À grande mãe
*Antonio Ailton
Mamãe
ontem você apareceu para mim de novo
Mãe,
por que andas vagando insistentemente
sobre
o cadáver dos meus arredores?
Por
que tentas cuidar de cada achaque
de
cada mosto e cada peste
que
me acomete, mãe?
Em
teu amor não entendes dos pesadelos
dos
quais tenho que acordar todos os dias
para
ir à geladeira beber água
e
retornar para teu amor de pessoa ida, me amando
Mãe,
me deixa dormir só por hoje
Tu
mesmo me colocaste aqui onde estou
onde
os filhos parecem prósperos e sem apelo
Porque
tu os amaste a ponto de lutar por eles
em
tua vida
e tua
sombra
Mãe,
te desenterro dum vestido chita
em monóculo
de petúnias
És
um aviso um chamado de ramos
porque
o mundo onde estás, onde estiveste
não
te cabe, mãe – nunca te coube
no
repetido pesadelo dos dias e desta noite
a
céu aberto
como
o útero insone
de onde
as aberrações não descem
*Antonio Aílton Santos Silva, natural de Bacabal-MA, 29/12/1968. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, pesquisador da poesia contemporânea brasileira. Formado em Letras Português/Francês e Mestre em Educação [Cultura e Imaginário na Educação] pela UFMA. Especialista em Crítica da Literatura Contemporânea, pela UEMA.
Livros publicados:
- Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015),
- Os dias perambulados & outros Ortos girassóis (2008,
Prêmio “Cidade do Recife” - Categoria Poesia),
- As Habitações do Minotauro (2001, Prêmio Cidade de
São Luís - Poesia)
- Humanologia do eterno empenho: conflito e
movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado (ensaio, com
o qual recebeu o Prêmio Cidade de São Luís.
Membro da Academia Ludovicense de Letras e da AMEI – Associação
Maranhense de Escritores.
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