quinta-feira, 23 de julho de 2020

A FESTA DO SESQUICENTENÁRIO DE ITAPECURU-MIRIM

    Um encontro histórico na Casa da Cultura

*Samira Fonseca

Na Casa da Cultura de Itapecuru-Mirim a festa estava começando ao som das bandas Despertadora e Lira Itapecuruense. No pátio da casa alguns convidados fumavam e dois casais sentados à borda do velho poço enamoravam-se sob a luz da lua cheia. Era 21 de julho e a comemoração promovida pelos intelectuais de Itapecuru-Mirim se dava em grande estilo.

Lá pelas 20:00h chega Henriques Leal acompanhado  de João Lisboa e Gomes de Sousa. A beleza de Souzinha chamava a atenção das damas que ali estavam, e olhares e sorrisos eram lançados ao matemático.

Em um lado do pátio estavam os organizadores da festa, que eram: a poetisa Mariana Luz, o poeta Luís Bandeira de Melo e o ex-prefeito Abdala Buzar. Os três viram quando Gomes de Sousa chegou acompanhado do jornalista e do bibliógrafo. 

—Vai ter tambor de crioula, Abdala?

— Vai sim, Luís.

— Ótimo! Porque essas duas bandas aí já deram o que tinham de dar. Daqui a pouco eles vão tocar dobrados de 7 de setembro.

— É só o começo, daqui a pouco tem o Tony Ribeiro, ele vai cantar aqui.

— Quem? — perguntou Mariana Luz.

— Tu não sabes? — disse Luís Bandeira — aquele cantor da Luana? Ele tem uma música que diz que chupar picolé é bom. Tu já chupou, Abdala?  

— Não, eu prefiro a fruta que tem caroço.

— Vem cá! Vocês não me respeitam mais não? Que conversa indecente é essa? Eu vou ali conversar com minhas amigas.

Os dois sorriram e foram para a mesa de quitutes.

As amigas com quem Mariana Luz foi encontrar eram as professoras Cotinha Lima e Maria José Preta.  

Enquanto as bandas revezavam na música, os convidados faziam suas rodas de conversa e debatiam sobre política, economia e História de Itapecuru. De repente uma carruagem se aproximou do portão e dela desceu José Gonçalves, o mais aguardado da noite, grande responsável por criar a Vila de Itapecuru-Mirim. Logo depois chegaram os jornalistas Zuzu Nahuz, Cândido de Morais e  Pedro Leal, o magistrado Públio Bandeira de Melo e o escritor Viriato Corrêa.

João Rodrigues conversava com Ozanam e Manir sobre a criação da Praça do Pantheon Itapecuruense quando os escritores chegaram:

— Chegaram os literatos, espero que aquele Cardoso não venha; homem asqueroso. — Disse João Rodrigues.

—Abdala não iria convidar um pulha daquele. — respondeu Ozanam.   

Na primeira sala estavam se preparando para declamar poesias o poeta Juvenal Nascimento, Astor Serra, João Batista e João Silveira, que estava feliz com a chegada do amigo Zé Jorge e de JR que acabava de encontrar Bertolino.

Professores, músicos, médicos, políticos, escritores, administradores, entre outros que contribuíram com a história do Caminho de Pedras Miúdas estavam ali na festa dos 150 anos de emancipação política. 

    Quando Padre Albino Campos chegou para abençoar a festa ao lado de Padre Benedito, todos que estavam distante do salão, se aproximaram, inclusive a maior cozinheira das terras itapecuruenses, Mundica Sampaio, todos queriam ver a bênção do Cônego Albino Campos.

— A bênção do Deus todo poderoso sobre esta comemoração dos 150 anos da cidade da nossa querida Itapecuru-Mirim. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

 Como a festa durava apenas ao primeiro raiar do sol, evitou-se discursos. A ordem era dançar, se alegrar saboreando as bebidas e os quitutes da “Mãos de Fada”.

Mas um pouco distante dali, a cena mais bonita daquela noite de lua crescente acontecia em meio ao marulhar das águas, a índia guerreira Jurema, filha de Tupinambá, da tribo tapuia, sentada na poupa de sua canoa derramava uma lágrima de amor por sua terra nas águas caudalosas do misterioso e velho rio Itapecuru. 






*Samira Fonseca é professora, romancista e dramaturga, itapecuruense.

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