Por:
Mauro Rêgo
Da
sacada do apartamento do meu genro Alberto Drummond e de minha filha Celi Jane,
no bairro Renascença I, durante minha permanência em São Luís para tratamento
de saúde, acostumei-me a ficar durante quase meia hora, nos finais de tarde,
para contemplar a revoada de guarás que atravessavam os céus, num espetáculo de
beleza esfuziante com as cores vermelhas e brilhantes desses pássaros.
O
guará (Eudocimus rubber), é uma ave ciconiforme que é muito comum em áreas de
mangue. Tem a mesma compleição da garça, embora pertençam a famílias
diferentes. O guará alimenta-se principalmente de caranguejos e é de algumas
espécies desse crustáceo que adquire a cor vermelha.
Não
sei de onde eles surgem. Às vezes esses bandos somem no horizonte e, outras
vezes, dirigem-se aos manguezais próximos da embocadura do Rio Anil onde,
segundo dizem os moradores, procuram agasalhar-se para passar a noite.
Ao
contemplar esse espetáculo, o sonho me conduz à infância, em Anajatuba, em cujo
campo esses pássaros faziam os seus ninhos, disputando o espaço com garças,
jaçanãs, carões, marrecas e socós, riqueza de nosso campo e de nossa gente.
Aí,
os búfalos chegaram. Os criadores de gado ficaram entusiasmados, pois as fêmeas
pariam duas vezes por ano, eram animais rústicos e adquiriam peso com mais
facilidade. Mas esses búfalos acabaram com os ninhos das aves, dizimaram os
jurarás e revolveram açudes e igarapés, sendo que sua urina forte acabou com a
piscosidade dos nossos campos.
Fugiram
as aves que embelezavam a paisagem e, somente alguns anos depois, a população
revoltada começou a caçar esses animais como se fossem selvagens, arruinando
muitos criadores que se desfizeram do seu gado tradicional em busca de lucros
maiores. Foi uma matança generalizada que nem a polícia conseguiu conter e ia
até a prática de maldades. Muitas dessas reses eram encontradas agonizando com
varas atravessadas da cabeça até o rabo, numa crueldade impressionante.
Este
ano de 2015, quarenta anos depois do controle na criação de búfalos, as garças
e os guarás começaram a voltar timidamente e, ao ver essa revoada vermelha na
ilha de São Luís, faço o seguinte questionamento: o que se pode fazer para
atraí-los de novo aos nossos campos se até os manguezais estão sendo
devastados?
É
verdade que os búfalos agora só podem ser criados em confinamento, mas os
nossos moradores estão abusando do uso das chamadas “redes de engancho”, cujas
malhas fora dos padrões recomendados pelo IBAMA, espalhadas em quase toda a
dimensão do campo, dificultam até a passagem de nossas pequenas embarcações
durante o inverno, apanham os peixes miúdos que não têm valor comercial e que
são atirados mortos em toda parte. Queixam-se ainda os pescadores de que o
número elevado de canoas a motor que circulam no igarapé do Troitá, nosso
principal repositório de água, também está prejudicando a reprodução de nossos
peixes que também alimentavam nossas aves.
É
por isso que me emociona a revoada de guarás nos céus de São Luís e sonho que
um dia voltarão aos nossos campos e a majestade desse espetáculo faça com que
as novas gerações desfrutem melhor da magia criada por Deus.
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