sábado, 9 de maio de 2020

SÁBIA MÃE




                Chove torrencialmente, o barulho da água batendo no solo e escorrendo ladeira abaixo era um espetáculo que me atemorizava. Fiquei lembrando que inicialmente, quando só chuviscava era bom sentir o cheiro de terra molhada, dando o verdadeiro sentido e de estar num lugar onde o verde predominava, a paisagem muito linda e certeza de que daquele solo fértil e abençoado nos proporcionaria todo o necessário para a subsistência de muitas pessoas e animais.

                Sabendo da necessidade da chuva para a sobrevivência de todos, eu procurava, então, conter minhas lágrimas, controlar o meu medo e a ansiedade até que a chuva passasse e voltasse a minha serenidade para desfrutar o clima ameno de pós chuva.

                Eu imaginava que aquele momento de solidão, demorava muito tempo, pois, na noite chuvosa, todos se recolhiam mais cedo do que o habitual e provavelmente seria uma noite mais longa. Quando ouvia os trovões, sentia muito medo e para me acalmar, mamãe dizia, que estavam arrastando a mesa e as cadeiras lá, lá lá ...no céu para organizar a casa do Senhor.- E os relâmpagos, que clareavam o mundo e parecia cortar o céu? – O relâmpago é rápido, serve para orientar alguém que ainda não chegou  em casa ou busca um abrigo seguro.

                Assim, ela ficava conversando e me convencendo que tudo era normal, procurando me acalmar até que o sono chegasse e vencia.

                 No dia seguinte, a terra molhada não me permitia sair para jogar pedrinhas, cinco Marias, a calçada e o chão estavam muito frios e úmidos para eu sentar. Então, para brincar no chão a alternativa de mãe cuidadosa era colocar no chão uma esteira de palha trançada, de coco babaçu, que também chamavam de meia saba, à minha disposição. Mais tarde, quando o sol ficava mais intenso, tudo voltava ao normal, podia correr no quintal, ficar na calçada brincando, enfim a minha alegria se restabelecia.

 
 
 
*Odarci Mesquita  de Sousa, poeta, cronista e pesquisadora, nasceu em Vargem Grande (MA). Em 21 de abril de 1946. Filha Francisco Alvino de Mesquita e Esperança Gonçalves de Mesquita. Graduada  Publicou em 2015 a obra  memorialista da sua  vida em Var Universidade do Maranhão – FUM (1970). Publicou um livro memorialista, Arquivo de Lembranças em 2015, que relatas suas memoria em sua cidade natal – Vargem Grande.  Membro fundador daAcademia Vargem0grandense de Letras e Artes.
   

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