segunda-feira, 12 de outubro de 2015

AS ENCHENTES DO RIO ITAPECURU

Por: Tiago Oliveira 
         O ano de 2009 ficou marcado na história como uma das maiores cheias do Itapecuru, pois praticamente todas as cidades riberinhas do mesmo sofreram prejuizos materias, porém de Caxias até sua foz, este fenômeno teve nuances de catastrofe, um exemplo desta grande proporção pode ser vizualizada nesta imagem; tirada pelo morador, Sabino Bispo, que mostra a placa localizada na cabeceira da Ponte sobre o rio, no município de Itapecuru Mirim. O problema é que além das águas terem subido muito, estas passaram aproximadamente vinte (20) dias neste estágio, assustadoramente acima do seu leito normal, desalojando moradores das cidades e ribeirinhos, alagando plantações, matando animais afogados e talvez o pior de tudo conduzindo grande quantidade de lixo de toda a espécie para o leito do mesmo; exemplo o Bairro da Trizidela de Itapecuru – Mirim ficou totalmente coberto, e lembro-me de ter perguntado para um vereador se quando as águas baixassem o plano diretor da Cidade seria posto em pratica, para não permitir mais a volta desses moradores para esta área de risco, mas a resposta que eu ouvi, foi que isto não iria acontecer por se tratar de uma “medida imporpular”, ou seja, não dá votos. Porém, será que este foi um fenômeno isolado ao ano citado.
 Suas maiores cheias ocorrem entre os meses de fevereiro e maio e as maiores baixas entre os meses de agosto e novembro. O seu volume de água começa a ser aferido em Mirador, onde a média anual fica em torno de 17, 7 m³/s, na última estação fluviométrica, que fica no Município de Cantanhede a média anual fica em torno de 209m³/s; o seu recorde histórico catalogado foi, em maio de 1974 com 2.020m³/s e a mínima 36m³/s, em novembro de 1972 (IBGE, novembro de 2006). Sendo assim, a informação cita o ano de 1974 do século XX como marco de outra grande cheia, corroborando com o relato de vários pescadores entrevistados. No entanto, se dermos um salto ainda maior, para os primeiros registros das grandes enchentes encontramos as citações de (GAYOSO, 1843); GRAFIA DA ÉPOCA –

Quem sabe se acharemos a razão deste pequeno diluvio, na circunstancia de se haverem abatido os madeiros, que ficão nessas beiradas cujos os destroços tirando as barreiras o seu necessário amparo, forão precipitando as arêas no fundo rio, de que se originou o menor leito, para receber as águas do monte. O que he certo he que desde então pordiante, o rio se tem feito mais inavegavel, por causa dos muitos secos que impossibilitão o transito das canoas. No anno de 1788 ou 1789, foi tão extraordinaria esta afluencia de agoas, que passrão as febres a serem epidemicas: chegarão muitas cazas de alguns pobres a ficarem sem vivente algum. O que mais surprendeo nesta calamidade, foi não haver noticias alguma entre os mais antigos moradores, de ter havido no seu tempo huma tão prodigiosa enchente, nem tão pouco de haverem ficado allagados algumas cazas, em paragens baixas. Talvez aqui tenha aparecido os primeiros sinais da agreção humana ao Itapecuru relacionado as cheias desodernadas causadas pelas destruição das matas e ocupação irregulares.

Sobre o tema em foco, Veja o que diz: César Marques em seu Dicionário Histórico e Geográfico da Provincia do Maranhão, p. 342. 1870 - São Luís. Tipografia Frias .:Emchentes:

