sábado, 9 de maio de 2020

MINHA INESQUECÍVEL LETRA M

         

*Míriam Angelim

Conversando com uma amiga sobre o olhar de minha mãe na fotografia colocada no meu perfil do WhatsApp disse-lhe que pela primeira vez havia percebido certa nostalgia no olhar dela.
Minha amiga com tranquilidade, observou:
- Discordo. Os olhos dela me passaram a impressão de alerta, vivacidade, observação e, sobretudo, precaução. Tristeza ou nostalgia? Jamais!
Considerando interessante essa observação feita pela minha amiga, refleti:
- Talvez a tristeza esteja no meu olhar interno. Seja tênue nostalgia no meu coração, com o sobrenome, saudade!
Ela não abandonou o assunto, e a resposta seguinte, por considerá-la correta, me encantou:
- A nossa natureza em seu egoísmo, torna dolorosa, nossa separação física das pessoas que amamos. Caso exista a tristeza interna, troque-a pela alegria. Alegria de ter tido o privilégio de conviver com essa bela criatura nesta passagem terrena, principalmente, pelo convívio tão íntimo: o abrigo uterino durante nove meses, depois fora do útero, a oportunidade de contemplação da existência do seu amor, atenção, e carinho durante as mamadas e a caminhada ao longo do seu desenvolvimento. Chame a isso de alegria, então a saudade de hoje, diante dessa foto, terá um novo sentimento, florescendo novo olhar!
Breves palavras para uma perfeita definição de mãe, como aquela que gera, abençoa, abriga, amamenta, acolhe continuamente, ensina, ama, protege e é capaz de doar a própria vida.
Ela, em sua explicação sobre o olhar da minha mãe, colocou a mulher mãe, como o Ser, a pessoa que ao amamentar doa o próprio sangue, e, ao gerar o filho doa a própria vida.
Margarida era o nome dessa mulher. Simplicidade em espírito e matéria. Corajosa! Como campesina e mulher do século passado em sua educação, estava a submissão como uma realidade da qual raras fugiam, mas seu espírito de coragem, determinação e ousadia levaram-na a mudar o destino da sua prole.
Margarida traz em seu nome, significado especial: pérola.
Uma pessoa especial, com qualidades como energia, compreensão,
empatia e doçura. Cuidadosa com tudo e com todos. Fiel no amor,
na amizade. Imagine uma mãe com esse nome, é a perfeição
personificada. Traz no âmago do próprio ser o poder biológico e a
missão cultural, além de um coração de mãe, reconhecido pelas
próprias batidas.
Margarida Miriam tinha aparência frágil e comprovada valentia. Corajosa no enfrentamento da vida. Serena na tomada de decisões. Suavidade na voz mesmo quando o interlocutor mal educadamente elevava a própria voz com rispidez.
Portadora de uma paciência inigualável se destacou como mãe segurando no colo o filho para amamentá-lo ou emprestando seu ouvido para escutar as lamúrias de pessoas sobrecarregadas de problemas.
Doutora na administração da escassez do substancial sustento material e espiritual da família.
Era uma apaixonada pelas músicas alegres de Luiz Gonzaga, o Rei do baião. Lembro também do seu encantamento com Cabelos Brancos, uma música e composição de Herivelto Martins e Marino Pinto. Ouviu essa música em uma reunião. A cantora viajaria naquela madrugada, decidida ela mandou alguém em nossa casa ir me buscar para que eu ouvindo, aprendesse.
Na travessia da vida como mulher e mãe, acompanhada de sua grande prole, caminhava em qualquer direção, sem perder a fé em Deus e com grande devoção à Mãe de Deus. Conseguiu educar filhos irmanados, solidários, harmonizados mesmo em suas diferenças.
Com naturalidade criou com os filhos forte vínculo afetivo.
Muito atenta nos cuidados básicos com a educação, saúde e segurança tendo como foco, a união da família, o respeito aos  idosos e aos mais frágeis, seguiu sua caminhada. Seu tempo não lhe permitia brincar com as crianças, brincavam essas, entre si.
Poucas vezes a ouvi contando histórias, mas era uma excelente ouvinte. Escutava como ninguém! Amou como ninguém!
Quando Marilyn French, considerada uma das maiores pensadoras feministas americanas escreveu seu livro Beyond Power (1985) o iniciou, afirmando: “No princípio era a Mãe, o Verbo veio depois”. Hoje encerrando minha crônica o faço, escrevendo:  no princípio era Margarida, a mãe, companheira, mantenedora, educadora. A grande prole, (“as Pinheiras”, como dizem meus cunhados) veio depois com fortes raízes. Raízes regadas, alimentadas, cultivadas nos ensinamentos dessa humilde, imbatível, silenciosa, inesquecível e grande Mãe. Grande Mulher, o
inesquecível M de mãe, matriarca e maravilhosa Margarida Miriam
Menezes Pinheiro.




*Miriam Leocádia Pinheiro Angelim, natural de São Bento (MA) é escritora, cronista e poeta.  Membro da Academia Sambentuense,  e da Academia Ludovicense de Letras, autora das obras: Açucena e Dançando com o tempo.  



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