Um encontro
histórico na Casa da Cultura
*Samira Fonseca
Na Casa da Cultura de Itapecuru-Mirim a festa estava começando ao som
das bandas Despertadora e Lira Itapecuruense. No pátio da casa alguns
convidados fumavam e dois casais sentados à borda do velho poço enamoravam-se
sob a luz da lua cheia. Era 21 de julho e a comemoração promovida pelos
intelectuais de Itapecuru-Mirim se dava em grande estilo.
Lá pelas 20:00h chega Henriques Leal acompanhado de João Lisboa e
Gomes de Sousa. A beleza de Souzinha chamava a atenção das damas que ali
estavam, e olhares e sorrisos eram lançados ao matemático.
Em um lado do pátio estavam os organizadores da festa, que eram: a poetisa
Mariana Luz, o poeta Luís Bandeira de Melo e o ex-prefeito Abdala Buzar. Os
três viram quando Gomes de Sousa chegou acompanhado do jornalista e do bibliógrafo.
—Vai ter tambor de crioula, Abdala?
— Vai sim, Luís.
— Ótimo! Porque essas duas bandas aí já deram o que tinham de dar. Daqui
a pouco eles vão tocar dobrados de 7 de setembro.
— É só o começo, daqui a pouco tem o Tony Ribeiro, ele vai cantar aqui.
— Quem? — perguntou Mariana Luz.
— Tu não sabes? — disse Luís Bandeira — aquele cantor da Luana? Ele tem
uma música que diz que chupar picolé é bom. Tu já chupou, Abdala?
— Não, eu prefiro a fruta que tem caroço.
— Vem cá! Vocês não me respeitam mais não? Que conversa indecente é
essa? Eu vou ali conversar com minhas amigas.
Os dois sorriram e foram para a mesa de quitutes.
As amigas com quem Mariana Luz foi encontrar eram as professoras Cotinha
Lima e Maria José Preta.
Enquanto as bandas revezavam na música, os convidados faziam suas rodas
de conversa e debatiam sobre política, economia e História de Itapecuru. De
repente uma carruagem se aproximou do portão e dela desceu José Gonçalves, o
mais aguardado da noite, grande responsável por criar a Vila de Itapecuru-Mirim.
Logo depois chegaram os jornalistas Zuzu Nahuz, Cândido de Morais e Pedro
Leal, o magistrado Públio Bandeira de Melo e o escritor Viriato Corrêa.
João Rodrigues conversava com Ozanam e Manir sobre a criação da Praça do
Pantheon Itapecuruense quando os escritores chegaram:
— Chegaram os literatos, espero que aquele Cardoso não venha; homem
asqueroso. — Disse João Rodrigues.
—Abdala não iria convidar um pulha daquele. — respondeu Ozanam.
Na primeira sala estavam se preparando para declamar poesias o poeta
Juvenal Nascimento, Astor Serra, João Batista e João Silveira, que estava feliz
com a chegada do amigo Zé Jorge e de JR que acabava de encontrar Bertolino.
Professores, músicos, médicos, políticos, escritores, administradores,
entre outros que contribuíram com a história do Caminho de Pedras Miúdas
estavam ali na festa dos 150 anos de emancipação política.
Quando Padre Albino Campos chegou para abençoar a festa ao
lado de Padre Benedito, todos que estavam distante do salão, se aproximaram,
inclusive a maior cozinheira das terras itapecuruenses, Mundica Sampaio, todos
queriam ver a bênção do Cônego Albino Campos.
— A bênção do Deus todo poderoso sobre esta comemoração dos 150 anos da
cidade da nossa querida Itapecuru-Mirim. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. Amém.
Como a festa durava apenas ao primeiro raiar do sol, evitou-se
discursos. A ordem era dançar, se alegrar saboreando as bebidas e os quitutes
da “Mãos de Fada”.
Mas um pouco distante dali, a cena mais bonita daquela noite de lua
crescente acontecia em meio ao marulhar das águas, a índia guerreira Jurema,
filha de Tupinambá, da tribo tapuia, sentada na poupa de sua canoa derramava
uma lágrima de amor por sua terra nas águas caudalosas do misterioso e velho
rio Itapecuru.
*Samira Fonseca é professora, romancista e dramaturga, itapecuruense.
😍👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigada pela leitura.
ExcluirMais um brilhante texto. Parabéns profa. Samira !
ResponderExcluirObrigada professora, por sua sua leitura.
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