domingo, 14 de junho de 2020

O BONDE: UMA SAUDADE

      *Roberto Franklin
Enquanto aguardava a hora da minha esposa ser atendida, na emergência do Hospital UDI, comecei assim como tantos que estavam à espera do atendimento a verificar as postagens no Face e do WhatsApp, quando me deparei com algumas fotografias da década de  sessenta  da nossa amada São Luís, dentre outras a que me chamou mais a tenção e levou-me a recordações de uma época da minha adolescência mostrava na praça Deodoro a imagem do nosso saudoso bonde, que em nome de uma falsa evolução dos tempos foi retirado de nossas rua pelo então prefeito Epitácio Cafeteira em 1966.
Antes de descrever as emoções e lembranças de uma época para mim maravilhosa descreverei um pouco da história do bonde em São Luís. Fazendo uma pesquisa a respeito do assunto encontrei uma matéria no Jornal O Imparcial intitulada “ A história dos saudosos bondes de São Luís” escrita por  Samartony Martins, nela o repórter afirma que por volta de 1872 São Luís assim como as grandes cidades históricas do mundo inaugurava seu sistema de transportes por meio de bondes movida à tração animal, sendo a primeira rota seria da praça Pedro II, com isso nossa cidade teria sua primeira ferrovia inaugurada e uma das primeiras do Brasil. Depois foram criadas as linhas do Largo dos Remédios, Rua Grande e a terceira ia do Largo do Palácio ao Cemitério do Gavião, a última linha seria uma de 11 quilômetros que ia da Rua Grande até o final do Cutim no Anil , esta inaugurada por volta de 1873.
Pois bem após breve história a respeito do nosso saudoso bonde, afirmamos que muitos Ludovicense até hoje sentem saudades desse meio de transporte, sua retirada foi uma dura atitude da prefeitura que a pretexto da evolução dos transportes acabou do o serviço como já afirmamos em 1966.
As lembranças são muitas, pensar que poderíamos pegar o bonde no centro de São Luís e percorrer vários bairros centrais seria uma verdadeira viagem ao passado, passar pela Rua de São João próximo a igreja do mesmos nome passando pela igreja de Santo Antonio até a estação ferroviária percorrer toda a Beira-Mar vendo e sentindo a brisa que nos agraciava a baia de São Marcos era apreciável, poderíamos também pegar o bonde que ia para a praça Gonçalves Dias parando em frente a Igreja dos Remédios, esta linha tinha uma característica que ao pararmos o motorneiro  mudava a direção da lança então o que era a frente se tornava a traseira do bonde e assim como a traseira de tornava a frente, pois não havia trilho para contornar e voltar.
Sonho meu e de muitos da época era andar de bonde no estribo que nada mais era que uma espécie de degrau que ajudava as pessoas a subir, assim como em caso do bonde estar cheio de ir em pé, isso dava uma ar de ser adulto, lembro-me também de outra característica que jamais poderia ser encontrada nos dias violentos de hoje o sistema de cobrança da passagem era realizada pelo cobrador devidamente fardado com sua roupa  caqui e um quepe, portava uma  bolsa de couro transpassada no peito e na mão um punhado de dinheiro devidamente arrumado entre os dedos e na outra mão as moedas que eram balançadas avisando a hora de pagar a passagem. Alguns jovens desprovidos do dinheiro da passagem eram obrigados a driblar o cobrador, ou seja, se ele vinha pela a esquerda então eles atravessavam e se pendurava no estribo da direita se ele vinha pela frente eles saltavam do bonde e o pegavam atrás.
Uma outra lembrança que ainda guardo era na época de Julho quando das nossas férias além de muitas atividades de lazer empinávamos papagaios e para lancear, que seria uma espécie de luta em pleno ar nós teríamos de moer vidros até virar pó e misturar com uma goma caseira a essa mistura chamava-se de cerol e afirmavam os mais adeptos que o melhor cerol era feito com o vidro azul do Leite de Magnésio Phillips, assim para não ficarmos socando o vidro que era muito duro e grosso por horas  colocávamos pedaços de vidro sobre o trilho do bonde, que quando não era visto pelos motorneiros passavam por cima transformando-os em pó, e assim ficava mais rápido a mistura. Tenho ainda muitas lembranças de uma época que vivi e que tenho saudades.
O inconformismo da retira dos bondes pela alegação de um suposto desenvolvimento da nossa cidade, faz-me lembrar que outras cidades da Europa e dos Estados Unidos ainda hoje dispõe deste sistema de transporte, então não justifica o que em 1966 argumentara a Prefeitura de São Luís. 
Assim segue a saudade de uma época que encontro em minhas lembranças e nas fotografias.



* Roberto Franklin Falcão da Costa, cirurgião dentista, escritor e poeta, membro efetivo da Academia Ludovicense de Letras – ALL, membro da  AMCL e  Acadêmico correspondente da  ALTA.


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