João Carlos Pimentel
Cantanhede
Conceição
era uma bela jovem de tradicional família itapecuruense, que há anos morava e
estudava em São Luís. Todo ano ela ia passar férias e festas de fim de ano na
casa de seus pais.
Em
Itapecuru-Mirim, Conceição cultivava uma grande amizade com Rosa, amiga dos
tempos de infância, que desfavorecida financeiramente, nunca pode conhecer São
Luís. A viagem mais longa que ela havia feito era para o povoado Moreira, onde
residiam seus avós.
Já
estava se aproximando o final do ano de 1960, Conceição folheava atentamente as
páginas da revista “O Cruzeiro”, quando se deparou com dois belos modelos de
vestido com os seguintes dizeres: “Eis
algumas sugestões para que os seus vestidos não se pareçam com os de suas amigas.
”
Olha,
se tem uma coisa que mulher não suporta é encontrar alguém usando roupa igual à
sua! E assim, Conceição marcou a página da revista e, naquele mesmo dia,
procurou a sua costureira de confiança, pediu que lhe fizesse um vestido
conforme aquele modelo, mas não comentasse com ninguém, porque segundo ela “as
meninas de São Luís são invejosas. ”
Com
menos de uma semana, o vestido estava pronto, ela então o guardou a “sete
chaves” para que ninguém o visse e quisesse copiá-lo. Mesmo que ela só fosse
usá-lo em Itapecuru não queria que aquelas enxeridas de São Luís tivessem um
vestido igual ao seu.
Dias
depois, Conceição estava separando algumas coisas para mandar para Rosa.
Colocou um kit Cashmere Bouquet (água de colônia, pó de arroz e talco), esmalte
para unhas, uma dúzia de bobes, uma caixa de grampos, brilhantina e a edição da
revista “O Cruzeiro” da qual ela havia tirado o modelo para o seu vestido.
Era
23 de dezembro de 1960, quando Conceição chegou em Itapecuru-Mirim. A cidade
estava tomada por aquela atmosfera natalina com várias pessoas chegadas dos
interiores e também de outras cidades para compras ou para passarem o período
de festas com os familiares.
Conceição,
mesmo estando ainda bastante cansada da viagem de trem, nem bem chegou em casa,
na Rua Urbano Santos, perto do Colégio Mariana Luz, saiu logo, foi até à Rua
São Benedito visitar a sua amiga Rosa. Elas conversaram por longas horas, mas
por incrível que pareça, nada falaram sobre as roupas que usariam na festa. Despediram-se
e combinaram que passariam o Natal juntas na casa de Conceição.
Passada
a festa de Natal, os preparativos agora eram para o réveillon. As moças estavam
ansiosas pelo baile, e Conceição mais ainda, pois era a data tão aguardada para
estrear o seu belo vestido.
Na
noite de 31 de dezembro, ainda cedo, ela começou a se arrumar; depois pegou um
lampião Petromax, colocou ao lado do
toucador e ficou se mirando no espelho por longo tempo. Quando o relógio marcou
22 horas, ela e os seus pais se dirigiram para o baile. Ao chegarem no clube, a
orquestra parou de tocar para que todos pudessem apreciar aquela bela jovem,
orgulho da família e de toda a cidade. O seu vestido logo chamou a atenção das
mulheres presentes, principalmente as jovens.
Após
essa entrada triunfal, Conceição e família sentaram-se à mesa previamente
reservada. Mas conversa vai, conversa vem, ela olhava para todos os lados e
nada de ver Rosa.
Quando
já passava das 23 horas e a orquestra já havia tocado algumas valsas e duas
polcas, finalmente Rosa chegou. A sua chegada não fez a orquestra parar, tampouco
chamou a atenção das pessoas ali presentes. Porém, Conceição gelou quando viu o
vestido da amiga, que se aproximava, ainda suada da longa caminhada da Rua São
Benedito ao Centro da Cidade.
Quando Rosa chegou à mesa, Conceição estava pálida. Ela havia
reconhecido o vestido da amiga, era o modelo que estava ao lado do seu na
página 93, da edição de 22 de outubro de 1960, da revista “O Cruzeiro”, que ela
despreocupadamente havia enviado sem nunca imaginar que dali a amiga iria escolher
o vestido que mandaria fazer para usar no baile.
Conceição
comentou com Rosa o susto que passou ao ver o vestido dela. Rosa deu um sorriso
e disse que realmente sentiu vontade de mandar fazer o outro, mas percebeu que
ele estava circulado, e ao seu lado estava escrito: “ESTE!” Isso lhe serviu de aviso e impediu que ambas
usassem vestidos iguais na noite de réveillon.
Muito bom... a vida tem dessas coisas rsrs. Um abraço.
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