*Luiza
Marinho
A pesquisa em
periódicos abre uma vastidão de horizontes para novas descobertas, nos ajudando
a resgatar aspectos socioculturais,
literários e históricos de toda uma época. Mariana Luz foi uma das
“descobertas” que eu, enquanto pesquisadora do Grupo de Estudos e de Pesquisa
Literatura História e Imprensa (GEPELHI/UFMA), o qual
iniciou suas atividades em setembro de 2015, pela Coordenação de Letras, do
Campus Universitário Bacabal, da Universidade Federal do Maranhão, propondo
pesquisas de campo e visitas aos acervos de fonte primárias em busca de
documentos que trazem à baila aspectos literários, linguísticos, históricos,
sociais e culturais do Maranhão do século XIX e XX para catalogação, análise e
divulgação.
Em 2016 iniciei os meus
trabalhos no grupo, investigando, primeiramente, textos literários no jornal O Rosariense, primeiro periódico da
cidade de Rosário, que esteve em circulação de 1903 a 1905, contando com
diversas publicações literárias, especialmente poemas de escritores do Estado,
sendo a maioria deles desconhecidos do grande público. Dentre esses escritores,
uma, em especial, me chamou a atenção: uma certa “Marianna Luz”, que teve
diversos de seus textos publicados no jornal, sendo, a propósito, uma das mais
publicadas, ficando atrás apenas do redator do periódico, Leslie Tavares, que
também publicava ali seus escritos literários. Chamou-me a atenção não apenas
pela frequência de suas publicações, mas, antes de tudo, por ser uma mulher,
que, dentro de um contexto extremamente misógino e machista, no qual as vozes
femininas dificilmente eram ouvidas e mais raramente ainda se faziam ecoar,
ousou publicar os seus trabalhos intelectuais.
Decidi, então,
aprofundar a pesquisa sobre a autora, e, em busca de informações biográficas
sobre esta, encontrei o blog de Jucey Santana e tive uma boa surpresa: Santana,
pesquisadora conterrânea da autora, havia lançado há pouco um livro sobre a
vida e obra de Luz. Entrei em contato com ela, que, ao saber da minha pesquisa,
prontamente se dispôs a presentear-me com um dos exemplares de seu livro. Soube,
ainda, que Mariana Luz, era uma escritora negra. Por que isso é importante? Por
ressaltar ainda mais o espírito de resistência da autora: mais uma vez lembrando
o contexto do final do século XIX e início do XX, em meio à plena dominação
social do patriarcado branco, Luz rompeu as correntes do preconceito e não se
retraiu, sendo, além de escritora, teatróloga, musicista, professora, artesã, oradora e
uma voz política ativa dentro da sua cidade.
A cada página lida de Marianna Luz: vida e obra e coisas de
Itapecuru-Mirim, percebendo que Luz havia sido ainda maior do que eu
imaginava, uma das escritoras mais ativas do estado na última década do século
XIX e primeira década do século XX, publicando em diversos periódicos ao redor
do estado e, até mesmo, de fora dele, me certificava de que valia a pena levar
minha pesquisa adiante e escrever o meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre
esta autora, que teve rica e vasta obra literária, porém é ainda tão pouco
estudada. E assim o fiz. O meu trabalho intitulou-se Mariana Luz: jornalismo literário na imprensa maranhense no início do
século XX; foi um trabalho de natureza interdisciplinar, tal qual toda a
minha pesquisa, no qual estudei e escrevi sobre o percurso histórico do
periodismo dentro do país, de um modo geral, e dentro do Maranhão, mais
especificamente, para, em seguida, falar sobre Luz, suas publicações periódicas
e sua obra, mesclando jornalismo e literatura. Afim de delimitar a pesquisa,
fiz um recorte temporal de 4 anos, estudando a obra da autora publicada entre os
anos de 1902 a 1905, selecionando um jornal do interior do estado, que não
poderia deixar de ser O Rosariense, não
apenas por contar com diversas publicações da autora e por ser o meu primeiro
jornal de pesquisa, como também por eu ter notado que este não estava
catalogado dentre os periódicos dos quais Jucey Santana se valeu para reunir a
obra da autora e, por isso, ali poderia haver algum texto inédito, ainda não
republicado, o que de fato constatou-se com um dos poemas analisados, e um da
capital, a Pacotilha, para demonstrar
esse percurso de publicação de Mariana Luz por todo o Maranhão, e analisei,
conforme a abordagem simbolista, corrente literária com a qual a autora mais se
identificava, seus poemas neles publicados.
Posso atestar que esta
foi uma experiência enriquecedora, para mim e para as Letras, dado o caráter
inédito da pesquisa e a divulgação de tão importante autora maranhense, que
impactou, até certa medida, a sociedade itapecurense e maranhense da época com
sua obra literária e demais ofícios, podendo ser equiparada ou comparada até
mesmo com Maria Firmina dos Reis, outra ilustríssima maranhense, que foi a
primeira romancista do país, também mulher, negra e de origem humilde. Acredito
que Mariana Luz ganhará cada vez mais espaço nos estudos acadêmicos nacionalmente,
assim como Maria Firmina, que nos últimos anos vem ganhando grande notoriedade.
Faz-se, portanto, de fundamental importância tirar tão importante autora do
ostracismo, levando-a à “Luz” do conhecimento dos estudiosos da literatura e da
sociedade em geral.
Luiza Natalia Macedo Marinho, graduada em
Letras/Português, pela Universidade
Federal do Maranhão – UFMA, Campus de
Bacabal, autora do projeto monográfico de formatura, intitulado, MARIANA
LUZ: Jornalismo Literário na Imprensa Maranhense no Início do Século
XX, teve por orientadora: Profa. Dra.
Cristiane Navarrete Tolomei
Meus parabéns, MARINHO, Luiza Natalia Macedo...que trabalho! Você conseguiu trazer algo a mais para o mundo das Letras!!!
ResponderExcluirMuito obrigada, Ricardo!
Excluir