Por: João Carlos
Pimentel Cantanhede
Certo tempo, um homem se
dava com uma mulher, mas eles não eram casados. A casa dele ficava na beira do
rio e a dela numa floresta. Os encontros eram marcados por ela que sempre
dizia:
–
Você só deve aparecer aqui dia tal. E não venha nunca à noite!
–
Tá certo! – concordava ele, mas sempre ficava desconfiado.
Pensativo, ele decidiu fazer uma
surpresa a ela e descobrir o porquê de tanto mistério. Arrumou sua bagagem e
seguiu viagem. Chegou já à noitinha. Entrou na casa, mas para sua surpresa a
mulher não estava lá. Procurou em todo canto e nada. Olhou para cima e viu um
jirau perto da cumeeira, subiu nele e ficou escondido.
A
noite foi passando e nada dela chegar. De repente, entrou na casa uma onça
arrastando um porco enorme. O homem ficou quietinho no jirau morrendo de medo
da onça sentir o seu cheiro e querer devorá-lo.
Já
era madrugada, os galos começavam a trazer a luz do dia quando a onça adormeceu
e desvirou, voltando a ser mulher. Nesse momento, o homem desceu cuidadosamente
para não acordá-la e foi saindo de fininho na ponta dos pés. Andou cerca de cem
metros, olhou para trás e pensou:
–
É melhor esperar o dia amanhecer para visitá-la. Caso eu vá embora, pode ser
que ela sinta o meu cheiro e fique desconfiada.
Assim,
quando os raios do sol já penetravam as copas das árvores, o homem bateu na
porta da casa. A mulher despertou sonolenta e veio ver quem era o visitante
indesejado que aparecia em momento tão inoportuno. Ao olhar seu namorado, ela
levou um susto e reclamou:
–
O que você faz aqui? Nós não havíamos combinado os dias de nossos encontros!?
–
Eu sei! Mas estava com muita saudade. – respondeu, tentando evitar que a mulher
desconfiasse de algo. Ela espertamente pediu que ele ficasse lá o dia inteiro.
Quando
a noite abraçou a floresta, o homem montou no seu cavalo e partiu. Logo que se
afastou da casa, carregou sua pistola e ficou atento a tudo. Passou sobre
folhas secas que fizeram barulho, cerca de dois minutos depois ele ouviu o
mesmo barulho de algo passando sobre as folhas secas.
–
Ela está me seguindo. – pensou ele, sentindo um calafrio correr por todo o
corpo.
O
homem acelerou o passo até chegar a um pequeno lago cheio de sapinhos que
coaxavam alegremente, mas interromperam quando ele passava. Porém, logo que passou os sapinhos tornaram
a coaxar.
Quarenta
metros mais à frente, ele percebeu o silêncio dos sapinhos. – Ela está mais
perto! – pensou o homem sentindo o seu medo aumentar. Olhou uma árvore bem à frente
e subiu nela rapidamente. Do alto, com sua pistola em punho ele observava
atentamente.
Ao perceber a chegada da onça, o homem
rapidamente focou a lanterna direto nos olhos do bicho, e no mesmo instante
atirou: pááá!!!. Ouviu-se um esturro horrendo ecoando na floresta.
Somente
quando o dia amanheceu é que o homem desceu da árvore. No chão, encontrou
apenas sangue derramado. Nada de onça ou mulher. Ele ficou preocupado, porém um
pouco mais à frente estava uma criatura horrenda estirada no chão, metade mulher,
metade onça.
–
Está morta! – exclamou o homem aliviado.
Adaptação livre de um conto
transmitido por Raimundo Arcênio Cantanhede (meu pai)
João Carlos Pimentel Cantanhede,escritor, pesquisador é graduado em Educação Artística/Artes Plásticas (Licenciatura) pela Universidade Federal do Maranhão e tem especialização lato sensu em História do Maranhão pela Universidade Estadual do Maranhão . Publicou os livros Cantanhede: memórias terceiras,Veredas estéticas: fragmentos para uma história social das artes visuais no Maranhão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário