segunda-feira, 25 de maio de 2020

MULHERES DE MAIO

                   25 de maio de 2020, uma forma de parabenizar, presentear e homenagear a professora e escritora Assenção Pessoa que neste dia faz aniversário.

Assenção Pessoa*

Quando pensava no que escrever sobre o mês de maio, mês do trabalho, mês das mulheres, mês das Marias. Maria, a mãe medianeira, a mãe do Salvador, a mãe de todas as mães, o mês do santo Rosário, o 5º mês gregoriano. Maio, da fertilidade, da deusa romana Bona Dea, ou será da deusa grega Maya, a grande mãe do poderoso deus Hermes? Pesquisei, encontrei a Árvore de maio, árvore da vida, símbolo auspicioso dos desejos, da força e da saúde. Árvore de Maio ou Maibaum (Alemanha), manifestação cultural de origem pagã relacionada a rituais da fertilidade, sob a invocação da deusa Maia. Na Europa, a primavera se mostra exuberante. No Brasil, é o mês primaveril por essência, o suave perfume das rosas e flores envolve em mistérios e sedução todo o maio, o perfeito mês das noivas.
Então decidi escrever para as mulheres de maio. Mulheres de Touro, mulheres de Gêmeos. Touro que na astrologia é regido por Vênus e Terra, e Gêmeos por Mercúrio e Marte. A experiência mental e a versatilidade fazem dessas mulheres por excelência seres amáveis, criativas, sedutoras, sensíveis. Sua sensualidade e seus encantos fazem do seu corpo e da sua espiritualidade, a passarela deixando os segredos da sua personalidade por conta da imaginação de quem as vislumbra com seus olhares.
Grandes personalidades femininas nascidas em maio trazem no seu perfil uma gigantesca e arrebatadora fortaleza. São mulheres objetivas, companheiras focadas. Também são sonhadoras e dedicadas à família. Regidas por Terra e Ar, as mulheres de Touro e Gêmeos trazem consigo a leveza, a ponderação, a praticidade, a determinação, e o desejo de realizar. Passeiam pelos campos do prazer e da sexualidade como se deslizassem na seiva mais suave e no néctar mais salutar. Tem na comunicação um estilo único que desfila sabiamente por todos os seus sentidos deixando-as enigmáticas e deslumbrantes. A mulher de maio fala até quando silencia.
A menina-mulher inocente, tímida é ao mesmo tempo, dotada de uma força impressionante, capaz de vencer os mais potenciais obstáculos. Mas, a história dessa mulher e da sua evolução feminina nunca foi fácil. É uma história de lutas contra as desigualdades, o preconceito e principalmente contra a cultura machista de um povo. Portanto, escrever, falar ou homenagear a mulher de maio é uma tarefa bastante complexa. É falar de suas lutas, da sua força e perseverança, das conquistas e derrotas. É falar de suas paixões, desilusões, de suas entregas, de seus amores. Uma mulher que teve seu papel renegado por séculos. Historicamente, sempre foi a submissa, a mãe. Foram mulheres sem vez, sem voz, sem sexualidade, vivendo no anonimato do seu lar. Mas, graças à sua inquietude, hoje essa mulher é verdadeiramente uma rosa desabrochando para sua vida e para seus direitos.
Das muitas mulheres de diferentes nacionalidades, nascidas em diferentes épocas, tenho como exemplo algumas delas nascidas em maio, de diferentes profissões, diferentes modos de ver, pensar, sentir e agir, mas todas com algo em comum: todas quebraram tabus, como por exemplo, de que o sexo feminino é sexo frágil. Assim, surpreenderam e revolucionaram ideais com seus feitos, tornando-se verdadeiros ícones na luta do empoderamento feminino.
Transcrevo neste texto a jovem francesa, ícone medieval, Joana D’Arc, nascida dia 30 de maio de 1431, na comuna de Domrémy-la-Pucelle, região de Lorena, França. Queimada em praça pública por defender suas ideias de liberdade, acusada de heresia e feitiçaria por um tribunal eclesiástico inglês e francês. Joana tinha somente 19 anos. A heroína, garantiu representativas vitórias ao exército francês durante a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), hoje é revisitada e reconsiderada, tida como a Santa Padroeira da França.
Outro exemplo é a feminista, revolucionária, jornalista, escritora, autora de várias peças francesas, a parisiense Olympe de Gouges, nascida em 07 de maio de 1748. Olympe era uma vanguardista. Defendia a emancipação das mulheres, a instituição do divórcio e o fim do trabalho escravo. À frente de um grupo de teatro formado apenas por mulheres, debatia suas ideias nas peças que escrevia. Defendia os direitos de liberdade, igualdade e fraternidade.
Frente à essas referências internacionais, às vezes não nos damos conta de que aqui no Brasil, a nossa casa,  também existiram e existem mulheres extraordinárias que lutaram contra os estereótipos que lhes foram impostos, revolucionando o cenário pátrio na política, na literatura, nas artes, na cultura, na ciência, enfim, em todas as áreas do conhecimento e da vida. 
