Por: Josemar Lima
SÉRIE CRÔNICAS –
ANO II/nº 24/2015
Desde a
pré-história, a evolução está ligada à utilização da iluminação natural e
artificial. O desenvolvimento do cérebro está relacionado às funções da visão,
desde as formas de vidas mais primitivas até a espécie humana. As tribos
indígenas existentes às margens do Rio Itapecuru, presume-se há mais de 10 mil
anos, utilizavam a luz solar durante o dia e o fogo das fogueiras, abastecidas
com galhos e troncos de madeira, para iluminação noturna.
Os franceses e,
posteriormente, os portugueses chegados aqui no Maranhão no início de século
XVII, trouxeram na bagagem os lampiões abastecidos principalmente com óleo
baleia, entretanto essa inovação não era privilégio de todos. Os casebres que
iam se formando utilizavam-se da lamparina pré-histórica baseada no modelo
encontrado na gruta de Lascaux, na França, formado por um reservatório que
contém o combustível e um orifício onde se ateia fogo; emprega-se um pavio de
fio de algodão para conduzir o combustível à área externa do equipamento,
denominado bico.
A escolha do
tipo de óleo variava de acordo com a disponibilidade de materiais em cada
região. As cidades do litoral sul do Brasil, pelo fato de estarem próximas às
rotas migratórias de baleias, empregaram o óleo desses animais como combustível
para iluminação pública e doméstica.
No Maranhão, há
registros do uso da gordura do peixe-boi, no início dos tempos coloniais. Mais
tarde, o óleo de mamona tornou-se o combustível mais utilizado, dada a
abundância da planta nas diversas regiões do estado.
Famílias mais
ricas preferiam usar óleo de gergelim ou de oliva, este último importado, por
conta de proporcionarem chamas mais brilhantes e produzirem menos fumaça.
Utilizou-se também álcool na iluminação pública de São Luis a partir de 1854.
Na baixada
maranhense, obtinha-se óleo para iluminação a partir de pequenos peixes
denominados “piabas”, que apareciam em grandes cardumes em determinadas épocas
do ano, fenômeno que se observa ainda durante as primeiras chuvas do inverno em
alguns municípios daquela região. Lembro o festival da piaba, realizado
anualmente na cidade vizinha de Miranda do Norte.
Não se pode
esquecer o uso, principalmente na região do Vale do Itapecuru, da gordura de
bovinos, chamada sebo, que era empregada na fabricação de velas. A cera
produzida por abelhas também serviu para produzir velas, mas a exploração
desordenada provocou o desaparecimento do produto das áreas próximas às vilas e
cidades.
No final do
século XIX, por conta do desenvolvimento da indústria química, surgiram novos
combustíveis que substituíram os antigos óleos vegetais ou animais. O mais
popular deles, o querosene, alimentou e ainda alimenta lampiões e as lamparinas
nos rincões maranhenses aonde a energia elétrica ainda não chegou.
Os candelabros e castiçais que amparavam
as velas eram feitos de materiais diversos. Nas casas mais nobres, existiam
candelabros e castiçais de bronze e até de prata.
No século XIX,
com o advento da Revolução Industrial, apareceram equipamentos sofisticados,
como os lampiões a querosene e as luminárias que, além de serem ricamente
decorados, permitiam a regulagem da intensidade da chama, guarnecidos por
mangas de vidro, podiam ser usados em áreas abertas, pois não temiam o vento.
Vi muito em Itapecuru Mirim, residências de pessoas ricas ou remediadas que,
considerando a inconsistência da luz elétrica, possuíam lampiões da marca alemã
denominada petromax. Era um luxo para poucos!
A lamparina pré-histórica e
A iluminação
pública tem como provável origem a Inglaterra no ano de 1415, quando
comerciantes solicitaram alguma providência dos governantes para o combate ao
crime.
A iluminação
artificial dos espaços públicos com lampiões iniciou-se no século XVIII no
Brasil. A cidade do Rio de Janeiro, então capital do reino, foi a primeira a
contar com o serviço, que surgiu no ano de 1794.
No Maranhão, o
serviço de iluminação pública foi implantado em 1825, por meio de lampiões
abastecidos com óleo de mamona. Em 1854, passou-se a usar o álcool como
combustível. Só por volta de 1863 a capital do Maranhão passou a ser iluminada
por combustores a gás. Tal sistema exigia a existência de uma fábrica, o
gasômetro, que destilava gás do carvão mineral, produto importado da Europa, e
o distribuía pelos postes mediante tubulação subterrânea.
A cidade de
Itapecuru Mirim, um ao após a implantação do sistema de iluminação pública com
lampiões a gás em São Luis, também recebeu esse serviço então revolucionário em
termos de prestação de serviços públicos e também de tecnologia.
No dia 2 de
julho de 1864, conforme consta no livro O Dia a Dia do Itapecuru Mirim, de
autoria do nosso conterrâneo Benedito Bogea Buzar, o desembargador Miguel Joaquim
Ayres do Nascimento, vice-presidente do Maranhão, autorizou a colocação de seis
lampiões à base de gás liquefeito, o mesmo sistema de São Luis, na Vila de
Itapecuru Mirim. Assim, Itapecuru Mirim, passou a ser a segunda cidade do
Maranhão a contar com um serviço de iluminação pública a base de gás
liquefeito. Antes, em 1846, Alcântara teve instalados vinte lampiões, mas todos
tendo como combustível o óleo de mamona.
