sábado, 16 de maio de 2020

ANA RITA

         Um exemplo de amor ao próximo e a vida 

*César Brito 


Dentre os personagens que compõem a rica história da constituição social, cultural e política da cidade de Matinha – MA, Ana Rita é lembrança presente na memória daqueles que foram testemunhas oculares e vivenciaram a realidade e a necessidade de sobrepujar as dificuldades da vida. Uma narrativa constante no cotidiano da cidade nos dias atuais, sendo tema comum nas rodas de conversa, nas citações culturais e políticas, sempre contos de superação em que as famílias relembram-se da dureza e da precariedade de outrora, um transporte no tempo e na lembrança de quem viveu uma época de muitas adversidades em que ela, no exercício do seu sacerdócio enfrentou, pois nesse período, a missão de uma parteira era tão importante quanto a missão do vigário ou padre em uma comunidade.

          Exercia a profissão com dedicação e afinco. Fazia isso por uma única causa, vê a vida fluir, com comprometimento, solidariedade e amor ao próximo.

          Sinto-me especialmente atraído e fascinado pelo tema que primeiro trata da vida, segundo fala de fé, solidariedade e da valorização das pessoas humildes e por último, resgata as ações e acontecimentos em tempos passados que é a essência para alimentar meu ser filosófico.

          Ana Rita Amaral da Silva nasceu em 14 de fevereiro de 1920, era filha de Sebastião Justino da Silva (Sebastião Serra) e Rita Dolores Amaral da Silva, carinhosamente chamada pelos netos de Vovó Lôla. Das três filhas do casal, a primeira, Nely Silva Alves, como era de costume, tornou-se costureira, a segunda, Ana Rita, foi designada pelo pai para exercer o ofício de enfermeira, que para tanto, foi para a cidade de Teresina, capital do Piauí, fazer o curso Técnico em Enfermagem e Maria José da Silva Costa Leite, filha caçula, que pelos seus feitos também nos honra como Patronesse da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL.

          No período em que esteve estudando enfermagem, engravidou e deu a luz a seu único filho biológico, Carlos Augusto da Silva. Também, tomada pelo sentimento de solidariedade, uma vez que nos trabalhos de parto da própria irmã, Maria José, por complicações que comprometiam o nascimento do bebê, Ana Rita viu-se obrigada a literalmente quebrar o ombro do recém-nascido, sendo esta, naquele momento, a única opção viável para salvar as vidas da mãe e do filho.  Passados a comoção e o abalo do nascimento, pegou para criar como filho adotivo o sobrinho João Carlos da Silva Costa Leite e estando este com quatro anos de idade, sua tia (mãe de parto) o levou para sua casa e transformou todo o sentimento de culpa e remorso produzido por aquela experiência emocional traumática em uma adoção dotada de muito afeto, carinho e dedicação. Era chamada pelo filho biológico de “mamãezinha” e pelo filho adotivo de “Thcem”.

          Já formada no curso Técnico de Enfermagem, contrariando a regra geral da época, sim, porque comumente as parteiras eram dotadas de conhecimento empírico, com pouco ou nenhum estudo. Ana era uma mulher acima de seu tempo, humilde, morava em uma casa com pouca infra estrutura, religiosa, evangélica protestante, normalmente não cobrava pelos seus préstimos, mas, gentilmente aceitava presentes humildemente ofertados como prova da gratidão pelas famílias assistidas, geralmente eram do gênero alimentício tais como: galinha caipira, ovos, peixe, farinha, frutas entre outros.

          Estima-se que tenha feito mais de oito mil partos, mas, ela não representava apenas uma parteira, era como uma médica da cidade, receitando e aplicando medicamentos que curavam diversas enfermidades da época como: eclampsia, dores reumáticas, doenças virais, exames ginecológicos, curativos e até pessoas acometidas de depressão ou transtorno bipolar. O cansaço do dia a dia não representava empecilho quando requerida. Por diversas vezes mesmo já estando recolhida, eis que surgia uma nova emergência altas horas da noite, imediatamente, sem hesitar, se preparava com seus instrumentos e medicamentos e partia na garupa de um cavalo para mais uma missão em lugares distantes e de difícil acesso, dada a precariedade das estradas vicinais. Fazia isso pelo comprometimento do exercício da profissão, pelo amor ao próximo e pelo prazer em assistir e curar pessoas.

          Os filhos de Matinha nascidos em sua época vieram ao mundo pelas suas mãos. Muitos são os relatos de gratidão pelos seus préstimos às famílias matinhenses. Sou de uma família de onze irmãos, seis deles nascidos pelas mãos dessa “santa”, como era denominada por minha mãe, Dona Maria do Socorro Silva Brito, lembrando com emoção e riqueza de detalhes do nascimento dos filhos, como aconteceu, sempre contados com enorme sentimento de carinho, respeito e gratidão por Ana Rita.

          Também militou na política de Matinha, foi vereadora por três (3) mandatos e nas eleições do ano de 1976, surgiu como candidata a Vice-Prefeita da cidade ao lado do candidato a Prefeito, Sr. Pedro Carlos dos Santos, quando sofreu uma derrota para o então adversário Aristóteles Passos Araújo.

Ana Rita faleceu no dia 29 de junho de 2000, aos 79 anos.
Patronesse da Academia Matinhense de Ciências Artes e Letras – AMCAL, ocupante da Cadeira nº 04, a qual tenho a honra de ser Membro Titular.



*Carlos César Silva Brito, escritor, pesquisador e poeta,  nascido na cidade de Viana – MA, em 04 de dezembro de 1968.
- Graduado em Eletroeletrônica;                                 
- Pós-Graduação: MBA Gestão Empresarial, MBA Gestão Ambiental;
- Empresário, Business Consutlant;
- Auditor: Programas de Qualidade, Administrativo, Econômico e Financeiro;
- Membro Acadêmico fundador e Primeiro Presidente da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL, ocupante da cadeira nº 04, patroneada por Ana Rita Amaral da Silva;
- Diretor Executivo da Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA, como Tesoureiro da atual gestão;
- Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão – SCLMA;
 - Autor do livro: Minha terra minha origem; Lago Aquiri, Natureza matinhense.
-  Autor de várias crônicas que ressaltam a beleza de Viana e Matinha, cidades da Baixada Maranhense.

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