Todo um sonho de amor e de beleza
houve sempre por bem enaltecer o valor deste filho um- Menestrel um doce sabiá
do enaltecer- a rima dessa Gleba a natureza, em versos magistrais- Hermes Rangel
Nascimento Araújo
Mariana
Luz, em seus Murmúrios dedicou um
poema ao ex-aluno e amigo Hermes Rangel. Tempos atrás, revendo as obras de Juvenal
Nascimento Araújo, me chamou a atenção um texto no livro, Castália Iluminada, onde o trovador itapecuruense homenageava os ilustres
conterrâneos entre os quais o “menestrel” Hermes Rangel.
A
partir de então iniciei uma busca ao citado poeta. Em
entrevista a antigos moradores, todos foram unânimes em afirmar que nunca
ouviram falar de tal poeta. Não desisti em razão de duas grandes expressões da
nossa cultura literária que enalteceram aquele cidadão, enfatizando a sua
condição de itapecuruense e o seu talento. Portanto achei de bom alvitre trazer a lume
informações sobre o ilustre conterrâneo, como mais um exemplo de destaque a
representar a nossa cultura em outras plagas.
Hermes Raymundo Rangel era filho do major Joaquim Alves Rangel e Rosélia Rangel. O major, que nasceu no Estado do Espírito Santo,
chegou ao Maranhão ainda jovem. Foi telegrafista de Itapecuru Mirim de 1889 até
1916. Possivelmente casou-se com uma
itapecuruense e dessa união nasceram seus filhos, entre eles o advogado, filósofo,
escritor, poeta escultor e desenhista Hermes Rangel e a professora e poetisa
Dinoca Rangel.
O telegrafista Joaquim Rangel foi bastante atuante na
sociedade local, integrou a Sociedade
Musical Beneficente de Amigos, responsável pela criação da Banda Despertadora,
e da Escola de Música do Município. Em
10 de maio de 1916, juntamente com o dentista Zadock
Pastor, a professora Zulmira Fonseca e o farmacêutico Rufino Coelho, fundou a
escola “Instituto Amor às Letras”,
projeto de iniciativa do padre João Teixeira.
Hermes Rangel, foi discípulo da professora
Mariana Luz até 1909, quando seus pais o encaminham à Capital, para a conclusão
do primário no Instituto São José, instituição religiosa regida pelo Monsenhor
Vicente Galvão. Também estudava desenho e escultura em escola de arte
demonstrando desde cedo vocação para escultura.
Em 1911 ingressou no Liceu Maranhense. Como liceista, aguardava com ansiedade as
férias, que passava em Itapecuru Mirim, onde organizava com amigos,
peças teatrais, saraus, e participava das famosas serenatas ao luar, tocadas de preferência debaixo de uma janela
como forma de declaração de amor a
uma donzela. Um dos estilos de paquera feitas por estudantes e seresteiros
apaixonados.
O livro Cronologia das Artes
Plásticas do Maranhão, de Luis de Melo (2004), faz o seguinte registro:
Tivemos ocasião de ver casualmente um pequeno busto do Barão do rio Branco, patrono
da nossa sociedade, executado em cal pelo nosso amigo Rangel. Este pequeno
trabalho sintetiza a extraordinária vocação que tem o seu inteligente autor
para tão encantadora trilha, a escultura. (O Canhoto, 27.7.1913).
Em 1913 concluiu os estudos no Liceu
e no início de 1914 o jovem viaja para o Rio de Janeiro, com a intenção de
matricular-se na Academia de Belas Artes, não conseguindo seu intento ingressou
no Externato Gabaglia, para o curso de Desenho e Escultura, enquanto se prepara
para prestar exames para o curso de Direito. Em outro registro do livro acima
citado:
Hermes Rangel, partindo brevemente par o Rio de Janeiro, encetar o seu
curso na Academia de Belas-Artes, esse nosso consorcio resolveu à priori,
passar alguns dias em Itapecuru, afim de despedir daquelas plagas longínquas.
(O Canhoto, 1º.2. 1914).
No inicio do ano de 1916 ele habilitou-se ao curso de Direito tornando-se
um estudante atuante e questionador, fazendo
parte dos movimentos da esquerda estudantis e
sobressaindo-se como orador dos acadêmicos em manifestações pela
melhoria do ensino, com propostas para solucionar problemas vitais para a
sociedade. Concluiu o curso com projeção, como orador e conferencista. Graduou-se
também em Filosofia em 1927.
ATUAÇÃO LITERÁRIA
No Rio de Janeiro, foi membro
titular da Sociedade Brasileira de Filosofia, onde era seu principal
conferencista sempre com temas ligados à educação. Um dos temas “O Problema da
Educação na Civilização Moderna” O seu patrono na Associação era o filósofo
Aristóteles.
Em 1933 lançou o livro, Poemas de Luz e Sombra, que segundo
a crítica eram poemas “bem comportados, sonetos bem medidos, estilo ás vezes
rigoroso às vezes ingênuo, não se deixando carregar pela torrente de modernismo
destes tempos em que o desleixo é a moda” (O
Malho, (RJ) 14.12.1933). Com tal obra concorreu ao concurso literário da Academia
Brasileira de Letras, em abril de 1934, na categoria poesia, tendo sido um dos
classificados.
