No Dia
das Mães, invenção
da classe média e do
consumismo, deixemos de
Horroriza-nos tudo
isso. A tendência
é condenar: merecem execração
pública, cadeia,
até linchamento.
Algumas são criaturas que nunca
deveriam ter tido filhos,
megeras a desmerecer
o nome de mães.
Outras apenas vítimas
da miséria e da cultura
machista dos sem-classe-alguma, que estabeleceram ser apenas da mãe a
responsabilidade de arcar
com a criação
e sustento dos filhos.
É comum o abandono
da mulher grávida pelo amante, com apenas um “te vira”, “quem
disse que o filho
é meu?”.
Por
pobres e ignorantes
que as mães
sejam, excluídas as degeneradas ou
aquelas que, sob
o descontrole do puerpério,
cometem infanticídio, a esmagadora maioria assume a criação
dos filhos solitariamente. Um correr de
olhos sobre comadres, empregados domésticos e nossos
prestadores de pequenos serviços nos diz
quantas mães solteiras conhecemos
assumindo a posição de mães-de-família.
Muitas, não? E quantos
pais assumindo, sozinhos,
a criação dos filhos?
Contam-se nos dedos
de uma só mão.
As mães que
queimaram mãos e bocas
dos filhos acreditam que assim estão
“educando” os filhos,
evitando que se tornem ladrões e sem
caráter, perpetuando os ensinamentos que receberam dos pais.
Retribuem a violência sofrida na própria infância.
A que acorrentou a filha
de doze anos conta que
sai de casa pela
manhã para trabalhar e só volta à noite.
Alega que a menina,
se solta, sai para
a boca-de-fumo próxima. Deixam as crianças sozinhas, trancadas por não
ter como pagar alguém para cuidá-las, porque
não há creches
e nem escolas
em tempo
integral suficientes. Saem obrigatoriamente para trabalhar e, às vezes, para se divertir, que ninguém é de ferro,
esquecer um
pouco a miserável vida,
e provavelmente acrescentar mais
um rebento ao
rol dos infelizes.
Não
estou defendendo, nem justificando tortura de crianças. Digo apenas, a maioria é fruto
da ignorância e da miséria,
duas faces da mesma ignominia. Em vez de
ficarmos no horror, devíamos cobrar de nossos
representantes a demonstração de como são
aplicados os nossos impostos;
não votar em quem “rouba, mas
faz”, e muito menos
em quem
rouba e nem faz; observar os evidentes
indícios
de enriquecimento ilícito de políticos e expurgá-los nas próximas eleições, com o
cuidado de não
substituir uma raposa
de bolso cheio
por uma raposa
esperando para encher o
seu.
Não nos deixemos levar
por simpatias.
Senhor Candidato,
cadê o seu
programa? Assim vão
surgir melhores
condições de vida.
. Digo que
o principal problema
do Brasil é a falta de educação. Não confundir com instrução, apenas
parte do processo
educacional.
Se exigirmos e obtivermos Educação, no seu
sentido mais
abrangente, desde o lar, todo o resto nos virá por acréscimo. Quem é educado, não
polui, defende o meio-ambiente, cuida da higiene
pessoal, conhece as noções
básicas de saúde, não
usa de violência
e sim procura
o diálogo, cobra
de seus governantes
os seus direitos,
conhece e cumpre os seus deveres, respeita
os direitos alheios,
em suma:
é cidadão.
Talvez
assim possamos voltar
a falar de flores
no Dia das Mães.
*Ceres
Costa Fernandes Licenciada
em Letras pela UFMA, Mestra em Letras – pela
Pontifícia UniversidadeCatólica – PUC, RJ, Professora aposentada do Curso de Letras da UFMA;
Membro efetivo da Academia Maranhense de Letras; membro efetivo da Academia
Ludovicense de Letras. Cronista, contista e ensaísta. Da sua vasta produção literária
destacamos: Café Literário 2010 – 2014- Memória- São Luís . Edições AML. 2015; O narrador plural na obra de José Saramago.
São Luís. Edufma. 2015 3 ed.; Surrealismo & loucura
e outrosensaios.São Luís: Editora Uema,
2008; O narrador plural
na obra de José Saramago.São Luís: Lithograf, 2003, 2 ed.; O narrador plural na obra
de José Saramago. São Luís:
Edufma,1990; Apontamentos de literatura medieval
– literatura e religião.
São Luís:Edições AML, 2000; Último pecado capital & outras histórias- seleta.
São Luís: Edigraf, 2001, autora de
inúmeras crônicas publicadas em Blogs, jornais e no facebook.
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