sexta-feira, 15 de maio de 2020

CÉU ABERTO



À grande mãe
    *Antonio Ailton

Mamãe ontem você apareceu para mim de novo
Mãe, por que andas vagando insistentemente
sobre o cadáver dos meus arredores?
Por que tentas cuidar de cada achaque
de cada mosto e cada peste

que me acomete, mãe?
Em teu amor não entendes dos pesadelos
dos quais tenho que acordar todos os dias
para ir à geladeira beber água
e retornar para teu amor de pessoa ida, me amando

Mãe, me deixa dormir só por hoje
Tu mesmo me colocaste aqui onde estou
onde os filhos parecem prósperos e sem apelo
Porque tu os amaste a ponto de lutar por eles
em tua vida
e tua sombra
Mãe, te desenterro dum vestido chita

em monóculo de petúnias
És um aviso um chamado de ramos
porque o mundo onde estás, onde estiveste
não te cabe, mãe – nunca te coube 
no repetido pesadelo dos dias e desta noite
a céu aberto
como o útero insone
de onde as aberrações não descem



*Antonio Aílton  Santos Silva, natural de Bacabal-MA, 29/12/1968. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, pesquisador da poesia contemporânea brasileira. Formado em Letras Português/Francês e Mestre em Educação [Cultura e Imaginário na Educação] pela UFMA.  Especialista em Crítica da Literatura Contemporânea, pela UEMA.
Livros publicados:
-  Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015), 
- Os dias perambulados & outros Ortos girassóis (2008, Prêmio “Cidade do Recife” - Categoria Poesia), 
- As Habitações do Minotauro (2001, Prêmio Cidade de São Luís - Poesia)
-  Humanologia do eterno empenhoconflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado (ensaio, com o qual recebeu o Prêmio Cidade de São Luís.
Membro da Academia Ludovicense de Letras e da AMEI – Associação Maranhense de Escritores.

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