Por:
Jucey Santana
Itapecuru Mirim deu ao
mundo muitos filhos ilustres como: políticos, jornalistas, teatrólogos,
musicistas, escritores e poetas. Ao se falar em poesia sempre lembramos Mariana
Luz, porém outras mulheres brilhantes se destacaram na arte de poetar, no
município. Para citar algumas mulheres temos: Lili Bandeira, Zulmira Fonseca,
Maria Sampaio, Genésia Santos, Assenção Pessoa, Dinoca Rangel, Rosália Bandeira
de Melo e Blandina Santos.
Blandina Eloe dos Santos nasceu em Itapecuru-Mirim em 1º
de dezembro de 1883. Era filha do músico
e alfaiate Marcelino Antônio dos Santos e de Ambrosina Fonseca dos Santos.
Ainda no final do século XIX o seu pai mudou-se com a família para São Luis, com
o intuito de os negócios melhorar e dar uma melhor educação a seus
filhos. Na capital continuou trabalhando como músico e instalou a sua
conceituada alfaiataria na Rua de Nazaré, número 25, centro comercial.
Desde a escola primária, ainda em sua terra natal,
Blandina já dava mostras de seu talento poético, pelos versinhos incertos
dedicados as coleguinhas e as mestras. Residindo
em São Luis, aprovada para a Escola Normal “plenamente e com distinção” ,
onde destacou a sua inteligência juvenil para o magistério
e poesia, . Formou-se normalista em 1º de março de 1900.
Foi contemporânea e amiga de Mariana Luz. Juntas
militaram em prol da conquista do espaço da mulher nos círculos literários. Fez
parte de vários grupos de literatos de São Luis, onde era vista com muita
simpatia.
Blandina
e sua irmã a professora Genésia Santos foram alunas de música da Escola de
mestre Antônio Rayol. Como musicista além de professora, tocava na orquestra
dos irmãos Parga, cantava no coro da Igreja dos Remédios e fazia parte da
orquestra do conhecido músico Adelman Correia, participando de Festivais e
Concertos em São Luis e em outros Estados. (Jornal
do Pará, 26.1.1908)
Blandina
foi professora Pública Municipal, tendo sido uma das fundadoras da Sociedade
Pedagógica “Almir Nina” fundado em 24 de julho de 1912, fazendo parte da sua
diretoria. A instituição tinha por objetivos congregar os professores do
Estado, defender os seus direitos e zelar pelo aperfeiçoamento do ensino.
Além
de professora também foi musicista, escritora e poeta. Participou da corporação
de literatos, Renascença Literária, eleita como sócia colaboradora em 1903
e sócia fundadora Revista Literária, Nova
Athenas, cujo primeiro número circulou
em 12 de agosto de 1903 onde publica uma poesia com o título “Romazza”, em
quatro partes – que conta a história de
um amante que se ausentou da namorada e depois veio a encontra-la morta:
Quando ele a viu, fria e inerte,
Em enfeitado caixão,
A luz fugiu-lhe dos olhos
E o sangue do coração.
Também
fez parte juntamente com a irmã Genésia do quadro efetivo do Grêmio Literário
Artur Azevedo (1909), onde também figuravam como redatoras do jornal da
corporação. Segundo Crisóstomo de Souza em seu livro inédito, Páginas da
Saudade, “Os versos de Blandina são corretos e suaves, traduzindo a delicadeza
do seu sentir, sem arroubos de imaginação, porém, com essa impressionabilidade
casta do seu temperamento artístico. (...)
só as coisas de arte emocionam e
embelezam o espírito”
Blandina
colaborou com alguns jornais e revistas da época. Visitava com frequências
parentes e amigos da cidade de Itapecuru em período de férias.
Quanto
a sua família, Blandina era casada com o funcionário público Benedito Marcos
dos Santos. A sua irmã Genésia Maria dos Santos foi casada com o oficial da
Policia Militar, Joaquim Rosa. Era também professora, poetisa, oradora e
musicista. As irmãs Oritéia e Maria das
Neves foram professoras. O irmão Melquíades, poeta, faleceu ainda estudante do
curso de Farmácia em Belém. O outro
irmão Antônio dos Santos, depois de estudar no Liceu Maranhense, seguiu para
Milão, na Itália para completar os estudos, ingressou na conhecida Escola de
Construtores, onde brilhantemente recebeu o grau de construtor arquiteto.
Voltando à São Luis abre seu ateliê na Rua Afonso Pena, número 44.
Segundo
o jornal Diário de São Luis de 5 de janeiro de 1923p.3, “Antônio dos Santos é o
primeiro engenheiro arquiteto diplomado que o Maranhão nos dá, (...) que nos
honra”. Foi um profissional de grande destaque na sociedade maranhense.
São
exemplos de itapecuruenses que se destacaram por suas inteligências.
Blandina faleceu em 24 de agosto de 1941.
Transcrevemos soneto, que faz parte da coletânea, Sonetos Maranhense, (Crisóstomo
de Souza, 1924).
O Caburé
Blandina dos Santos
O Caburé, coitado, tanto pia,
Pia como uma tal nervosidade,
Parece que ele teme a noite fria,
Por isso, pia, pia de verdade!
Qual temor¹ Vejo bem que ele anuncia
Que a noite é de notável frialdade;
Com um trinado é como principia
O aviso de acautele-se à vontade...
Há um caburé que vive propalando
Que o calor ou a ilusão que o mundo tem
Corre veloz ao sol agonizando...
E o Caburé, sem dó, me diz também
Que o sol da minha vida está passando,
Que a minha noite fria aí vem!
Colaboração do pesquisador Luiz de Mello
e jornais da época.
O texto faz parte do livro
inédito, Itapecuruenses Notáveis de Jucey Santana
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