Chove torrencialmente, o barulho
da água batendo no solo e escorrendo ladeira abaixo era um espetáculo que me
atemorizava. Fiquei lembrando que inicialmente, quando só chuviscava era bom
sentir o cheiro de terra molhada, dando o verdadeiro sentido e de estar num
lugar onde o verde predominava, a paisagem muito linda e certeza de que daquele
solo fértil e abençoado nos proporcionaria todo o necessário para a subsistência
de muitas pessoas e animais.
Sabendo da necessidade da chuva
para a sobrevivência de todos, eu procurava, então, conter minhas lágrimas, controlar
o meu medo e a ansiedade até que a chuva passasse e voltasse a minha serenidade
para desfrutar o clima ameno de pós chuva.
Eu imaginava que aquele momento
de solidão, demorava muito tempo, pois, na noite chuvosa, todos se recolhiam mais
cedo do que o habitual e provavelmente seria uma noite mais longa. Quando ouvia
os trovões, sentia muito medo e para me acalmar, mamãe dizia, que estavam
arrastando a mesa e as cadeiras lá, lá lá ...no céu para organizar a casa do
Senhor.- E os relâmpagos, que clareavam o mundo e parecia cortar o céu? – O
relâmpago é rápido, serve para orientar alguém que ainda não chegou em casa ou busca um abrigo seguro.
Assim, ela ficava conversando e
me convencendo que tudo era normal, procurando me acalmar até que o sono chegasse
e vencia.
No dia seguinte, a terra molhada não me permitia sair para jogar
pedrinhas, cinco Marias, a calçada e o chão estavam muito frios e úmidos para
eu sentar. Então, para brincar no chão a alternativa de mãe cuidadosa era colocar
no chão uma esteira de palha trançada, de coco babaçu, que também chamavam de
meia saba, à minha disposição. Mais tarde, quando o sol ficava mais intenso,
tudo voltava ao normal, podia correr no quintal, ficar na calçada brincando,
enfim a minha alegria se restabelecia.
*Odarci Mesquita de Sousa, poeta, cronista e pesquisadora, nasceu em Vargem Grande (MA). Em 21 de abril de 1946. Filha Francisco Alvino de Mesquita e Esperança Gonçalves de Mesquita. Graduada Publicou em 2015 a obra memorialista da sua vida em Var Universidade do Maranhão – FUM (1970). Publicou um livro memorialista, Arquivo de Lembranças em 2015, que relatas suas memoria em sua cidade natal – Vargem Grande. Membro fundador daAcademia Vargem0grandense de Letras e Artes.
Sãbia, Odarci, parabens querida!
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