Mauro
Rêgo (*)
Hoje, às 4 horas da manhã,
levantei-me para contemplar o mundo. Do 6º andar da Torre Mare do Condomínio
Palazzo de Verona, aqui em São Luís, contemplei a paisagem. Quanta paz naquela
hora. As luzes esmaecidas das avenidas pairavam tristemente, mas ainda
envolviam a cidade de luz. Um ou outro veículo, de quando em quando, circulava
como intruso para perturbar a paz. Ao longe, divisavam-se as luzes dos navios
que aguardavam para atracar no Porto do Itaqui e toda a Ilha oferecia um
ambiente de beleza e misticismo.
É a hora sagrada na qual os
espíritos vagam, induzindo as pessoas á reflexão. No campo, é hora de selar o
cavalo para viagem sem esquecer o ‘balaio’ nos alforjes. Os pescadores procuram
as canoas e saem em busca dos lugares mais apropriados para apanhar os peixes.
É também a hora em que os embarcadiços se dirigem ao Troitá ou ao Porto das
Gabarras para aguardar a chegada da maré.
Imaginei quantos jovens drogados
voltavam para suas casas ou seus esconderijos. Todos sem esperança, pois os que
se viciam é porque a perderam... Fugiram-lhes os sonhos e nenhum ideal
crepitava na fogueira de sua juventude. Todos são vítimas das condições
sub-humanas a que foram conduzidos pela falta de ideias das autoridades, todos
vítimas do tempo que ultrapassava os limites da história.
Pensei nas palafitas. casebres
miseráveis agrupados sobre águas fétidas, por causa dos esgotos sanitários das
residências mais nobres e até dos próprios barracos; arremedo de ruas que se
equilibram sobre pontes construídas por tábuas apodrecidas suspensas por
madeira trazidas de restos de construção.
Sem emprego e sem trabalho definido,
os moradores amargam suas frustrações vendo seus filhos contaminados por
doenças provocadas pelas condições insalubres em que vivem. Quase sempre
analfabetos, por isso sem esperança, não dispõem de recursos para obter um
pouco de café ou biscoitos ou restos de comida para alimentar a família.
No
interior, abandonaram as casas de farinha em torno das quais as comunidades se
formavam. Ali estavam a faina e o lazer. Já não se encontravam as rebecas, as
sanfonas de poucos baixos ou as gaitas que davam um pouco de alegria aos
circundantes. As variações climáticas dizimaram as roças e a doença tirou-lhes
o entusiasmo pela vida. Os membros dessas comunidades eram agora a maioria dos
moradores dessas palafitas, fugindo das asperezas dos dias, esperando
reencontrar suas esperanças na cidade grande.
Submetendo-me a um tratamento de
saúde, lembrei do médico que solicitou que eu ficasse mais um ou dois dias
nesta cidade para fazer alguns exames. Logo o pensamento voou para as filas
intermináveis de pessoas tentando marcar uma consulta, filas que se formaram
também nas portas dos hospitais e outros postos de atendimento público que não
estão em condições de atender à demanda. Idosos que se deslocam de enormes
distâncias, em transportes precários, para uma sessão de hemodiálise.
Voltei ao terraço para olhar o
movimento dos veículos que ia aumentando à proporção que o sol banhava a cidade
de luz. Também minha esperança de que essa situação se amenizasse foi se
esvaindo. A paz de há pouco estava desaparecendo.
(Mauro Rêgo é
escritor, membro da Academia Anajatubense
de Letras, Ciências e
Artes (ALCA) e da Academia Itapecuruense
de Ciências Letras e
Artes (AICLA)
Parabéns, nobre escritor Mauro Rêgo. Estou realmente sensibilizado com tão lauto comentário. Traz-me à lembrança a época dos grandes mestres de literatura tupiniquim, em que a nossa plaga era ressaltada por seus belos frutos literários e seus representantes áureos desfrutavam de classificação magnífica na escala nacional de escritores. Mas estás de parabéns. E folgo em saber que ainda existem esses faróis de Alexandria, a iluminar a nossa literatura com seus focos maravilhosos, disponibilizando em nossos horizontes, grandiosos feitos como esse vosso artigo, narrando o alvorecer do dia em nossa querida São Luís, Capital do estado do Maranhão que me serviu de berço! Aceitas meu fraterno abraço, escritor ilustre! Continuas nesse caminhada, que o rumo é o certo. Parabéns! Poeta Lázaro - Ma. Membro da ACADEMIA INTERNACIONAL DE LETRA LUSÓFONA.
ResponderExcluirPoeta Lázaro - Ma. 98 98861 - 8983.
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