Por volta de
1615 começaram ser povoadas as margens do rio Itapecuru, região de promissoras
terras férteis e abundante fauna.
Recebia a denominação de Itapecuru Grande, mais tarde Rosário de
Itapecuru Grande, por ser Nossa Senhora do Rosário, venerada como padroeira da
Ribeira do Rio Itapecuru. Não foi pacífica a ocupação da região. Houve confrontos e massacres entre
colonizadores, nativos e invasores.
A primeira informação sobre a organização
administrativa da povoação do Arraial da Feira, antiga denominação de Itapecuru
Mirim (ou Itapucuru Mirim) data de 17 novembro de 1751, quando o governador do
Maranhão, Luís de Vasconcelos Lobo, dirigiu ao Rei de Portugal, D. José o
seguinte documento, com 1094 assinaturas dos moradores, em face ao contínuo
desenvolvimento, (grafia da época):
Snr.
Pedem a V. Magde. Os moradores do Itapucuru lhe queira fazer amce. De lhe
conceder hua Villa, pareçeme que justamente pedem por q são os moradores tantos
como V. Magde. Pode mandar ver na
lista junta, epareçeme serão mais bem Governados, mais bem administrados a Justiça se V. Magde. For servido
conceder-lhe foral de
Villa com Justiças; Constante que andão fabricando Igreja Matriz de pedra mto. Bem
feyta por cuja rezão, parece se fazem credores da graça q pedem. V.Magde. Mandará
o q for servido. (História da Independência da Província do Maranhão, por Luís
Antônio Vieira da Silva).
Era um lugar
privilegiado pela situação geográfica, local de encontro de comerciantes das
Província do Piauí e povoações vizinhas constituindo um grande centro
comercial, palco de grandes feiras e exposições de gado.
Antes, porém, da mobilização dos
moradores do Arraial para concessão da almejada autonomia, já havia se
estabelecido na região um nobre irlandês, a poucos quilômetros da atual área
urbana de Itapecuru Mirim.
Um nobre nas terras de Itapecuru
Lancellot (Lourenço) Berford filho de Ricardo
Berford e Izabel Lowther descendente de antiga família de senhores feudais
irlandeses, nascido em Dublin, Irlanda em de julho de 1708. Deixou a Irlanda na adolescência, rumo a
Portugal, residindo alguns anos em Lisboa. Depois veio para o Brasil, se
instalando na Capitania do Maranhão por volta de 1736. Contraiu núpcias com
Dona Izabel de Andrade filha do Capitão Guilherme Ewerton, rico proprietário de
lavouras em Cajapió.
O
irlandês subindo o rio Itapecuru, com ideias arrojadas para a lavoura e
comércio, fundou à margem esquerda do rio o engenho Kelru, ainda na primeira
metade do século XVIII, dotando-o de igreja e cemitério. O engenho prosperou com o plantio, colheita e
industrialização dos frutos da terra com maior destaque para o arroz e
algodão. Segundo César Marques, foi o
maior fornecedor de arroz para a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, criada pelo Marquês
de Pombal em 1755.
Lourenço
Belfort comandou e ampliou o poder da família Belfort e transformou a povoação
em um dos centros políticos mais importantes do Maranhão, através da influência
de seu sobrenome e formando aliança por
meio de casamentos dos seus descendentes com membros das famílias mais
importantes do Maranhão à época. Do primeiro casamento nasceram os filhos:
Maria Madalena, Ricardo e Guilherme. Ficando viúvo contraiu novas núpcias em 22
de setembro de 1743, com Dona Anna Theresa de Jesus, filha do Capitão Phillipe
Marques da Silva e Dona Rosa Maria do Espírito Santo. Tiveram oito filhos: Roza
Maria, Francisca, Lourenço, João, Maria Joaquina, Ana Teresa, Antônio, e
Miguel.
Importantes Cargos que Ocupou
Ele
foi Almotacel (Oficial que fiscalizava os pesos, medidas e preços dos
alimentos) em 1744, 1750 e 1754; vereador de 1753 a 1759 e Juiz de Fora
interino. Em julho de 1758 o Rei D. José
de Portugal outorgou-lhe o Hábito da Ordem de Cristo e em 21 de junho de 1761 o
armou Cavaleiro da Ordem de Cristo na
igreja N.S. da Conceição em Lisboa.
