Por:
Daniel Ribeiro
Passava das quatro da tarde quando Marcelino e
sua turma resolveram brincar de esconde-esconde dentro da área do hospital
Adélia Matos Fonseca, naquela extensão destinada a guardar os resíduos
hospitalares do pronto-socorro e todo o lixo produzido por lá, não obstante,
havia até um sumidouro onde vez ou outra um urubu brigava por uma placenta ou
coisas do gênero. Todavia, entre os meninos da Rua Coelho Neto havia um grande
fascínio por aquele lugar; carregado de misticismo, uma vez, que também ali se
localizava a pedra, ou melhor, dizendo o necrotério para onde eram destinados
todos os cadáveres que vinham a obtido no hospital. Os meninos adoravam o
campinho de areia debaixo das mangueiras, era perfeito na falta de uma quadra,
e também na época de manga, unia-se o útil ao agradável, diversão e um lanche
natural. Dentre os amigos estavam Doda, Zé da Macaxeira, Pedrinho, Douglas,
Manezinho e Panda, nomes de guerra da trupe, após intensa partida de futebol
jogada, brigada, suada e cheirando a manga, todos esperavam o anoitecer para um
dos grandes espetáculos daquele momento; a saída dos morcegos, direto do forro
do Adélia Matos. O extermínio de morcegos, uma competição que movimentava o
final da tarde, vencia aquele holocausto quem acertasse mais morcegos, no entanto,
manter uma boa mira e sustentar o bastão que geralmente foram galhos de
árvores, exigia disciplina, foco, muitas vezes, os morcegos é que acertavam
seus adversários exterminadores, o fato é que se consagrava vencedor quem mais
derrubasse aqueles mamíferos voadores. Então, Panda derrubara doze,
exterminando possíveis reflorestadores tal qual a contribuição dos morcegos a
natureza, a competição chegava ao fim quando soavam os gritos da mãe de
Marcelino chamando-o para tomar banho, pois já passava das sete da noite.
Claro
que a grande atração da meninada carregava consigo muito mais imponência,
estórias, e grande fascínio, pois, um monumento tão bem construído como aquele,
alto, alinhado, de uma engenharia a frente de seu tempo, quando fora
construído, despertava o interesse de qualquer adolescente de treze anos de
idade. O resquício de um passado glorioso que a cidade nunca tivera, a chaminé
foi o que restou de uma antiga indústria de açúcar ou álcool, que seria
produzido a partir da mandioca, não se sabe direito, pela falta de fontes
seguras, o que se sabe é que se instalara há muitos anos atrás, na volta da
década de 40, século XX, todavia, não foi pra frente. Contam os mais velhos que
muita gente enriqueceu com as ruinas possível fábrica. O certo é que o legado
que ficou transmitia muita engenhosidade na cabeça de Marcelino e sua turma,
todas as tardes, logo após realizarem as atividades da escola, os que
estudavam, reuniam-se em torno daquele edifício, existiam dois túneis que davam
acesso ao interior da chaminé, e no cerne da torre o vento fazia um barulho
esquisito e curioso; a escadaria de arcos de ferro levava até a topo e de lá a
vista era privilegiada, da cidade de Itapecuru, no exterior também tinha uma
escada que levava ao cume, porém ninguém se arriscaria a subir por fora.
Eis
que Marcelino resolve desafiar seus amigos:
-
Quem tem coragem de subir até o topo?
Sempre
afoito, antecipasse Manezinho, - eu subirei, mas com uma condição!
-
E qual é Mané? Doda
Manezinho, - vocês terão que trazer a Joaquina
até aqui pra eu ficar com ela!
Pedrinho
que maquiavelicamente planejava se vingar de Mané, aceitou a proposta e ficou
responsável por arranjar tal façanha.
Pedrinho,
- meu amigo não se preocupe eu mesmo arranjo tudo aqui na chaminé.
Acertado
tal acordo sobe o inexperiente Manezinho, não sabendo o mesmo que ali havia um
ninho de “suindara”, também conhecida como “rasga mortalha”, a coruja agorenta
muito sinistra, diziam os antigos que quando uma rasga mortalha voa sobre uma
casa e canta, é sinal que alguém vai morrer mito ou não, o que sucedeu foi que
manezinho fora atacado por uma suindara enfurecida visto que o menino
aproximou-se de seu ninho.
Todos riram muito de Manezinho ao descer todo
sujo e arranhado de coruja, satisfeito Pedrinho vingou-se e ainda se divertiu
muito naquela tarde. Voltando a jovem Joaquina, treze anos de idade, seduzia os
meninos da Coelho Neto sempre tirando proveito e pregando-lhes peças, vez ou outra
enganava Manezinho e Zé da Macaxeira, a chaminé também servirá de ponto de
encontro da molecada, nas noites o esconde-esconde servia apenas de desculpa
para Marcelino e Joaquina descobrirem os primeiros ensejos dos corpos ardentes,
entretanto, a doce menina que apaixonava alguns não se prendia a ninguém.
Assim aquela velha chaminé foi um grande
centro de descobertas aos meninos errantes da Rua Coelho Neto, ora
fascinando-os com sua engenharia desafiadora, ora causando-lhes medo, pois, no
período chuvoso alguns raios resolveram esculpir a antiga chaminé, já que o
para-raios há tempos não era trocado. O quartel general da turma de Marcelino
guardava consigo os sinais de um tempo que não voltará mais, todas às vezes,
que os amigos se encontravam para reviver os velhos tempos de infância.
Numa dessas voltas ao passado descobriram que
durante muito tempo brincaram e se divertiram sobre as ruínas de um grande
tesouro da história de sua cidade, Itapecuru-Mirim, todavia, ninguém nunca se
preocupou em preservar e retratar a história desse ponto histórico da cidade,
Douglas, da qual não relatamos foi o único dos antigos moradores dos arredores
da chaminé que retratou em seu livro; A chaminé dos meninos errantes, e desde
então, já ganhou vários prêmios e tem despertado o interesse de estudantes e
pesquisadores que pretendem manter viva a história de Itapecuru.
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