Não há
informações sobre onde foram instalados os seis lampiões a gás em Itapecuru
Mirim, mas tudo indica que eles iluminaram antiga Praça do Mercado, onde se
localizavam os principais prédios da cidade – a Cadeia Pública e a Igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Casa da Câmara.
Passaram-se
oitenta e cinco longos anos para que fosse dado o primeiro passo rumo à luz
elétrica, que já se instalara em São Luis desde 1924. Foi em 14 de novembro de
1938 que o interventor federal Paulo Ramos autorizou que o Departamento
Municipal publicasse no Diário Oficial do Estado o edital de concorrência
pública para instalação de luz elétrica em Itapecuru Mirim.
Mais onze anos
se passaram até que em 30 de dezembro de 1949, na presença do governador
Sebastião Archer da Silva, do secretário de Interior, Justiça e Segurança,
Alfredo Duailibe, de autoridades estaduais e municipais, o então prefeito
Miguel Fiquene inaugurasse a usina de energia elétrica da cidade, composta de
um poderoso motor CATERPILLAR a diesel, e um gerador também de alta potência
acoplado, conforme visualizado na foto autêntica e atual do equipamento.
As linhas de
distribuição se estendiam pelas principais avenidas e ruas da cidade, com
fiação de cobre, postes de madeira lavrada e em cada um deles uma lâmpada de
cem volts, protegidas por um pequeno abajur fixado na parte superior do poste.
O sistema permitia também a extensão de ramais para abastecimento residencial.
Foi uma
revolução para uma cidade que um dia contou com apenas seis lampiões a gás como
serviço de iluminação pública.
A chegada da
energia elétrica alterou profundamente a rotina dos então moradores da cidade,
mesmo com as limitações ainda existentes. A usina começava o seu funcionamento
às dezoito horas e funcionava, quando o motor não sofria nenhuma pane, e isso
acontecia constantemente, até às vinte e duas horas; mas antes, faltando quinze
minutos, era dado um sinal – apagavam-se todas as luzes por alguns segundos e
depois ela retornava.
Lembro-me do desespero
das pessoas que estavam assistindo filmes e a luz “piscava” e ficavam torcendo
para o filme terminar antes da energia ir embora. Isso aconteceu comigo várias
vezes, mas o pior mesmo era quando o filme era de terror e terminava junto com
a despedida da luz.
Corríamos, eu e
meus amigos da Rua da Boiada, de olhos fechados e com a lembrança das cenas do
filme na memória, passando pelo largo da igreja, naqueles tempos era um areal
só e lugar preferido para dormida das vacas. Os atropelamentos dos meninos medrosos com a vacas eram constantes e ai não tinha
como manter os olhos cerrados.
Só na década de
70, na administração do prefeito Raimundo Nonato Coelho Cassas, chegou a
energia da Usina Hidrelétrica de Boa Esperança, com posteamento de cimento
armado, fiação de alumínio, lâmpadas mais potentes e, o mais importante,
disponível durante as vinte e quatro horas do dia.
Um fato
inusitado e tragicômico aconteceu quando a chegada da energia de Boa Esperança
ainda era apenas especulação: Numa noite de inverno chegou um individuo na
residência do então prefeito, Professor JOÃO DA SILVA RODRIGUES, dizendo-se
engenheiro da CEMAR e que teria vindo para preparar as avenidas e ruas para a
colocação dos postes que estavam chegando na semana seguinte.
A Prefeitura
Municipal deu todo apoio logístico ao “engenheiro” e ele começou a cortar todas
as árvores que ornamentavam a cidade e até aquelas que ficavam em quintais
particulares, mas ele entendia que iam prejudicar a passagem da fiação. Foi um
verdadeiro desastre – ruas e avenidas entulhadas de cadáveres de mangueiras,
sapotizeiras, amendoeiras, etc...
Terminado o
massacre, o indivíduo desapareceu da cidade e depois se descobriu ser um
deficiente mental, um impostor, e não tinha nada de postes chegando. Foi um
choque muito grande para a cidade!
Fui testemunha
ocular do sofrimento do nosso honrado e querido prefeito JOÃO DA SILVA
RODRIGUES com os desdobramentos políticos e oportunistas desse trágico
episódio, mas a energia chegou e novas árvores nasceram na cidade...
E o motor
Caterpillar, como um gigante adormecido lá na Casa de Cultura, continua
sonhando que seu Chico Chofer, Nonatão ou Zé Domingos, por muitos anos
responsáveis pela sua manutenção, adentre num final de tarde por aquela porta
larga, apanhe a manivela e o faça roncar novamente como nos velhos tempos...
Mas, também, tem pesadelos de que algum desses gestores loucos, que sempre
aparecem de quando em vez, resolva um dia ter a brilhante ideia vendê-lo como
ferro velho...
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