domingo, 24 de julho de 2016

LOURENÇO BELFORT



Por volta de 1615 começaram ser povoadas as margens do rio Itapecuru, região de promissoras terras férteis e abundante fauna.  Recebia a denominação de Itapecuru Grande, mais tarde Rosário de Itapecuru Grande, por ser Nossa Senhora do Rosário, venerada como padroeira da Ribeira do Rio Itapecuru. Não foi pacífica a ocupação da região.  Houve confrontos e massacres entre colonizadores, nativos e invasores.
  A primeira informação sobre a organização administrativa da povoação do Arraial da Feira, antiga denominação de Itapecuru Mirim (ou Itapucuru Mirim) data de 17 novembro de 1751, quando o governador do Maranhão, Luís de Vasconcelos Lobo, dirigiu ao Rei de Portugal, D. José o seguinte documento, com 1094 assinaturas dos moradores, em face ao contínuo desenvolvimento, (grafia da época):

                Snr. Pedem a V. Magde. Os moradores do Itapucuru lhe queira fazer amce. De lhe conceder hua Villa, pareçeme que justamente pedem por q são os moradores tantos como V. Magde. Pode         mandar ver na lista junta, epareçeme serão mais bem Governados,             mais bem administrados a Justiça se V. Magde. For servido                 conceder-lhe foral de Villa com Justiças; Constante que andão fabricando Igreja Matriz de pedra mto. Bem feyta por cuja rezão, parece se fazem credores da graça q pedem. V.Magde. Mandará o q for servido. (História da Independência da Província do Maranhão, por Luís Antônio Vieira da Silva).

Era um lugar privilegiado pela situação geográfica, local de encontro de comerciantes das Província do Piauí e povoações vizinhas constituindo um grande centro comercial, palco de grandes feiras e exposições de gado.
Antes, porém, da mobilização dos moradores do Arraial para concessão da almejada autonomia, já havia se estabelecido na região um nobre irlandês, a poucos quilômetros da atual área urbana de Itapecuru Mirim.

Um nobre nas terras de Itapecuru
                 Lancellot (Lourenço) Berford filho de Ricardo Berford e Izabel Lowther descendente de antiga família de senhores feudais irlandeses, nascido em Dublin, Irlanda em de julho de 1708.  Deixou a Irlanda na adolescência, rumo a Portugal, residindo alguns anos em Lisboa. Depois veio para o Brasil, se instalando na Capitania do Maranhão por volta de 1736. Contraiu núpcias com Dona Izabel de Andrade filha do Capitão Guilherme Ewerton, rico proprietário de lavouras em Cajapió.
                O irlandês subindo o rio Itapecuru, com ideias arrojadas para a lavoura e comércio, fundou à margem esquerda do rio o engenho Kelru, ainda na primeira metade do século XVIII, dotando-o de igreja e cemitério.  O engenho prosperou com o plantio, colheita e industrialização dos frutos da terra com maior destaque para o arroz e algodão.  Segundo César Marques, foi o maior fornecedor de arroz para a Companhia Geral   do Grão-Pará e Maranhão, criada pelo Marquês de Pombal em 1755.
                Lourenço Belfort comandou e ampliou o poder da família Belfort e transformou a povoação em um dos centros políticos mais importantes do Maranhão, através da influência de seu sobrenome e   formando aliança por meio de casamentos dos seus descendentes com membros das famílias mais importantes do Maranhão à época. Do primeiro casamento nasceram os filhos: Maria Madalena, Ricardo e Guilherme. Ficando viúvo contraiu novas núpcias em 22 de setembro de 1743, com Dona Anna Theresa de Jesus, filha do Capitão Phillipe Marques da Silva e Dona Rosa Maria do Espírito Santo. Tiveram oito filhos: Roza Maria, Francisca, Lourenço, João, Maria Joaquina, Ana Teresa, Antônio, e Miguel.