Lourenço
Belfort exerceu altas funções como militar, foi capitão chegando ao posto de Mestre de Campo, nomeado a 22 de
agosto de 1768. Em São Luís, foi
proprietário da mais antiga casa comercial, (1756), no Largo do Carmo e
instalou a primeira fábrica de curtume e acessórios de couro na Praça do
Mercado, além de introduzir maquinário agrícola moderno para o cultivo do arroz
que era exportado para a Europa.
A família Lima em Kelru
Segundo
Osmyra A. Lima, no livro Mi-She-Rê (1982), “As terras da família Lima
pertenceram outrora ao conde Bedford ou Berford, um exilado irlandês, (...). O
nome passando por mutações acabou sendo Belfort”. Sobre a festa de São
Patrício, “O conde trouxe da Irlanda uma imensa tela do bispo irlandês Saint
Patrik, (São Patrício) pintada por um renomado mestre espanhol no século XVII e
retocada pelo famoso pintor, Manoel da Cunha (1837-1809), em 1879”.
Segundo
informações, existem só três telas do Padroeiro da Irlanda; duas estão em Nova
York e a de Kelru, até hoje sob os cuidados da família Lima.
Kelru
(Kilrue) é o nome do antigo castelo dos Belfort na Irlanda. A família Lima
mantém a memória da família e do povoado. No Arquivo Público do Maranhão existe
uma caderneta do ano de 1743 com registro minucioso dos negócios do irlandês,
naquele engenho, demonstrando alto nível da administração e até uma experiência com a criação de bicho
da seda. A produção da seda foi enviada a Portugal para confeccionar uma
vestimenta para o Rei, porém o solo de Kelru não acolheu o plantio das
amendoeiras a contento. Um poeta da época, louvando o irlandês, compôs o
seguinte poema:
Ainda praticou outro projeto,
Por fazer a lavoura mais rendosa,
Fazendo vir da Europa aquele inseto,
Que fia a rica seda preciosa:
Altíssimas palmeiras
Dão lugar a frondosas amoreiras,
Que dão pasto agradável,
Ao frondífero povo inumerável.
Porém o clima desta zona ardente,
Atenua a prolífica semente
E nunca pode ser climatizada:
Só uma porção fia,
Que à capital da Lusitânia envia,
De que o Rei entendido,
Para honrar o autor, faz um vestido.
A família
Lima está de posse da propriedade há mais de um século. O Major Lima adquiriu a
propriedade em 1911. Os herdeiros mantêm
a tradição, na conservação da “Casa Grande”, da Capela de São Patrício, a festa
no mês de março, e sua história (Vr.Major Lima). Transcrevemos a seguinte informação:
Lourenço
(Lancellot) Belfort fundou na margem esquerda do Itapicurú uma importante
fazenda, “Kylrue”, dotando-a de igreja e cemitério, como prova o seu
requerimento de 7 de
setembro de 1769 dirigido ao Vigário Geral do Bispado, Dr. Barboza Canaes, em que pedia licença para benzer a Capela, cuja obra já se encontrava terminada, tendo oitenta palmos
de cumprimento e trinta e cinco de largura, com coro, púlpito, tribunas e
sacristia; toda forrada e coberta de telhas. Por despacho do Cabido de 23 de
fevereiro de 1770, foi concedida licença para se celebrar o santo sacrifício da
missa e mais ofícios divinos. As custas dos autos montaram a 1.003 réis. Com o
correr do tempo e dos anos, ruiu este templo, já com o nome de Capela de São
Patrício. Ainda existem unicamente as paredes principais, e pertencem a uma das
fazendas do Barão de Anajatuba. (Anamaria Nunes Vieira Ferreira, descendente
dos Vieira e Belfort. familiavieiraferreira.blogspot.com.br).
O nobre
irlandês morreu em 1777. Seus descendentes prosperaram muitos dos quais se
destacaram como advogados, magistrados, barões, viscondes, políticos,
jornalistas, escritores e ricos proprietários de terras.
Do livro Itapecuruenses Notáveis de Jucey Santana lançado em
maio de 2016.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.
ResponderExcluirParabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.
ResponderExcluirParabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.
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