Por: Benedita Azevedo
A literatura está
repleta de histórias de casais que separam, voltam, separam... Um cônjuge mata
o outro e tantas... e tantas... peripécias. Mas, nada se compara ao que
aconteceu com John e Mary.
Mary, moça que
parecia a todos um modelo de recato e meiguice foi abordada por John, numa
paquera de rua. Ela fugiu e se refugiou na primeira porta aberta que encontrou.
O jovem a seguiu e percebeu que ali era o seu ambiente de trabalho.
John perguntou a Mary se poderiam conversar em outro lugar. Preocupada com os olhares dos colegas de trabalho, passou seu cartão para livrar-se daquela incômoda presença.
Quase completando quarenta anos e muitos relacionamentos desfeitos, John atraía pretendentes pela beleza física. Loiro de um lindo olhar azul, cor do céu, parecia não combinar com a velha jaqueta de couro e sapatos furados de mesmo material.
Sentada à sua mesa da Casa de Empréstimos Consignados, onde trabalhava, Mary falou alto com os companheiros:
— Que cara estranho! Seguiu-me por todo o quarteirão. Tão
bonito, mas tão andrajoso!
Ninguém se importou com a observação de Mary.
Ninguém se importou com a observação de Mary.
No dia seguinte, com
o mesmo traje, lá estava John na esquina. Ela apressou o passo e entrou no
trabalho. Desta vez ele desistiu e desapareceu. Mary ficou cismada por alguns
dias, mas, o trabalho era intenso e acabou esquecendo.
Sua rotina de casa para o trabalho e do trabalho para casa foi quebrada quando, no início daquela noite, ainda com a luz do horário de verão, andando rápido para descontar o atraso de um cliente retardatário, viu despencar do bonde de Santa Tereza, um corpo bem à sua frente.
De coração agitado
pela cena inesperada, nem percebeu a lua brilhando sobre os Arcos da Lapa.
Parou para se recompor. Conhecia aquela roupa, aqueles sapatos... Não podia
ser, ela estava equivocada pelo stress do dia desgastante de trabalho. Olharia
ou não o rosto do infortunado homem? Um grupo de pessoas rodeou o infeliz. Mary
quase sem perceber, olhou para o local de onde o homem caíra. Deparou-se com a
luz fria da lua e não pode evitar uma exclamação diante daquele paradoxo. Por
que uma coisa assim acontecia no coração da “Cidade Maravilhosa”, em um dos
pontos mais bonitos do Centro? Naquele momento, um mendigo chegou com um
cobertor e cobriu o corpo.
Mary ficou
paralisada. Não conseguia sair do lugar. Com esforço deu alguns passos e ficou
ali olhando o corpo coberto... Uma vontade enorme de desvendar a identidade da
criatura. Seria alguém conhecido? Havia anos que trabalhava ali pela redondeza
e nunca vira cena tão chocante.
Um curioso afastou a
coberta e a moça pode ver o rosto de John ainda de olhos abertos, refletindo o
azul do céu da Lapa.
Rio de Janeiro, 10/01/2012
Grata pela publicação de meu conto. Fraterno abraço: Benedita Azevedo
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