseguiu, através da carta régia
de 12 de abril de 1617, autorização para transportar 300 casais ao Pará, num
total de mil pessoas, ao final do qual receberia o valor de 400 mil réis e a
capitania de Pernambuco. Em 1618, os imigrantes partem dos Açores, sob o
comando do Capitão Simão Estácio da Silveira, em três navios, mas parte deles
morre na viagem chegando ao Maranhão apenas 95 casais ou 561 almas, segundo Frei
Vicente do Salvador.
Com estes primeiros imigrantes vieram os
costumes, a culinária, as festas, o modo de ser e de estar açoriano, os
bailados, as lendas, os mitos e as superstições, o jeito de falar e a alma
alegre que se incorporaram ao saber local, tornando-se aspectos comuns às duas
culturas desde então.
Naquela época o norte do país era
considerado selvagem, não era marcado pela busca de ouro ou pelas grandes
plantações de algodão, como na região sul. O açoriano, como sempre, ficou com a
tarefa mais difícil de desbravar, garantir fronteiras e dividia o papel de
povoador com os jesuítas, que catequizavam os índios. Os açorianos, para os
padrões da época, representavam uma considerável massa de pessoas, tanto é que
tiveram influência para ocupar importantes cargos na administração regional.
Ainda em 1619, trinta casais de
açorianos, aproximadamente trezentas pessoas, foram enviadas para a região
denominada “Ribeira do Itapecuru”, então uma das mais promissoras do Maranhão,
estabelecendo-se onde atualmente está localizada a cidade de Itapecuru Mirim,
mais precisamente nas proximidades do antigo Cemitério dos Ciganos.
A ideia era não só povoar, mas
disseminar a cultura portuguesa, a fé católica nos moldes dos portugueses
europeus e não dos indígenas, ocupar terras e aumentar a produção e
produtividade da agropecuária que se iniciava às margens do Rio Itapecuru.
Naquela região, os açorianos, entre
outras culturas e criação de gado, dedicaram-se à cultura do arroz, adaptando
técnicas empregadas no manejo do trigo, com excelentes resultados. Introduziram
também o Carro de Boi como meio de transporte para de pessoas, insumos para a
agricultura, pecuária e construção e outras atividades afins.
Tiveram papel importante para que a
região, poucos anos depois, se transformasse num grande polo produtor de
cana-de-açúcar e da agroindústria de transformação, através dos Engenhos.
Houve uma progressiva miscigenação,
inicialmente com os indígenas e, posteriormente, com os africanos e povos do
mundo árabe gerando, consequentemente, as bases de formação de nossa população
atual.
Os sobrenomes, comuns em Itapecuru
Mirim, como Abreu, Aguiar, Albuquerque, Alencar, Almeida, Alves, Amorim,
Araújo, Azevedo, Bandeira, Barbado, Barbosa, Barros, Cabral, Caldas, Carneiro,
Coelho, Costa, Cruz, Félix, Ferraz, Freitas, Guimarães, Lima, Lins, Lopes,
Machado, Marques, Mendes, Moreira, Monteiro, Mota, Muniz, Nogueira, Oliveira,
Peixoto, Pinto, Ramos, Ribeiro, Rodrigues, Rocha, Santos, Silveira, Siqueira,
Teixeira e Ximenes são heranças dos nossos patrícios açorianos.
A Festa do Divino Espírito Santo e suas
caixeiras; A Dança do São Gonçalo, uma dança só para homens; Os Folguedos Juninos e seus quitutes; As Ladainhas Cantadas
em Latim; e As Festas de Largo são, também, legados deixados pelos açorianos e
muitos deles continuam povoando a vida dos itapecuruenses até os dias atuais.
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