Por: Mauro Rego
Sempre
gostei de viajar de automóvel durante o mês de setembro, para apreciar as
floradas características dessa época, aqui no Maranhão. Este ano, parece que
houve um retardamento e, só em outubro, pude contemplar essa maravilha.
São
principalmente os ipês, com suas várias nuances, as árvores que mais dão cor à
paisagem: roxos, brancos, rosa e, mais bonitos, os amarelos. O ipê, que
chamamos vulgarmente de pau d’arco, durante as floradas, lança suas flores no
chão, produzindo um tapete encantador.
Não
só o ipê, mas com as espatólias, as buganvílias e os flamboiants, tornam a
paisagem inesquecível. E é nessa contemplação que a minha alma viaja no tempo,
buscando as recordações mais distantes e acendendo as saudades de outros tempos.
Hoje,
ao contemplar essa maravilha às margens da rodovia, lembrei-me de um pé de ipê
que se elevava defronte da casa de meus pais, exatamente na esquina da hoje
Praça Cívica, e me entristeço ao verificar que, para atender às exigências do
progresso, muitas árvores são destruídas.
Ali,
onde estava o meu pé de ipê amarelo, eu ainda conheci como a chácara de D.
Sofia Silva, com seus pés de abricó, jaqueiras, cajazeiras, bacurizeiros,
pitombeiras e muitas mangueiras de diferentes qualidades, que foi destruída na
administração do Prefeito Luís Magno Câmara, na época da ditadura de Vargas,
para que fosse construído, no centro, o Mercado Público Municipal, cuja maior
novidade era um poço coberto cuja água era retirada através de uma bomba
manual, já que naquela época não havia energia elétrica.
Restaram,
entretanto, o pé de ipê e uma mangueira frondosa na esquina da Rua Góis
Monteiro (hoje Manuel Rosa Mendonça) e a Rua Nina Rodrigues, debaixo da qual
uma grande tora de madeira lavrada cuja grossura era de aproximadamente cinquenta
centímetros de lado, que servia para as pessoas se refrescarem nos dias de
calor e estenderem esse tempo de lazer até a noite.
Essa
peça de madeira ficou conhecida pelo nome de “Pau da Paciência” e muitas
pessoas se revoltaram quando o Prefeito Saul Bogéa Rodrigues, que já havia
substituído o Mercado pelo Grupo Escolar Nina Rodrigues, decidiu derrubar a
mangueira sob o pretexto de ali ser local de reunião de desocupados.
Mas
o ipê ainda resistiu por alguns anos até que foi também derrubado, não sei em
que tempo. Para mim, a ausência daquele pau d’arco amarelo tirou a fascinação
da praça.
O
pau d’arco, ou ipê, é uma das árvores cuja madeira é considerada nobre,
servindo para confecção de moveis, principalmente aqueles mais requintados,
dotados de ornamentações e só era comparado, nesse mister, com o
jacarandá. Esse o motivo por que vem
sendo dizimado sem que haja um programa de reflorestamento capaz de evitar a
sua extinção.
Após
os setenta anos a nossa vida é minada de recordações. Quantas coisas da
infância são facilmente lembradas enquanto os acontecimentos mais recentes
parecem desaparecer de nossa memória. Louvo essa maturidade que valoriza as
coisas simples e pequeninas fazendo com que sintamos que não foi inútil viver.
E
quando a saudade evoca acontecimentos tão distantes, gosto de lembrar as
fantasias que criei ao me encantar com a beleza de meu ipê amarelo derramando
flores pelo chão como se fosse uma chuva de ouro. E, como as pessoas não percebiam esse
espetáculo, esse ouro era meu e com ele eu poderia comprar o império dos reis e os navios do mar.
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