João Carlos Pimentel Cantanhede
A cidade de
Itapecuru-Mirim estava silenciosa e escura naquela noite. Não me recordo agora
o ano, o mês e nem o dia, mas sei que foi ainda na década de 1980. Eliene e
Helena, filhas de Dico de Cipriano voltavam de bicicleta do Colégio Leonel
Amorim.
Assim como a
cidade, elas também estavam em silêncio, o único barulho percebido era o da
velha bicicleta monark conduzida por Eliene, que trazia Helena na garupa. Desde
que saíram da escola não trocaram nem meia dúzia de palavras, tudo o que elas
queriam era chegar logo em casa, jantar e dormir.
Apesar da
escuridão, a cidade não metia medo, não havia nela nenhum desertor, malfazejo
ou coisa do tipo que pudesse tentar algo contra duas jovens, mesmo depois das
22h. Assim, elas mantinham essa rotina semanal indo e vindo de segunda à sexta
de casa para a escola e da escola para casa.
A casa delas
ficava cerca de um quilômetro de distância do Colégio Leonel Amorim, à direita
da praça dos jegues, um pouco depois da grota. Mas elas não vinham pelo Caminho
Grande, a sua rota era pela pista. Quatro ruas antes de chegar à subida do
“D.E.R”, dobravam para a esquerda.
Quando elas
estavam passando pela rua das mangueiras, um pouco antes do comércio do
Baixinho, Eliene observa um vulto andando na direção delas, e logo é tomada por
um grande pavor; sente um arrepio pelo corpo todo; e fica completamente
dominada pelo medo.
– Valha-me Deus! – suplicava em pensamento.
Enquanto isso,
Helena nada percebia, pois estava na garupa, sentada de lado e olhando para
outra direção.
Eliene pedalou
tão rápido, que ao chegarem à sua casa, a bicicleta acabou subindo num monte de
piçarra. Helena quase caiu, e até aquele momento não sabia o que estava
acontecendo. Minutos depois quando já estavam em segurança foi que Eliene
contou que havia visto um vira-bicho.
Os vira-bichos,
conforme contam os mais velhos, são homens ou mulheres que à noite se
transformam em criaturas quase do tamanho de um jumento e que roncam feito
porco. Eles ficam vagando à noite procurando pessoas para passarem por cima. Quando
o vira-bicho passa por cima de alguém, ele transfere a maldição para essa
pessoa.
Eu nunca vi um
vira-bicho, mas na dúvida, durmo sempre em rede alta para evitar que algum
deles queira passar por cima de mim.
A
ci
João Carlos Pimentel Cantanhede,escritor, pesquisador é graduado em Educação Artística/Artes Plásticas (Licenciatura) pela Universidade Federal do Maranhão e tem especialização lato sensu em História do Maranhão pela Universidade Estadual do Maranhão . Publicou os livros Cantanhede: memórias terceiras,Veredas estéticas: fragmentos para uma história social das artes visuais no Maranhão.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGente!!!!!! sou personagem desse conto... muito legal!!! amei...
ResponderExcluirUm grande abraço.
Obrigado!
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