E O RIO MOSTRA SUAS VÍSCERAS
Por: Josemar
Lima série crônicas – II/nº 22/2015
Foi no dia 20 de outubro de 1818 que a
então Povoação de Itapecuru-Mirim transformou-se na Vila de Itapecuru-Mirim.
Naquela época existiam aqui 138 edificações, a grande maioria casebres com
paredes de taipa e cobertura de palha de babaçu, que abrigavam uma população de
767 indivíduos. Isso aconteceu faz exatamente 197 anos.
A solenidade aconteceu na Praça da Cruz,
com a presença do clero, nobreza e povo. Foi levantado o pelourinho, uma coluna
de pedra colocada num lugar público, onde eram punidos e expostos os
criminosos. Uma espécie de instrumento
da jurisdição imperial. Foram eleitos dois juízes ordinários e um juiz de
órfãos, vereadores e as oficinas na forma da lei.
Creio que alguma instituição local
aproveitará o ensejo para celebrar esse importante passo que nossa povoação deu
no seu processo de evolução administrativa.
Leio no Blog da amiga Jucey Santana que
foi encontrado no leito do Rio Itapecuru os destroços de um Barco a Vapor e que
a AICLA se mobilizou junto ao Ministério Público Estadual no sentido de que tão
importante achado possa ser incorporado ao nosso patrimônio histórico, para
estudos e pesquisas visando situar esse evento, não registrado em nossa
história, na sua devida linha de tempo e tentar desvendar a história desse
naufrágio.
Até o inicio do
século XX, o rio Itapecuru era a principal via de escoamento da produção
regional. Sua importância a nível estadual era grande devido ao fato de ser o
canal de transporte de produtos do interior até a capital. Com a construção da
estrada de ferro São Luís/Teresina, na década de vinte, paralela ao rio e
posteriormente com o asfaltamento da BR-135 na década de sessenta, o rio perdeu
esta função.
A navegação a
vapor nesse rio estendia-se de São Luís até Caxias. Daí por diante (trecho de
pequenas corredeiras) a navegação se fazia de lanchas até Colinas.
O primeiro
obstáculo à navegação da foz à nascente é a cachoeira de Vera Cruz, localizada
no município de Rosário/Ma, só transposta em preamar. Daí se estendia, na
baixada, uma larga zona, até Itapecuru -Mirim, francamente navegável. À
montante da cidade de Itapecuru, entrava-se na zona crítica dos “secos”, que
dificultava seriamente a navegação dos Barcos a Vapor.
A navegabilidade
também se tornou prejudicada pela formação de bancos de areia, resultante do
assoreamento que obstruía os principais canais, dificultando a passagem de
embarcações de tamanho médio, principalmente no período de estiagem.
Jerônimo de Viveiros, em “A História do Comércio do Maranhão”, diz que Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, em plena Balaiada (1840), reconhecendo a necessidade da navegação fluvial para jugular a revolução, pediu à Assembleia privilégios de vinte anos à companhia que quisesse explorar a navegação. Somente em 1849, o legislativo maranhense resolveu estimular a iniciativa privada, autorizando um vultoso empréstimo sem juros a quem fizesse a navegação a vapor no Rio Itapecuru, sendo Caxias o ponto terminal da linha e Rosário, Itapecuru Mirim, Coroatá e Codó portos de escala.
Jerônimo de Viveiros, em “A História do Comércio do Maranhão”, diz que Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, em plena Balaiada (1840), reconhecendo a necessidade da navegação fluvial para jugular a revolução, pediu à Assembleia privilégios de vinte anos à companhia que quisesse explorar a navegação. Somente em 1849, o legislativo maranhense resolveu estimular a iniciativa privada, autorizando um vultoso empréstimo sem juros a quem fizesse a navegação a vapor no Rio Itapecuru, sendo Caxias o ponto terminal da linha e Rosário, Itapecuru Mirim, Coroatá e Codó portos de escala.
Requereu a
concessão a casa comercial de Domingos da Silva Porto, já a beira da falência,
que importou o navio “Caxiense” de quarenta cavalos de força. Nos primeiros
dias do mês de maio do ano de 1849, chegou a Rosário o navio a vapor, o gaiola
"Caxiense", da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão, que fazia
a viagem inaugural de São Luís à Caxias, iniciando assim um período de
comunicação e comércio mais intenso da capital da província ao interior.
Navegou apenas dois anos, e, imprestável, foi encostado.
