segunda-feira, 7 de setembro de 2015

AS FLORADAS DE SETEMBRO


Por: Mauro Rego
            Sempre gostei de viajar de automóvel durante o mês de setembro, para apreciar as floradas características dessa época, aqui no Maranhão. Este ano, parece que houve um retardamento e, só em outubro, pude contemplar essa maravilha.
            São principalmente os ipês, com suas várias nuances, as árvores que mais dão cor à paisagem: roxos, brancos, rosa e, mais bonitos, os amarelos. O ipê, que chamamos vulgarmente de pau d’arco, durante as floradas, lança suas flores no chão, produzindo um tapete encantador.
            Não só o ipê, mas com as espatólias, as buganvílias e os flamboiants, tornam a paisagem inesquecível. E é nessa contemplação que a minha alma viaja no tempo, buscando as recordações mais distantes e acendendo as saudades de outros tempos.
            Hoje, ao contemplar essa maravilha às margens da rodovia, lembrei-me de um pé de ipê que se elevava defronte da casa de meus pais, exatamente na esquina da hoje Praça Cívica, e me entristeço ao verificar que, para atender às exigências do progresso, muitas árvores são destruídas.
            Ali, onde estava o meu pé de ipê amarelo, eu ainda conheci como a chácara de D. Sofia Silva, com seus pés de abricó, jaqueiras, cajazeiras, bacurizeiros, pitombeiras e muitas mangueiras de diferentes qualidades, que foi destruída na administração do Prefeito Luís Magno Câmara, na época da ditadura de Vargas, para que fosse construído, no centro, o Mercado Público Municipal, cuja maior novidade era um poço coberto cuja água era retirada através de uma bomba manual, já que naquela época não havia energia elétrica.
            Restaram, entretanto, o pé de ipê e uma mangueira frondosa na esquina da Rua Góis Monteiro (hoje Manuel Rosa Mendonça) e a Rua Nina Rodrigues, debaixo da qual uma grande tora de madeira lavrada cuja grossura era de aproximadamente cinquenta centímetros de lado, que servia para as pessoas se refrescarem nos dias de calor e estenderem esse tempo de lazer até a noite.
            Essa peça de madeira ficou conhecida pelo nome de “Pau da Paciência” e muitas pessoas se revoltaram quando o Prefeito Saul Bogéa Rodrigues, que já havia substituído o Mercado pelo Grupo Escolar Nina Rodrigues, decidiu derrubar a mangueira sob o pretexto de ali ser local de reunião de desocupados.
            Mas o ipê ainda resistiu por alguns anos até que foi também derrubado, não sei em que tempo. Para mim, a ausência daquele pau d’arco amarelo tirou a fascinação da praça.
            O pau d’arco, ou ipê, é uma das árvores cuja madeira é considerada nobre, servindo para confecção de moveis, principalmente aqueles mais requintados, dotados de ornamentações e só era comparado, nesse mister, com o jacarandá.  Esse o motivo por que vem sendo dizimado sem que haja um programa de reflorestamento capaz de evitar a sua extinção.
            Após os setenta anos a nossa vida é minada de recordações. Quantas coisas da infância são facilmente lembradas enquanto os acontecimentos mais recentes parecem desaparecer de nossa memória. Louvo essa maturidade que valoriza as coisas simples e pequeninas fazendo com que sintamos que não foi inútil viver.

            E quando a saudade evoca acontecimentos tão distantes, gosto de lembrar as fantasias que criei ao me encantar com a beleza de meu ipê amarelo derramando flores pelo chão como se fosse uma chuva de ouro.  E, como as pessoas não percebiam esse espetáculo, esse ouro era meu e com ele eu poderia comprar o império dos reis e os navios do mar.

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