DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO DA VIDA ALHEIA
Por:
Benedito Buzar
Semanas atrás, o confrade Jomar Moraes, requentou
um texto de sua autoria, publicado no século passado, em homenagem ao
aniversário de São Luis, sobre o Senado da Praça, importante Instituição desta
cidade.
Hoje, também, requentarei matéria de minha autoria,
publicada em O Imparcial, a 29 de maio de 1975, portanto, há quarenta anos,
sobre outra Instituição que marcou São Luís, o famoso DIVA ou
Departamento de Informação da Vida Alheia.
O saudoso comerciante José Mendonça, proprietário
do Foto Mendonça, localizado na Rua de Nazaré, foi um dos fundadores desse
movimento. Antes de sua partida para a eternidade, falou-me à vontade e sem
constrangimento a respeito da instituição que marcou época e era temida pelo
seu poder de fogo na arte de falar mal.
Para situar a entidade no tempo e no espaço, Mendonça
revela, como informação preliminar, o nome dos fundadores da Instituição:
Mimi Silva, tesoureiro do Estado, Luís Silva, funcionário do Banco do
Brasil, Amadeu Araújo, representante da Brahma, Antero Matos, comerciante,
Soriano Caldas, funcionário público aposentado, e o comerciante Benedito Silva.
Por volta de 1938, esse grupo se reunia na Praça
João Lisboa, das 19 às 21 horas, para conversar sobre variados assuntos.
Esgotada a pauta, outras conversas vinham a lume, acerca de fatos e atos da
sociedade maranhense, à época, não tão numerosa, portanto, ao alcance da língua
dos que gostavam falar da vida alheia.
Pelo fato de se reunirem todas as noites na mesma
hora e no mesmo lugar, aquelas pessoas passaram a ser alvo das atenções dos
olhares e dos ouvidos dos moradores da cidade, que supostamente a elas
atribuíam o prazer de falar mal da gente maranhense. Veio daí o nome de batismo
dado ao grupo: Departamento de Informação da Vida Alheia ou DIVA, sigla pela
qual ficou conhecida.
Foi graças a esse nome que o grupo ganhou
notoriedade e fama. Por isso, os que dela faziam parte não ficaram estomagados
ou aborrecidos com o batismo do povo. Afinal de contas, comentar e discutir
atos, ações e condutas de quem se comportava incorretamente ou infringisse as
regras e os costumes da sociedade, era coisa corriqueira nesta cidade que
habitualmente gostava e cultivava a arte de falar mal de tudo e de todos.
As reuniões do DIVA
praticamente não se realizavam durante o dia. Depois do jantar, eles rumavam
para a Praça João Lisboa, onde se juntavam e passavam em revista os
acontecimentos merecedores de comentários, criticas e censuras. Às vezes,
aos domingos, das 9 às 12 horas, reuniam-se, em caráter extraordinário, para
apreciar algum fato inesperado e de repercussão na cidade.
Só um assunto, durante um determinado tempo, deixou
de ser focalizado em suas reuniões: a política. Não por serem apolíticos ou
pouco se interessassem pelos negócios públicos de São Luís e do Maranhão. Mas
por causa da situação do país, então, sob o domínio da ditadura de Getúlio
Vargas e do interventor Paulo Ramos, que inibia qualquer tipo de reunião em
praça pública. O desacato a essa ordem, implicava em prisão.
Quando o Brasil entra na II Guerra Mundial, o DIVA,
também, viveu momentos aflitivos. Como o governo proibia a presença noturna de
gente nas ruas e praças da cidade, a casa de Benedito Silva, na Rua das
Barrocas, foi a alternativa encontrada para o grupo não se dispersar. Ali, se
reuniam e ouviam o noticiário transmitido diretamente da Inglaterra, pela Rádio
BBC, sobre o desenrolar do movimento belicoso.
Um fato, contudo, os deixou tristes e desolados. Na
gestão do prefeito Pedro Neiva de Santana, a prefeitura realizou ampla reforma
na Praça João Lisboa, que não ficou pedra sobre pedra. Por força disso, mudaram
de pouso. Tentaram se instalar em frente à igreja do Carmo, mas não se
adaptaram e nem ficaram à vontade. Decidiram se reunir nas imediações do prédio
dos Correios e Telégrafos.
Refeita a praça, o grupo volta a funcionar com
rigor e vigor, e ganha impulso qualitativo e quantitativo com o
ingresso de Franklin da Costa, José Dourado, Mário Rego, Tiago Silva e Evandro
Rocha.
Como toda organização que se preza, após essa fase
de fastígio, a Instituição vive uma temporada crítica, chegando mesmo a
dissolver-se por uns tempos, em decorrência do falecimento de alguns membros,
dentre os quais Antero Matos e Mimi Silva.
José Mendonça e Benedito Silva, remanescentes do
grupo, não se conformam e nem aceitam o engessamento da entidade,
principalmente porque o país se livrara do Estado Novo. Para conviverem com os
novos tempos, trouxeram para o seu convívio personalidades do nível de Castro
Barbosa, gerente da Sul América de Seguros, Alberto Bello, funcionário da
Alfândega, João Trindade, funcionário da Imprensa Oficial, Raimundo Moreira,
funcionário do Tesouro Nacional, e o comerciante Castro Gomes.
Mas essa turma não consegue sustentar a instituição
como nos outros tempos. Aos poucos e lentamente perde a importância e
deixa de ser referência na cidade, sobretudo porque pessoas estranhas e não
confiáveis passaram a frequentá-la. Resultado: o DIVA sai de cena e o seu lugar
é ocupado por outro grupo, este, politizado, razão pelo qual recebe o nome de
Senado da Praça, e segue a tradição da organização desaparecida: aprecia
a arte de falar da vida alheia, no suposto de que essa prática, segundo a
Organização Mundial da Saúde, faz bem à alma e ao corpo.
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