Importantes Cargos que Ocupou

                Ele foi Almotacel (Oficial que fiscalizava os pesos, medidas e preços dos alimentos) em 1744, 1750 e 1754; vereador de 1753 a 1759 e Juiz de Fora interino.  Em julho de 1758 o Rei D. José de Portugal outorgou-lhe o Hábito da Ordem de Cristo e em 21 de junho de 1761 o armou Cavaleiro da Ordem de Cristo   na igreja N.S. da Conceição em Lisboa.
                Lourenço Belfort exerceu altas funções como militar, foi capitão chegando ao   posto de Mestre de Campo, nomeado a 22 de agosto de 1768.  Em São Luís, foi proprietário da mais antiga casa comercial, (1756), no Largo do Carmo e instalou a primeira fábrica de curtume e acessórios de couro na Praça do Mercado, além de introduzir maquinário agrícola moderno para o cultivo do arroz que era exportado para a Europa.

A família Lima em Kelru
                Segundo Osmyra A. Lima, no livro Mi-She-Rê (1982), “As terras da família Lima pertenceram outrora ao conde Bedford ou Berford, um exilado irlandês, (...). O nome passando por mutações acabou sendo Belfort”. Sobre a festa de São Patrício, “O conde trouxe da Irlanda uma imensa tela do bispo irlandês Saint Patrik, (São Patrício) pintada por um renomado mestre espanhol no século XVII e retocada pelo famoso pintor, Manoel da Cunha (1837-1809), em 1879”.
Segundo informações, existem só três telas do Padroeiro da Irlanda; duas estão em Nova York e a de Kelru, até hoje sob os cuidados da família Lima.
Kelru (Kilrue) é o nome do antigo castelo dos Belfort na Irlanda. A família Lima mantém a memória da família e do povoado. No Arquivo Público do Maranhão existe uma caderneta do ano de 1743 com registro minucioso dos negócios do irlandês, naquele engenho, demonstrando alto nível da administração   e até uma experiência com a criação de bicho da seda. A produção da seda foi enviada a Portugal para confeccionar uma vestimenta para o Rei, porém o solo de Kelru não acolheu o plantio das amendoeiras a contento. Um poeta da época, louvando o irlandês, compôs o seguinte poema:

Ainda praticou outro projeto,
Por fazer a lavoura mais rendosa,
Fazendo vir da Europa aquele inseto,
Que fia a rica seda preciosa:
Altíssimas palmeiras
Dão lugar a frondosas amoreiras,
Que dão pasto agradável,
Ao frondífero povo inumerável.
Porém o clima desta zona ardente,
Atenua a prolífica semente
E nunca pode ser climatizada:
Só uma porção fia,
Que à capital da Lusitânia envia,
De que o Rei entendido,
Para honrar o autor, faz um vestido.

A família Lima está de posse da propriedade há mais de um século. O Major Lima adquiriu a propriedade em 1911.  Os herdeiros mantêm a tradição, na conservação da “Casa Grande”, da Capela de São Patrício, a festa no mês de março, e sua história (Vr.Major Lima).  Transcrevemos a seguinte informação:

                Lourenço (Lancellot) Belfort fundou na margem esquerda do Itapicurú uma importante fazenda, “Kylrue”, dotando-a de igreja e cemitério, como prova o seu requerimento de 7               de setembro de 1769 dirigido ao Vigário Geral do Bispado,           Dr. Barboza Canaes, em que pedia licença          para benzer a    Capela, cuja obra já se encontrava terminada, tendo oitenta palmos de cumprimento e trinta e cinco de largura, com coro, púlpito, tribunas e sacristia; toda forrada e coberta de telhas. Por despacho do Cabido de 23 de fevereiro de 1770, foi concedida licença para se celebrar o santo sacrifício da missa e mais ofícios divinos. As custas dos autos montaram a 1.003 réis. Com o correr do tempo e dos anos, ruiu este templo, já com o nome de Capela de São Patrício. Ainda existem unicamente as paredes principais, e pertencem a uma das fazendas do Barão de Anajatuba. (Anamaria Nunes Vieira Ferreira, descendente dos Vieira e Belfort. familiavieiraferreira.blogspot.com.br).

O nobre irlandês morreu em 1777. Seus descendentes prosperaram muitos dos quais se destacaram como advogados, magistrados, barões, viscondes, políticos, jornalistas, escritores e ricos proprietários de terras.
Do livro Itapecuruenses Notáveis de Jucey Santana lançado em maio de 2016.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.

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  3. Parabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.

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  4. Parabéns, Jucey, pelas informações da nossa história. Só uma pequena observação: a árvore de onde se extrai a fibra da seda é amoreira (de onde se colhem amoras). Tenho 3 pés no quintal.

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