sábado, 9 de maio de 2020

MÃE

    *Arquimedes Vale

É do nosso costume ver filhotes de mamíferos nascerem e em poucos minutos estarem de pé procurando as tetas maternas para iniciarem a sua lactação. Daí em diante a relação entre a mãe o filho resume-se a isso até o dia que, obrigatoriamente,  se separam.
Nós, gente, guardamos diferenças fundamentais destes nossos companheiros da classe mammalia. Nascemos nessa dependência e incapacidade precisando de ajuda para tudo expondo a nossa fragilidade absoluta para sobreviver.
Responsabilizamos por isso a própria evolução humana, alimentada por suas transgressões à natureza o que gerou comportamentos dependentes do emocional e alterações físicas adaptativas. A primeira incoerência gestacional vem da bipedestação que muda o centro de gravidade do abdome feminino, puxando a coluna vertebral para frente e sobrecarregando a pelve e os membros inferiores. As informações, conhecimentos, sentimentos e impulsos criativos que vão se acrescentando ao cérebro humano exigem que este tenha um tamanho cada vez maior, mas não há estímulos para alteração dos ossos pélvicos que permanecem formando o mesmo canal que não dará passagem a um crânio desproporcional. Então a solução da pobre mãe natureza, diante da insubordinação humana, foi fazer os filhotes dos homens nascerem antes do tempo, transferindo a responsabilidade da criação até a sua independência às mães.
Aqui começa a mãe.  Como se não bastasse a cessão do seu corpo para servir de oficina de fabricar filhos, a cessão da sua energia, dos seus alimentos, da sua defesa, da sua saúde e da sua dor tem que doá-lo à luz e suprir o seu cortejo de necessidades até um dia imprevisível.
Continua diluindo-se em vida para fornecer a riqueza da brancura do leite para que se transforme em carne e osso deste novo ser. Este poderoso alimento, que deve ser tirado da origem com força de beijo, serve de motivo para o fortalecimento do elo emocional entre mãe e filho. A amamentação tem troca de olhares profundos, veículos por onde o amor, como a emoção mais forte, entre ambos, planta em um o amor filial e no outro o amor materno, emoções diferentes com a mesma raiz.
Assim uma convivência, cheia de responsabilidades da mãe para condução do filho, vai expandindo a humanidade com suas variedades culturais porem sempre colocando a mãe no pedestal das benemerências.
Trazendo o assunto para nós, que hoje comemoramos O Dia das Mães, estamos a refletir sobre a estruturação familiar de um tempo passado, porem próximo, no qual vivemos.  Talvez o Dia das Mães, de 50 anos atrás, não tivesse a divulgação que tem hoje já que foi assumido pela mídia do consumismo, com o alarde da obrigação de transformar o amor em materialidade nos objetos. Quanto vale o carinho de um abraço? Uma xícara chinesa de plástico decorado? Um chinelo acolchoado? Uma batedeira de bolo? E a fartura emocional da transmissão de um beijo amoroso? Tem valor em bem material? Não para quem recebe.
O amor materno é o amor mais intenso, perfeito e duradouro de todos os sentimentos. É um amor que protege, que abriga, que doa, que perdoa, que acredita, que liberta, que não enxerga o negativo. Assim é a mãe. O monumento mais perfeito em homenagem ao amor. O maior repositório de bondade de todo o universo. O peito mais largo de todas as super-heroínas. O coração mais doce de todas as guloseimas.
Este é um breve e mínimo reconhecimento ao valor de todas as mães e para, os bons filhos.
Aproveito o momento para saudar a memória da minha querida mãe, que no próximo dia 20, deste mês de maio de 2020 estaria completando 104 anos. Como fazia todos dias, ao levantar e ao deitar, faço agora com a mesma contrição: “bênção minha mãe”  .
                                                    




*Arquimedes Viegas Vale,    Médico, professor universitário, articulista e poeta. Presidente da  Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES-MA). Membro fundador da Academia Sambentuense de Letras,  membro fundador da Academia Ludovicense de Letras,  e de várias outras instituições literárias.  Autor do livro Resíduos Cartesianos – Apologia do Abstrato - poesias, e muitos trabalhos científicos. Prêmio “Stella Leonardos” da UBE/RJ para o livro “APOLOGIA DO ABSTRATO” Medalhas Bicentenário da Justiça Militar – Brasil 2008. Newton Bello – Prefeitura de São Bento – 2013.

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