Teixeira Mendes organizou,
com as firmas Leite & Irmãos e José Pedro dos Santos & Irmão a Empresa
de Navegação a Vapor dos Rios do Maranhão e firmou contrato em 1856 com o
Governo da Província.
O primeiro trecho,
de São Luís a Rosário, era feito por navios de setenta a cem cavalos de força e
o segundo, de Rosário a Caxias, por vapores de quarenta a cinquenta. Teixeira
Mendes foi buscar na Europa o primeiro navio da Companhia, chamado
“Pindaré”.
A Companhia
prosperou, e em 1870 já possuía nove vapores, sendo o de maior comprimento o
chamado “Maranhão” com 176 pés e capacidade de 150 toneladas. O de maior
capacidade era o Gurupi, com 156 pés de comprimento e capaz de transportar 411
toneladas. A linha costeira do Rio Itapecuru foi de longe a mais rentável
em relação às outras seis linhas operadas no estado do Maranhão.
Toda a industrialização das cidades ribeirinhas no inicio do século vinte, utilizou o rio para transportar as máquinas. Vinham caldeiras, teares, roldanas, polias, prensas e todos os componentes importados da Inglaterra. Eram utilizados batelões puxados por resistentes navios gaiolas.
Toda a industrialização das cidades ribeirinhas no inicio do século vinte, utilizou o rio para transportar as máquinas. Vinham caldeiras, teares, roldanas, polias, prensas e todos os componentes importados da Inglaterra. Eram utilizados batelões puxados por resistentes navios gaiolas.
Os vapores mais
conhecidos foram: "São Pedro", "Rui Barbosa", "Gomes
de Castro", "São Salvador", "Ipiranga", "O
Maranhense", "São Paulo", "Santo Antônio",
"Carlos Coelho" e "Balão". O "Gomes de Castro"
foi um dos primeiros a navegar nas águas do Rio Itapecuru.
Anos depois, o "O Maranhense"
naufragou adiante do porto da Gameleira, tendo sido trazido para a cidade de
Codó, uma de suas partes, pelo conceituado médico da cidade, Dr. José Anselmo
de Freitas. Destino igual ao "O Maranhense” tiveram também "Carlos
Coelho" que naufragou em águas do rio Mearim, e o "São
Salvador", que transportara o presidente Afonso Pena, quando de sua viagem
até Caxias, naufragou num lugar chamado Caixeira, no município de Rosário, anos
depois.
A navegação no Rio
Itapecuru marcou uma época em nossa história, trazendo o desenvolvimento ao
interior do estado. Hoje, diferente do passado, o rio é visto pela população
maranhense como fonte estratégica de água, para os centros urbanos,
principalmente para os moradores da Ilha de São Luís.
Vimos, portanto,
que nos tempos áureos da navegação a vapor, pelo menos onze dessas máquinas
revolucionárias, cujas caldeiras eram abastecidas por lenha coletada às margens
do próprio rio, navegavam por essa imensa avenida hídrica que se estendia de
São Luis à Caxias, aproximadamente 500 quilômetros de hidrovia navegável.
O maior Barco a
Vapor que operou no Rio Itapecuru, como vimos, foi o “Gurupi”, com capacidade
de transportar 411 toneladas, correspondendo a aproximadamente à capacidade de
20 carretas a diesel, tendo comprimento de 156 pés, o equivalente a 47,5
metros.
Há, como
mencionado, registros de naufrágios de pelo menos três desses navios, mas
nenhum deles nas proximidades de Itapecuru Mirim, o que torna o achado ainda
mais importante e merecedor de todos os cuidados na recuperação dos destroços e
utensílios nele existentes. Outra hipótese é que os destroços não sejam
exatamente de um Barco a Vapor, mas de um dos Batelões que eram rebocados com
cargas, como se observa na foto ilustrativa.
O Rio Itapecuru,
com volume d’água capaz de permitir a navegação de um Barco a Vapor com
capacidade de transportar 20 carretas à diesel e engolir um desses barcos sem
deixar vestígios por mais de 160 anos, hoje apresenta dificuldades para a
navegação até de pequenas lanchas e deixa a mostra resquícios de suas vísceras
e daquilo que era capaz de engolir sem se engasgar quando era um rio saudável e
bravio.
Atualmente perdeu
a função de navegação, mas continua a matar a sede de mais de um terço da
população maranhense e tem como retribuição lixo e fezes empurrados goela
abaixo e, ainda, a indiferença das autoridades, principalmente da CAEMA, que se
abastece como um vampiro de seu sangue e não dispõe de nenhum programa de
revitalização da bacia hidrográfica do venho rio. Um crime inafiançável!
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