Em 1789 houve uma grande enchente que o Itapecuru chegou a medir duas (02) léguas de largura em alguns pontos; em 1805 ocorreu outra cheia similar a de 1789, desta vez trazendo grande epdemia para a população ribeirinha. As enchentes começaram a preocupar, pois com o aumento da população ribeirinha, consequetemente aumentou as agreções ao rio, por meio da agricultura praticada em suas margens e com a chegada dos vapores para o escoamento da produção; tanto as secas como as grandes cheias tornaram-se um problema que começou a ser explorado nos jornais da época. Por isso, em seguida aparecem a informação de duas grandes enchentes do Itapecuru a de 1875 e a de 1895. Observe esta matéria.  São Luís, Sexta – Feira, 05 de abril de 1895; Pacotilha. GRAFIA DA ÉPOCA. Itapecurú – Escrevem-nos: 
A velha cidade de Itapecurú proporciona a quem a visitou em época de verão e a revê agora. Um espetáculo singular e imponente, com a enchente do rio que a banha e que, transpondo, os esbarreiramentos de praia a largura da rua adjacente, chegou a invadir algumas casas que lhe eram perto.  Em dez dias o famoso rio galgou alturas que se suponha a salvo das suas águas, ainda no inverno o mais rigoroso e alastrou-se placidamente pela extensão que lhe ficava a margem, causando nas populações ribeirinhas um susto só comparável ao interesse com que, desde então se fala no crescimento das águas.
Quem vinha embarcado, saltava nesse tempo, num pequeno lugar plano, abaixo das barreiras da praia, subia por ela aproveitando o seu declive, transpunha adiante uma pontezinha de uns quatro metros de extensão de um metro e meio de largura, com corrimãos de mais de metro de altura e vencida umas pequenas distâncias em seguida. Estava numa das travessas que desembocam no rio...
[...] O rio crescendo sempre ia alargando seu domínio. Aqui e ali estendia, umas pequenas ramificações ou igarapés como aqui chamam. Invadindo cercados, os quintais e levando a humanidade a muitas braças de distância, onde, ao pisar-se, reconhecia-se encharcado o terreno.
[...] Dentro do estabelecimento que é do bom Velho Domingos Araújo, onde se pois cima d’água, que minando o prédio, o invadi-o subterraneamente, filtrando a água pelos tijolos. A casa comercial fronteira do Sr. Manoel Caetano Martins, um benemérito da localidade, está com as suas portas de frente e laterais fechadas para que o rio não a inunde.
[...] Perto do Caes, em um lugar fronteiro, umas mulheres pobres que ali tem umas casinhas em que se abrigão – lavam as roupas; tendo a água a banhar os seus pés.
[...] Em 1875, dizem, subiram tanto as águas que os vapores entravam pelas travessas e vinham quase á rua que fica imediatamente paralela a da praia.
         O grande jornalista Itapecuruense, Zuzu Nahuz, também fez registros destas enchentes, já que as mesmas são frequentes todos os anos, ou mais, ou menos, sendo ordinariamente a sua maior elevação no mês de abril. Lei sua crônica, abaixo:
Sexta Feira, 23 de janeiro de 1963 – Página 3. Correio do Nordeste. Crônica de Zuzu C. Nahuz – A Enchente de 19924.

Como me recordo de março de 1924, quando o Rio Itapecuru teve uma de suas maiores enchentes.As águas subiram assustadoramente tomando conta da estação da Estrada de Ferro e, ao lado da Cidade de Itapecuru até a Rua do Egito. Num domingo a tarde, papai resolveu levar seus familiares para um passeio de canoa, sob o comando do remador Vitor Almeida. Saimos as três horas da tarde e como me lembro da hora em que passamos dentro da estação do trem e que papai levantou a mão tocando a sineta[...]. A seguir temos outro registro de mais dessas interperes, pela qual o rio Itapecuru e a população necessitada já passou. Domingo, 10 de março de 1963. página 6. Correio do Nordeste - Rio Itapecuru alaga a São Luís – Teresina.
Vem causando sérias apreensões no ceio das populações visinhas, o fato de o Rio Itapecuru, com as últimas chuvas caidas no interior do Estado, ter subido de nível, a ponto de as suas águas haverem atingido a Estrada de Ferro São Luís – Teresina, desde o Km 210 até ao Km 216.Com o crescimento do volume das águas do Itapecuru, ocorreram diversos desmoronamentos de bareiras e aterros, fazendo com que a superitendência da REFESA neste Estado tendo adotado a medida extrema de suspender, até ulterior deliberação, o tráfego dos trens de passageiros e de cargas[...] Tão comum como as enchentes de grandes proporções é o fato de não haver nenhum estudo aprofundado sobre o tema, para minimizar os efeitos das próximas que virão, pois é notório que este caos é causado principalmente pela ação humana, ora qualquer cidadão com o minimo de consciência e visão de futuro percebe, que o futuro do do nosso Itapecuru é ser transformado em mais um “Tietê”, isto nas devidas proporções, porque no que diz respeito a sua utilização pelo homem as ações são similares. Então é só esperar a próxima enchente e ver o que acontece. Tão grave quanto as grandes cheias são as secas prolongadas, que já se tornaram tão comum, que não causa espanto aos menos desavisados, mas vale lembrar que o Itapecuru é a única, ou a principal fonte de água potável para boa parte da população maranhense e com a duplicação da captação para abastecer São Luís o problema vai agravar. Veja esta noticia:
Jornal - A Campanha, 18 de outubro de 1902. Rio Itapecurú – GRAFIA DA ÉPOCA Continua no rio Itapecurú rigorosa seca, dando lugar aqui os vapores que fazem a navegação até Caxias, gastem com uma viagem de ida e volta de 15 a 17 dias. 
Atualmente o volume de água do rio está tão baixo, que até mesmo as pequenas canoas, que são movidas a motores rabetas, tem dificuldade para vencer os trechos mais secos, já que em alguns lugares a profundidade não ultrapassa um metro. Por isso, no próximo tópico deste livro, serão expostos os principais tipos de agressão ao rio.
 O texto faz parte do livro inédito “Caminhos do Itapecuru” de autoria do professor Tiago Oliveira.



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