Um
exemplo de amor ao próximo e a vida
*César Brito
Dentre os personagens que compõem a
rica história da constituição social, cultural e política da cidade de Matinha
– MA, Ana Rita é lembrança presente na memória daqueles que foram testemunhas
oculares e vivenciaram a realidade e a necessidade de sobrepujar as
dificuldades da vida. Uma narrativa constante no cotidiano da cidade nos dias
atuais, sendo tema comum nas rodas de conversa, nas citações culturais e
políticas, sempre contos de superação em que as famílias relembram-se da dureza
e da precariedade de outrora, um transporte no tempo e na lembrança de quem
viveu uma época de muitas adversidades em que ela, no exercício do seu
sacerdócio enfrentou, pois nesse período, a missão de uma parteira era tão
importante quanto a missão do vigário ou padre em uma comunidade.
Exercia a profissão com dedicação e
afinco. Fazia isso por uma única causa, vê a vida fluir, com comprometimento,
solidariedade e amor ao próximo.
Sinto-me especialmente atraído e fascinado pelo tema que primeiro trata da vida, segundo fala de fé,
solidariedade e da valorização das pessoas humildes e por último, resgata as
ações e acontecimentos em tempos passados que é a essência para alimentar meu
ser filosófico.
Ana Rita Amaral da Silva nasceu em 14
de fevereiro de 1920, era filha de Sebastião Justino da Silva (Sebastião Serra)
e Rita Dolores Amaral da Silva, carinhosamente chamada pelos netos de Vovó
Lôla. Das três filhas do casal, a primeira, Nely Silva Alves, como era de costume,
tornou-se costureira, a segunda, Ana Rita, foi designada pelo pai para exercer
o ofício de enfermeira, que para tanto, foi para a cidade de Teresina, capital
do Piauí, fazer o curso Técnico em Enfermagem e Maria José da Silva Costa Leite,
filha caçula, que pelos seus feitos também nos honra como Patronesse da
Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL.
No período em que esteve estudando
enfermagem, engravidou e deu a luz a seu único filho biológico, Carlos Augusto
da Silva. Também, tomada pelo sentimento de solidariedade, uma vez que nos
trabalhos de parto da própria irmã, Maria José, por complicações que
comprometiam o nascimento do bebê, Ana Rita viu-se obrigada a literalmente
quebrar o ombro do recém-nascido, sendo esta, naquele momento, a única opção
viável para salvar as vidas da mãe e do filho.
Passados a comoção e o abalo do nascimento, pegou para criar como filho
adotivo o sobrinho João Carlos da Silva Costa Leite e estando este com quatro
anos de idade, sua tia (mãe de parto) o levou para sua casa e transformou todo
o sentimento de culpa e remorso produzido por aquela experiência emocional
traumática em uma adoção dotada de muito afeto, carinho e dedicação. Era
chamada pelo filho biológico de “mamãezinha” e pelo filho adotivo de “Thcem”.
Já formada no curso Técnico de
Enfermagem, contrariando a regra geral da época, sim, porque comumente as
parteiras eram dotadas de conhecimento empírico, com pouco ou nenhum estudo.
Ana era uma mulher acima de seu tempo, humilde, morava em uma casa com pouca
infra estrutura, religiosa, evangélica protestante, normalmente não cobrava
pelos seus préstimos, mas, gentilmente aceitava presentes humildemente
ofertados como prova da gratidão pelas famílias assistidas, geralmente eram do
gênero alimentício tais como: galinha caipira, ovos, peixe, farinha, frutas
entre outros.
Estima-se que tenha feito mais de oito
mil partos, mas, ela não representava apenas uma parteira, era como uma médica
da cidade, receitando e aplicando medicamentos que curavam diversas
enfermidades da época como: eclampsia, dores reumáticas, doenças virais, exames
ginecológicos, curativos e até pessoas acometidas de depressão ou transtorno
bipolar. O cansaço do dia a dia não representava empecilho quando requerida.
Por diversas vezes mesmo já estando recolhida, eis que surgia uma nova
emergência altas horas da noite, imediatamente, sem hesitar, se preparava com
seus instrumentos e medicamentos e partia na garupa de um cavalo para mais uma
missão em lugares distantes e de difícil acesso, dada a precariedade das
estradas vicinais. Fazia isso pelo comprometimento do exercício da profissão,
pelo amor ao próximo e pelo prazer em assistir e curar pessoas.
Os filhos de Matinha nascidos em sua
época vieram ao mundo pelas suas mãos. Muitos são os relatos de gratidão pelos
seus préstimos às famílias matinhenses. Sou de uma família de onze irmãos, seis
deles nascidos pelas mãos dessa “santa”, como era denominada por minha mãe,
Dona Maria do Socorro Silva Brito, lembrando com emoção e riqueza de detalhes
do nascimento dos filhos, como aconteceu, sempre contados com enorme sentimento
de carinho, respeito e gratidão por Ana Rita.
Também militou na política de Matinha,
foi vereadora por três (3) mandatos e nas eleições do ano de 1976, surgiu como
candidata a Vice-Prefeita da cidade ao lado do candidato a Prefeito, Sr. Pedro
Carlos dos Santos, quando sofreu uma derrota para o então adversário
Aristóteles Passos Araújo.
Ana
Rita faleceu no dia 29 de junho de 2000, aos 79 anos.
Patronesse
da Academia Matinhense de Ciências Artes e Letras – AMCAL, ocupante da Cadeira
nº 04, a qual tenho a honra de ser Membro Titular.
*Carlos
César Silva Brito,
escritor, pesquisador e poeta, nascido
na cidade de Viana – MA, em 04 de dezembro de 1968.
-
Graduado em Eletroeletrônica;
-
Pós-Graduação: MBA Gestão Empresarial, MBA Gestão Ambiental;
-
Auditor: Programas de Qualidade, Administrativo,
Econômico e Financeiro;
-
Membro Acadêmico fundador e Primeiro Presidente da Academia Matinhense de
Ciências, Artes e Letras – AMCAL, ocupante da cadeira nº 04, patroneada por Ana
Rita Amaral da Silva;
-
Diretor Executivo da Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA,
como Tesoureiro da atual gestão;
-
Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão – SCLMA;
- Autor
do livro: Minha terra minha origem; Lago Aquiri, Natureza matinhense.
- Autor
de várias crônicas que ressaltam a beleza de Viana e Matinha, cidades da
Baixada Maranhense.
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