55 ANOS SEM SEUS MURMÚRIOS
Por:
Jucey Santana
Este ano de 2015 a nossa maior
poetisa completa 55 anos do seu falecimento, ocorrido em 14 de setembro de
1960. Faleceu aos 89 anos, sempre
escrevendo seus poemas, sentindo o murmurar em tudo; na natureza, na
chuva, na brisa, no canto dos passarinhos, nos risos das crianças, nos dobres
do sino, nos gemidos dos carros de bois, nos balidos das ovelhas, no barulho do
trem nos trilhos, no trotar dos cavalos, tudo era motivo de inspiração para sua
mágica “pena”, que transformava em poemas. Nunca parou de escrever.
Marianna Luz foi uma mulher na vanguarda do seu tempo. Ela não
temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu trabalho e talento. A exemplo de dedicar-se
ao magistério por quase 80 anos, como a
um sacerdócio; ajudar na educação de gerações e gerações de maranhenses; ser
pioneira em trabalhos artísticos e artesanais; fundar escolas; ajudar na
construção da igreja; fundar teatro; participar de grêmios literários; fazer
parte dos principais acontecimentos históricos, culturais e sociais da sua
cidade e se projetar como renomada poetisa,
angariando respeito em toda uma classe
literária, ao lado de gigantes da intelectualidade que criaram o fenômeno da “Atenas Brasileira” no cenário
estadual.
Sua história está vinculada na história da arte
literária, no momento mais expressivo da memória da poesia maranhense, com um
lastro de grande importância.
Registro o comentário do escritor e
pesquisador João Carlos Pimentel, sobre a importancia da poetisa para os
itapecuruenses: “Embora Gomes de Sousa tenha sido
infinitamente mais famoso, o seu legado para Itapecuru-Mirim, resume-se ao fato
de lá ter nascido. Já Mariana, (...) dedicou toda sua vida à educação, a
cultura e a igreja da sua terra. Para mim, ela é indiscutivelmente a filha/o
mais importante, pois a sua contribuição foi concreta e efetiva e não apenas um
famoso que ali nasceu e ainda criança migrou para São Luís/Rio de Janeiro/Europa
como foi o caso de Gomes de Sousa. Não quero com
isso diminuir a importância do gênio da matemática. E sim, dar o
verdadeiro reconhecimento a Mariana Luz. Ele é o filho mais ilustre e ela a
mais importante”.
Não parei de pesquisar Marianna
Luz. Tento localizar algumas das suas famosas peças teatrais. Fui informada
pelo professor Mauro Rego que poderia encontrar algumas em arquivos de antigos
moradores de Anajatuba ou seus herdeiros, onde apreciavam muito o seu talento,
quem sabe desenterre esses tesouros! Tenho também outros textos inéditos para
uma próxima edição do livro “Marianna Luz, vida e obra”. Ela me surpreende a
cada dia. Recentemente encontrei um poema,
que fez parte de um torneio literário do final do século XIX. Como não eram
permitidas mulheres naqueles torneios ela assinou como homem e fez bonito. Os
homens é claro, alardeavam a formosura de suas amadas, e Marianna Luz mostrou
também que tinha uma diva que superava qualquer outra, levando o leitor a
imaginar que se tratava realmente de um homem.
AOS
POETAS DO TORNEIO
Hector Moret
Poetas,
eu perdoo a ousadia,
Com
que dizeis que vossas bem amadas,
São
mais belas que as louras madrugadas
E
mais encantos tem, que a poesia.
Mas
forçoso me é um desagravo...
Não
conheceis por certo minha diva,
Essa
mulher, que ordena-me que viva,
De
quem me orgulho em ser humilde escravo!
É
longa e interessante a historia dela:
Despeitados
um dia loucamente,
Porém
os astros dizem ao onipotente:
Incomoda-nos
o brilho desta estrela.
Manda-a
daqui, não temos mais um seio,
Uma
alma docemente enamorada,
Que
em noite serena e perfumada
Por
nós suspira em doloroso enleio.
E
Deus, alma sublime e piedosa,
Apesar
de sentir ausência sua,
-
Eu vou manda-la, disse branca lua,
Vou
transforma-la em purpurina rosa,
Então
no prado, entre mimosas flores,
Entre
lírios tão puros como a neve,
Beijou-a
o colibri muito de leve,
Sentindo
o peito borbulhar de amores.
Não
mais o sol beijou as açucenas,
Não
mais os arrebóis das madrugadas,
Banharam
as corolas perfumadas,
Em
que adejavam rutilas falenas.
Descoraram
as flores de ciúmes,
E
em precioso bando matizado
Elevaram
ao céu todo anilado,
Suas
queixas envoltas de perfumes.
E
Deus tomando a flor tão peregrina,
Em
suas mãos de pai, bom e perfeito,
Formou-lhe
um coração dentro do peito
E
lhe deu uma alma lirial divina.
Vai
lhe disse: reinar, fulgir, vencer,
A
todas essas que se julgam bela,
Domina-as
com o olhar e diz a ela,
Que
fostes, Estrela, Flor e hoje és Mulher!
O Norte, (Barra do Corda)
13.8.1899
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo seria bom se aqui estivesse repleto de comentários! Parece que o desejo pelo conhecimento e pela intelectualidade foi substituído pelo mero desejo por coisas. Que pena! Que saudade de nossa Itapecuru dos tempos idos da época de Mariana Luz, Natim Ferraz, João Silveira e tantos outros que eram apaixonados pelas letras... Pela poesia, etc.
ResponderExcluir