Por:
João Carlos Pimentel Cantanhede
Helena
e Cláudio nos convidaram para passarmos um sábado em Guaribas, localidade que
fica no rumo de quem vai para Vargem Grande. A estrada de acesso para lá começa
bem ao lado do comércio do Zezinho, em Cigana. Não sou muito bom em distâncias,
mas acredito que da Cigana pra lá dê mais ou menos uma légua.
Era
o sábado, 5 de janeiro de 2013. Acordei cedo, arrumei todas coisas, e seguimos
viagem: eu, minha esposa Talita, meu filho Arthur (com dois anos de idade) e
Maria, uma moça que morava conosco e era namorada de meu irmão Zeca que
juntou-se a nós em Itapecuru, pois não ia perder uma chance dessas de estar ao
lado da sua amada. Mamãe, Antônia Pimentel, também foi conosco.
Guaribas
é um lugar idílico para mim pelas infinitas lembranças dos tempos de infância,
aquele descampado permeado com sambaíbas e caraíbas, e emoldurado por palmeirais
ao fundo. Bons tempos! Quando formava chuva e nós dizíamos: – Lá vem a chuva, o
palmeiral já está azul!
Eu
era uma criança tola, quando chovia, saía tentando encontrar algum pássaro com
as penas encharcadas pela água da chuva e sem poder voar...mas já chega de
sonhos, voltemos ao passeio em Guaribas. Foi um dia prazeroso, tomamos banho no
açude; Zeca pegou uma tarrafa e ficou pescando, mas acho que só pegou uns
filhotes de carambanja. Ele logo soltou porque se fosse comê-los não dava nem
para encher o buraco do dente furado.
À
tarde fomos visitar a tapera da nossa casa, o mato havia tomado conta de tudo.
Claudio teve a ideia de pegar um pouco de madeira seca para fazer uma fogueira
à noite, mas deixa que de dentro de um pedaço de pau saiu um rabo torto. Ah
siô, pra quê! Isso foi um banho de água fria, Talita queria porque queria
voltar pra Itapecuru no mesmo dia, pois ficou com medo que durante a noite um
bicho desses tentasse ferroar nosso filho, ou mesmo um de nós. Mas com muito
jeito, Helena conseguiu convencê-la, arranjando inclusive uma rede com
mosquiteiro para Arthur dormir protegido dos escorpiões.
À
noitinha, quando o sol já havia se escondido por trás do palmeiral e as
cigarras já tinham cantado, avistamos um carro se aproximando, era o Gol de
Galego, com ele vieram meu irmão Marcio e minha tia Nenzinha, ela veio para
dormir, trouxe um colchão de solteiro, mas ao saber da história do escorpião,
colocou seu colchão em cima de uma cama que lhe ofereceram; Marcio como tinha
vindo só buscar uma chave com mamãe, voltou com Galego para Itapecuru.
Vou
confessar uma coisa para vocês, o motivo principal da minha ida para Guaribas,
não foi por saudades ou coisa parecida, e sim porque eu havia ficado sabendo de
algumas histórias de alma aparecendo por lá. Eu sempre tive vontade que uma
alma me ensinasse o local onde o tesouro está enterrado.
Zequinha
filho de Dedé, havia sonhado com o nosso bisavô Honorato Cantanhede e ficara
sabendo que o ouro está enterrado no pé da cajazeira. Só que Zequinha, não sei
se por medo ou por euforia, logo na manhã seguinte, contou para a sua esposa, e
vocês sabem, quem recebe uma informação de alma, não pode contar pra ninguém!
O Antônio
José, que era caseiro da fazenda, e lá morava sozinho, certa noite viu uma luz
andando sobre as águas do açude, ele gritou pensando que era algum pescador,
como a luz permaneceu e ele não ouviu qualquer barulho de gente, deu dois
tiros, entrou em casa assombrado e começando a suar frio. Depois disso, teve
dois dias de febre.
Guaribas
sempre teve fama de lugar assombrado, meu irmão Antônio quando esteve por lá
construindo a casa da fazenda, costumava ver uma luz vagando pela estrada,
vinha até perto da casa e desaparecia.
A
noite já dominava tudo, mas eu queria me testar, peguei uma lanterna e fui
sozinho tomar banho no açude, mas na medida em que me afastava da casa o medo
tomava conta de mim, mas não deixei que ele me vencesse, segui firme. Chegando
ao açude, foquei a lanterna para todos os lados, como não vi nada, resolvi
tomar meu banho. Por precaução, não tomei banho dentro do açude. Enchi um balde
e tomei o banho no paredão do açude o mais rápido que pude e voltei para casa.
Cláudio
fez a fogueira, sentamos à porta por longo tempo. Na hora de dormir Zeca
resolveu armar sua rede na varanda, Maria logo trouxe a dela, mas deixa que
mamãe frustrou o plano dos pombinhos e exigiu que Maria fosse dormir em um dos
quartos. Pobre Zeca, perdeu a companhia de sua namorada e, provavelmente, mais
tarde seria assombrado por alguma alma.
Ficamos
assim distribuídos pela casa: Zeca em uma rede na varanda; Antônio José em
outra rede na sala; Claudio e Helena em uma cama, mamãe em outra e Maria na
rede ocuparam um quarto; no outro quarto ficamos eu e Talita em uma cama, tia
Nenzinha na outra e Arthur na rede com mosquiteiro para se proteger do rabo
torto e também das muriçocas.
Era
por volta de meia noite quando eu acordei e, assustado, percebi que a rede de
Arthur estava balançando, ou melhor, estava sendo balançada. – Será que é
alma?! – pensei. Criei um pouco de coragem, peguei meu celular e foquei em
direção aos punhos da rede...e para minha surpresa quem estava balançando a
rede era a minha tia Nenzinha que disse estar sem sono e ficou acalentando
Arthur que parecia desconfortável na rede com mosquiteiro.
Muito bom o relato do passeio em Guaribas, me recordei do tempo de infância, ouvindo histórias contadas por minha avô Neném.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns, que história instigante, deu vontade de ler mais e mais. Muito bom!
ResponderExcluir[...] de repente estava tão envolvido com a história e pedia em pensamentos para que ela não tivesse final, pois a cada caractere, palavras e frases lidas, ia me identificando com os personagens e as lembranças de ÉPOCAS MEMORÁVEIS [...].
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
A riqueza de detalhes torna o conto empolgante, inesquecível, sobretudo porque nos remete, digo aqueles que tiveram experiencias de vida em Guaribas, as nossas memórias.
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