Em julho de 1940 lançou O
Festim de Maqueronte, um drama teatral, muito bem aceito pela crítica,
(Diário Carioca, 2.3.1941)
Em 1942 do seu livro de máximas, “Ideias e
Reflexões”. Algumas máximas: - Quem devagar anda, atrás fica; - Quanto mais
ignorância no seio da sociedade tanto mais se celebrizam os genes, assim como
nas noites mais tenebrosas, mais brilham e fulguram os astros; - As paixões
políticas, quando não se transformam em patriotismo e dignidade, degeneram em
derrotismo e imprestabilidade. Ainda chegou a candidatar-se a uma cadeira da Academia Carioca de Letras, não
tendo sido eleito.
Hermes Rangel foi um dos fundadores do Centro Maranhense do
Rio de Janeiro, com endereço na Praça da República, instituição apoiava os maranhenses da Capital Federal.
Alguns dos seus poemas:
LONGE DE TI
Longe de ti, velejo mar afora,
Longa jornada, ríspida vencendo,
- Brota-me n’alma e dolorida enflora,
Louca saudade os sonhos desfazendo...
Terras e mares, tristuroso, embora,
Tudo percorro – lágrimas vertendo,
Levando ao peito o nosso amor outrora,
- Pérfida sombra a minha dor contendo!
Venço alimárias, vogas mil, sem termo,
E em vão me esforço e me debato em vão
Para remir o meu coração enfermo!
Tudo debalde! A mágoa me exaspera!
Quedo triste da minha maldição,
Juntamente ao pranto tão fatal
quimera...
RIO ITAPECURU
Eia!
Lá vai barco acima mansamente,
Singrando a água do rio,
E
veloz a corrente e embalde, o barco luta,
Num remar inclemente,
Prendendo
a sirga, às vezes, no paul bravio,
Ou as varas remando, à força bruta.
No
convés, em canções, os tripulantes dançam,
Na labuta infindável,
Dos
que trabalham sóis, a suar, dia e noite,
E nunca ali alcançam
Recompensa,
a não ser o suplicio implacável,
De sofrerem do tempo o rijo açoite.
No
silencio da noite, ou sob a luz do dia,
De manso corre o barco,
Não
há vento, nenhum; há mutismo e quebranto,
Há doce nostalgia
Desde
a grama rasteira à copa do pau d’arco
Enquanto esbulha o rio infindo pranto.
A
peleja não cessa, é bem longe a viagem!
Vão-se infindas semanas,
Através
dessa linfa amarelenta o boa,
Eia! Adiante! Coragem!
Mosquitos
e sezões nessas plagas profana,
Não te abafem, barqueiros, a ardente
loa!
Mas,
em vão e o labor em que te empenhas homem!
Talvez em meio a rota,
Do
itinerário ao meio e da meta distante...
As horas te consomem,
Nesse
barco, a vagar, por plaga triste e imota,
N’alma do poeta unindo a do
gigante...
Jornal Beira-Mar
12.02.1941)
IMENSIDADE
Mar
céu... Céu e mar... Nas ondas vejo,
Em
cada espelho de esmeralda pura,
A
realização do meu desejo,
- Ânsia desfeita por vernal ventura!
Do
meu destino, as sobras em cortejo,
Todas
contemplo –as, na maior doçura,
Estes
passam, cantando, num festejo;
Aquelas
choram do seu mal sem cura.
E
a espuma descreve a longa história
Do
meu passado garrido ou deserto,
Que
se foi numa renda transitória.
Mas,
consigo, de súbito, notar
Tanto
mais se me fogem céu e mar!...
Que,
se mais destas coisas me acha perto.
Rio
– 16.4.1942
A PEDRA
Sou
da umidade, a rígida grandeza,
Chamo-me
pedra.
Vivo,
assim, sem mágoa,
Embrutecida,
embora, o leve pingo d’agua,
Durmo
nos lagos, pela profundeza
Se,
colada, resisto à rubra fraga,
Domino
as amplidões a que sou presa,
Desde
o Everest ao pico do Aconcágua.
Sempre
vivi no meu silencio enorme,
Ora
pequena e só, desconhecida,
Ora
massa espectral, compacta e uniforme,
Jamais
saber puderam meus segredos,
Estes
que ocultos, em tudo a minha vida,
Nos
corações dormentes dos rochedos.
Rio,
9.3.1941
VISÃO DE BEATRIZ
Aos
meus rogos sutis, de amante apaixonado,
Como
um sonho, surgistes, eternamente bela;
Tinhas
o porte ideal, a encarnação daquela,
Que
vive em flóreo altar de templo iluminado...
Ungia-te
o semblante a doce luz singela,
Do
amor primaveral, em beijos decantados;
Eras
a crença eterna, anjo do céu sonhado,
Virgem
casta, em fervor, de lúcida capela!
Tenho-te
ainda, n’alma, em mística aparência!
No
conforto feliz do teu colo discreto,
Sorve
o gole letal de uma esquisita essência...
É
o veneno do gozo, em teu corpo fluindo,
Que
embebeda e seduz no mais silente afeto,
Como
um botão de rosa angelical abrindo.
Rio.
26.10.1940
Uma bela descoberta, Jucey, parabéns pelo seu empenho em descortinar momentos como este!
ResponderExcluirObrigada minha amiga
Excluir