Nascida em 26 de maio de 1979, a gaúcha escritora, roteirista, colunista e militante feminista Clara Averbuck  conseguiu se sobressair no cenário dos grandes escritores e roteirista mesmo tendo suas obras, no mundo da crítica literária, avaliada como literatura de consumo com influência da subcultura pop. Mas a popularidade de seus escritos fez com que essa autora chegasse ao teatro e ao cinema, como foi o caso de Máquina de Pinball (editora Conrad, 2002) que ganhou adaptação para o teatro. Dentre suas obras poderei ainda citar: Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante (2003), Cidade Grande no Escuro (2012), Eu Quero Ser Eu (2014), editora 7 Letras; Vida de Gato, editora Planeta, 2004. 
A mineira Maria Lacerda de Moura nascida em 16 de maio de 1887, escritora, cronista, pacifista e feminista. Militou sobre temas importantes como, direitos femininos, maternidade compulsória, antifascismo, amor livre e antimilitarismo. O feminismo, por não englobar mulheres negras e pobres; o comunismo, por semear grandes regalias no governo; o anarquismo, por ser tão drástico a ponto de não considerar estratégias de outros sistemas políticos. Como educadora adotou a doutrina da não violência como processo de luta social, adotando uma prática pedagógica contrapondo à ideologia dominante da sua época.
Quando penso em minha cidade natal, Itapecuru Mirim, me recordo de Benedita Azevedo, nascida em 10 de maio, de família humilde, simples, mas que carregavam consigo a disciplina e muito amor. Itapecuruense, Benedita, a filha do seu Euzébio e dona Rosenda sempre foi uma menina ativa e muito brincalhona. Tinha nas suas bonecas de pano, seu maior campo de criatividade. Por conta de sua intensa imaginação, hoje essa mulher é dona de uma produção de Haicais invejáveis. Escrevendo poemas de origem japonesa composto por três versos, Benedita consegue se fazer compreender e transmitir seus sentimentos mais nobres e ensinamentos mais pertinentes. Morando atualmente em Magé, RJ, nunca esquece de sua terra, prova dessa ligação é a sua participação na Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes como membro efetivo.
Não posso deixar de me reportar a Maria da Assenção Pessoa. Sendo mais uma das Marias, nascida em 25 de maio, sou suspeita para falar dessa mulher inovadora e criativa. De menina recatada à professora dedicada, filha de seu Antônio (Tusca) e dona Maria da Paz (Nhazinha). Esposa amorosa, mãe de quatro filhos, avó de seis netos. Uma pessoa de personalidade forte, bióloga por formação que defende com suas ideias e seus ideais de justiça com discrição e diplomacia, defensora das causas ecológicas primando pela defesa à vida e ao meio ambiente. Escritora de um público bem eclético popular, incluindo crianças e adolescentes, Assenção continua sua missão de educar, fazendo de seus livros a sua sala de aula estendida. Desperta por meio de suas publicações literárias as questões educacionais pertinentes à atualidade, a sexualidade, a história, cultura, geografia de seu município, Itapecuru Mirim. Vários títulos publicados, sendo o primeiro um livro de poemas, seguido por cinco obras de literatura infantil e infanto-juvenil (paradidáticos), dois pedagógicos, além de sua participação em antologias diversas.
Escolhi essas personalidades para homenagear todas as mulheres, anônimas ou não, nascidas em maio que também fazem história nas suas vidas e de seus familiares. Joana D’Arc, Clara Averbuck, Olympe de Gouges, Maria Moura, Benedita Azevedo e Assenção Pessoa apresentam, mas suas biografias e estilo de vida, afinidades que fazem dessas mulheres ícones especiais, pois além de terem nascidas em maio, pesquisando suas vidas percebi vários pontos de convergência entre elas. Benedita Azevedo e Assenção Pessoa, por exemplo, tem algo de muito familiar: Benedita era sobrinha de Filomena Suzana Lopes (da família dos Matos), da qual Assenção era bisneta. Será mais um dos mistérios da Árvore de maio para que reunisse justamente essas mulheres nessa homenagem?
 Para todas elas, as mulheres de maio, um poema que traduz toda sua essência feminina.


MULHER

Ao nascer, toda mulher traz
o sonho tosco da liberdade.
Jovem menina, ingênua, fugaz,
translumbra fonte de juventude.
De todas as formas e tamanho
a mulher é sempre um tesouro.
Poderosa, traça o seu caminho,
promessas dos anos vindouros.
Doce, melindrosa, romântica,
formas femininas em mutação.
Qual nosso ideal de mulher?
Empresária, confiante, atlética,
a Deusa de Vênus, sutil ação?
A fêmea amante, sempre o é.




* Maria da Assenção Lopes Pessoa, professora, escritora, membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes e da Sociedade Cultura Latina do Maranhão.

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